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sábado, 10 de agosto de 2019
Saint Spirit
1994, Belford Roxo, RJ, Brasil. Cidade famosa da Baixada Fluminense por sua extrema pobreza e ser um dos berços do chamado funk carioca. Em meio a um universo tão desfavorável, nascia uma das melhores bandas de thrash metal cristã de todos os tempos. Fundada e liderada até os dias de hoje pelo incansável Rodrigo Bizoro (bateria e vocais principais - isso mesmo que você leu!), a banda em sua primeira fase chegou a gravar uma demo chamada Satanophobia em 1996, mas nunca a lançou e em 1998 encerrou as atividades, porém em 2001 botaram o carro de volta na estrada e foi a partir daí que começaram a lançar discos. Uma particularidade da banda são as letras, verdadeiras críticas ácidas ao modo de vida hipócrita e cego de muitos ditos cristãos, com um chamado para acordarmos e não nos levarmos pela vida fácil que o sistema cultural pseudocristão que vivemos nos permite viver no Brasil - em especial com alguns ditos "políticos cristãos" no poder que só aplicam da fé cristã o que lhes interessa e não o que realmente é certo, mantendo mais e mais o país no ciclo de injustiça social para sustentar empresários, mercenários e falsos pastores. E como esse som combina bem com o som thrash/death metal da banda (e mais recentemente com pitadas de djent e metalcore). Embora a postura política mais à esquerda de Bizoro seja por muitas vezes questionada por certos cristãos que querem "cagar regra" de politicagem à direita, isso em nada desabona sua fé, muito pelo contrário, Deus sempre usa esses para dar uma bela porrada na chamada "igreja cristã brasileira" quando esta fica "adormecida na luz" vendo todos sendo consumidos pelas trevas.
Against Saints and Sinners (2003)
01 - In Memorian Mei
02 - Who is Against?
03 - Humans Like Me
04 - Desafio
05 - If they let me talk (sarcoma)
06 - Uma Chance a Paz
07 - Eu Sou Deus
08 - O conto do prego e do martelo (cachaça)
09 - Satanicphobia
10 - Jesus Chorou
11 - Power Hungry
12 - O Anticristo
13 - Sakitel
14 - O caminho das agulhas
15 - Double Click
Uma das capas mais misteriosas da história do rock e metal cristão (parece uma foto dos anos 1990 de uma geladeira marronzona com aqueles famosos pinguins de porcelana na casa da avó da gente), ASAS é um disco bruto, com uma pegada em alguns momentos até grindcore. Uma produção e brutalidade fora de série. As letras relatam desde passagens e mensagens evangelísticas e mostrando o poder de Deus, como também músicas bem críticas, como "O Caminho das Agulhas" (contra aqueles que acreditam que a salvação está em seguir dogmas e doutrinas eclesiásticas), "Satanicphobia" (contra os que supervalorizam os atos do diabo e agem de maneira supersticiosa), "Uma Chance a Paz" (mostrando que ao destruir a criação - a natureza e a humanidade - estamos guerreando contra Deus), "If They Let me Talk" (contra os abusos psicóticos do neopentecostalismo) e "Humans Like Me" (contra os que curtem apontar defeitos e erros, mas não enxergam os próprios). A mistura de letras em inglês e em português não fica muito clara ao longo do disco, mas é muito legal também ver que a banda manda bem nos dois idiomas. "O conto do prego e do martelo" é uma homenagem óbvia a um corinho antigo da música cristã (quando eu era prego o diabo me bateu, agora sou martelo, quem bate nele sou eu!).
The Ways of Faith (2005)
01 - Intro
02 - Bulldog
03 - We Still Against
04 - Faith
05 - Worship Me
06 - Antropological Blues
07 - Hands Up
08 - Confessions
09 - I Cry for Live
10 - Losing my Religion
"SÓ JESUS EXPULSA O DEMÔNIO DAS PESSOAS!" Tirando essa faixa mais rápida de abertura do disco, ele é um petardo em inglês tão ou mais brutal que o antecessor. As letras continuam envenenadas, com desde canções mais voltadas diretamente à adoração a Deus, como "Worship Me" e "Hands Up", até letras ácidas como a "We Still Against" (continuação direta de "Who Is Against?" do disco anterior) e "Losing my Religion", que termina com um looping curioso de um pregador de rua chamado "Profeta de Nova Iguaçu" cantarolando "JESUS CRISTO VOLTARÁ VOLTARÁ!" (João Raimundo Soares de Mello, amigo do também saudoso Profeta Gentileza, foi um pregador de rua bem diferentão que usava seu Fiat 147 e uma roupa toda riscada de "Jesus Cristo Voltará", deixou essa existência em 11 de junho de 2011) O vocal de Bizoro aqui assume feições mais próximas ao groove metal do Pantera, do Living Sacrifice a partir do Reborn ou do Mortification de 1994 pra frente, uma característica que tornar-se-ia a assinatura da banda, que entretanto nunca abandonou os guturais característicos do death metal - embora no caso deles remetessem mais ao de bandas clássicas do gênero como Death e Possessed.
"O que você está procurando, o que você está dando ouvidos?"
Reprise (EP, 2007)
01 - Prophets of Idiocy (Deliverance cover)
02 - At War with War (Mortification cover)
03 - Creature Betrayal (Necromanicider cover)
04 - Jesus Freak (dc Talk cover)
05 - Reborn Empowered (Living Sacrifice cover)
06 - Hell No (Bride cover)
Discos cover são fantásticos. E esse aqui é simplesmente incrível. Uma verdadeira homenagem à bandas de rock e metal cristã, com releituras iradíssimas pra canções do Deliverance, Necromanicider, dc Talk e Bride no estilo característico do SS que combinou bem demais até mesmo pro grunge de Jesus Freak (no caso de Mortification e Living Sacrifice - duas óbvias inspirações da banda - não se poderia esperar nada além do melhor, que eles conseguiram!) O EP é uma homenagem também ao pessoal do Necromanicider, do Sentido Oposto e do Blasterror, que naquele ano perderam membros da banda num acidente de carro.
"At War With War" ainda pega um pedacinho de "Time Crusaders" no solo, o que deixou a música ainda mais animal nessa versão.
Vanitas Vanitatum (2011)
01 - Intro/Prostitute
02 - Et Omnia Vanitas
03 - In Your Image, in Your Likeness
04 - Deep Inside Us
05 - My Favorite Lucifer
06 - Persistence of Violence
07 - Goodbye Romance
08 - Pentecostal Disaster
09 - Stupid Holy Nation
10 - The Unknown God
Pancadaria sem dó nem piedade, "Vaidade de Vaidades" é uma verdadeira genialidade lírica e um trabalho muito bem produzido. A maioria das músicas ficaram bem maiores e com ótimos arranjos. Liricamente eles seguem já na faixa de abertura distribuindo socos bem encaixados no queixo da hipocrisia pseudocristã que impera no mundo - em especial no Brasil. "Prostitute" ataca as mentiras que a séculos dominam a igreja, "In Your Image..." ataca a ambição assassina que já devora os ditos cristãos, Deep Inside Us fala da guerra interior que TODOS cristãos passam sem exceção contra o velho homem, "My Favorite Lucifer" é uma das minhas prediletas, "Pentecostal Disaster" é uma crítica sem papas na língua aos impérios neopentecostais espalhados no Brasil e no mundo, com suas heresias malditas que visam sugar o dinheiro dos incautos. "Stupid Holy Nation" bate de frente com a fantasia sionista que até os "cristãos" brasileiros têm aderido, uma farsa imperialista que só espalha, sangue, ódio e destruição naquela que outrora foi a Terra Santa, Israel. Um discurso corajoso, que com certeza não encontra muitos seguidores entre os chamados "cristãos" brasileiros...
Curiosidade: O final de The Unknown God é o mesmo final da faixa "Epic" da genialíssima banda de metal alternativo e funk'o'metal secular Faith No More.
Mea Culpa (2015)
01 - Arbalest (intro)
02 - Solitude Collective's Train
03 - Release the Kraken
04 - Pregnant Women
05 - City of Roses
06 - Iceberg
07 - Volt
08 - Mea Maxima Culpa
09 - Tortura
10 - Hellyard
11 - Nameless
12 - Bonsai
13 - Roger That
14 - Indestructible
No final de 2013 a banda anunciava através do single virtual "Nameless" o seu próximo trabalho, "Mea Culpa", um trabalho conceitual baseado na triste história real do Hospital Colônia em Barbacena, Minas Gerais - um dos sete que funcionaram nessa cidade à época. Esse fora um hospital psiquiátrico fundado em 1903 e que funcionou por várias décadas, e se no princípio era uma instituição de 200 leitos dedicada a cuidar das pessoas com déficit intelectual, em 1961 já contava com mais de 5 mil internos, a maioria bem distante de possuírem transtornos mentais, eram apenas pessoas "odiadas pela sociedade", como homoafetivos, prostitutas, mendigos, indígenas, pessoas sem documentação, filhas que engravidavam sem estarem casadas, inimigos políticos - processo que se intensificou durante a maldita ditadura militar de 1964-1985 -, dentre outros. O hospital tornou-se símbolo do maior democídio da história do Brasil, que muitos chamaram de "Holocausto Brasileiro", associando o local aos campos de concentração nazistas que existiram entre as décadas de 1930 e 1940 pela Europa dominada pelos porcos seguidores do nazismo (que sinceramente eu não dou a mínima se são de direita ou esquerda, pra mim são miseráveis que pagarão caro no juízo final por todas as vidas que destruíram!). Aproximadamente durante os anos de funcionamento do hospital estima-se 60 mil vidas perdidas lá, uma quantidade absurda, em sua maioria tudo, menos pacientes de verdade, apenas prisioneiros de regimes políticos diabólicos e de uma sociedade doente que se diz cristã católica, santa e pura, mas passa muito longe disso, sendo apenas filhos do engano que suja o nome do Cristianismo a séculos.
Com uma base histórica tão pesada assim, é sem dúvidas uma temática perfeita pra esse disco, um dos melhores discos conceituais da história de uma banda formada por cristãos, juntamente com o "Paralelo XI" da Legacy of Kain, e ajudando a mostrar que heavy metal combina SIM com nossa nação. "Release the Kraken" traz a sonoridade assustadora com um apito de trem ao fundo que remete diretamente ao terrível "Trem de Doido", nome dado aos trens que levavam os futuros internos do hospital para seu terrível destino. O disco em si gira em torno de uma moça que foi mandada pra esse inferno na terra por ter engravidado sem ser casada pelos próprios pais, e sua sensação de terror ao perceber que iria ter de dar a luz sua criança ali em meio a todo aquele terror. Em sonoridade o disco é absurdamente animal, recebendo além das influências clássicas do thrash, groove e death metal clássicas da banda, umas pitadas geniais de metalcore e djent, uma modernização muito bem vinda e que acresceu brutalidade e qualidade no trampo.
Nesse disco eu vejo meio que a representação da loucura que a nossa sociedade tem se enfiado, dia após dia. Um terror tão absurdo que parece que todos nós não estamos na City of Roses e sim na "Cidade dos Loucos". Será que há saída? Será que seremos mais um dos "nameless" nesse mundo de corpos sem vida ambulantes ou conseguiremos destruir a fortaleza e gritar "LIBERDADE"?
OBS: O disco contou com a participação de Daniel Monteiro (banda Folhas de Outono), Frank Lima e cantando a faixa "Tortura", o genial vocal do Bruno Max (Puritan, Trino), que deixou o som muito brutal mesmo, sem dúvidas uma das, senão a melhor surpresa do disco.
Aguardando o próximo disco, certamente virá tão irado quanto sempre foram os discos da banda até hoje.
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