Demorou, mas enfim, eis o review da maior banda de metal cristã nacional sem sombra de dúvidas: Antidemon. Comparativamente, em nível de alcance internacional e impacto, o Antidemon é o "Sepultura cristão", haja vista ter chegado em diversos públicos, tocado em quase toda a América Latina, diversos países da Europa e nos EUA, e obviamente já tendo tocado em quase todos os estados do Brasil.
Surgida em 1994, a banda nasceu de um sonho curioso: Antônio Carlos Batista do Nascimento (baixo e vocais), à época numa igreja tradicional, recebeu sonhos com sonoridade de metal extremo, riffs de guitarras, etc, coisas as quais, segundo ele, jamais havia tido contato, conhecendo apenas rock e punk. Pouco depois, ao visitar a Galeria do Rock, Batista enfim descobriu o que seriam tais riffs dos sonhos, e assim foi conhecer o Christian Metal Force, à época sob a liderança de Cláudio Tiberius (Devil Crusher/Berith e outros projetos) e já plenamente estabelecido como um ministério da Renascer em Cristo. Com a ajuda da galera mais antiga, veio a banda, que originalmente se chamaria Antídoto, mas na hora de fazer a arte da camisa, Batista colocou um "E" no lugar do primeiro "O" de Antídoto. Invés de destruir a camisa e refazer a arte, acabou vindo a ideia de mudar o nome pra ANTIDEMON, nome que todos nós sabemos bem o significado: combate aos demônios. Isso ficou claro nas artes de capas, artes de camisas e promos da banda, além das letras, que acabaram criando uma tendência até meio chatinha de "músicas antidemônio" (algo parecido que rolou com a australiana Horde). Originalmente os equipamentos da banda eram bem precários, Batista chegou a ensaiar por um tempo usando um cano de PVC como microfone (!) e a primeira baterista, Elke, com latões e outras coisas que dava pra bater. Já ouvi até que a primeira demo foi toda gravada com equipamentos assim (!), com uma sonoridade mais grindcore e uma formação bem maior que a atual, com os guitarristas Sergio Kersey Gonçalves e Alexandre Ferreira e o baixista Alexandre Ceborotov, que saíram ainda em 1994, e o guitarra Kléber Gonçalves, advindo da DevilCrusher, e que ficaria até 2005 na banda. Musicalmente eram mais grindcore, mas foram lentamente indo mais para o death metal.
Gradualmente a banda foi conquistando espaço, participando de shows com diversas bandas (cristãs ou não), da coletânea O Refúgio do Rock, dentre outros. Batista já era pastor e líder do CMF na segunda metade dos anos 1990 quando chegou a ser espancado por membros dos Carecas do ABC (grupo bonehead - vertente nazista dos skinheads, pois é, a maioria dos skins não são nazistas, amigo! - de SP) e fora ameaçado de morte por uma anarcopunk que acabou ao chegar numa reunião do CMF se convertendo ao Evangelho, mostrando que o trabalho de Batista e cia realmente era muito impactante e guiado pelo Espírito Santo, a despeito do som brutal e pesado, além de incomodar muito o reino das trevas. Após dois grandes festivais do CMF, devido reformulações que rolariam na Renascer, o projeto seria parado (posteriormente voltou à ativa). Batista e o Antidemon saíram do ministério e ainda estavam só nos ensaios e esperando a direção divina de onde ir, e acabaram, ao perceber que muitos dos discípulos dele estavam "sem casa", montando a Comunidade Zadoque, primeiro grande ministério underground do Brasil, que chegou a ter filiais por vários estados do Brasil. Em 1999 sairia enfim o primeiro full, "Demonocídio", com sua capa impactante que me deu medo quando conheci a banda de primeira (kkkkkkkkkk). Em 2005, houve uma reformulação na banda e na igreja: o nome Comunidade Zadoque não pôde mais ser usado por questões legais e Batista decidiu seguir em frente com um novo nome: Crash Church. Tempos depois casou novamente, com Juliana Batista, que assumiu as baquetas da banda. Desde 2016 a banda passou a ser apenas eles dois, e os guitarras passaram a ser uma equipe que toca com eles ao vivo ou em discos. E até hoje a banda segue fazendo shows pelo Brasil e pelo mundo todo, levando sua mensagem pesada e forte a todos, sendo uma das bandas que segue inclusive, não importando onde estejam fazendo show, a parar o show para cultuar a Deus, pregar uma mensagem, fazer apelo, até mesmo em locais onde pregar o Evangelho é proibido.
Demo (1994) Guerra ao Inferno/Carniça Guerra ao Inferno aparece também na coletânea O Refúgio do Rock mostrando seu lado mais grindcore, vocais pig squeal daqueles! |
Confinamento Eterno (demo K7, 1997)
01 - Confinamento
02 - Libertação
03 - Açoite
04 - Massacre
05 - Terminada Maldição
06 - Apodrecida
Finalmente tendo contato com esse material graças ao Bandcamp da Vision of God (a demo é faixa-bônus na versão digital do Satanichaos em 2018 - obrigado pela dica Márllon Matos). Obviamente com uma qualidade muito mais suja de gravação, é muito bom ouvir as versões originais de clássicos como "Confinamento", "Apodrecida" e "Massacre". Algumas faixas parecem até mais brutais do que o que viriam a dar as caras no álbum Demonocídio (acredito que o lado de ser uma produção mais bruta do que a apuração de um full-lenght, uma demo de death/grind sempre acaba mais cavernosa do que a versão definitiva). Os vocais de "Massacre" por exemplo estão duplicados no gutural, algo que seria interessante se tivesse sido mantido. Os arranjos de bateria também parecem bem mais vívidos - os ataques no caixa da versão final as vezes soam meio "latão" do que bateria propriamente dita, desculpa kkkk -. Até o grind "Terminada Maldição" parece mais cavernoso - e até maior kkkk -, mas em nível de cavernoso, nada supera os vocais de "Apodrecida" demo. Um petardo fantástico.
Uma curiosidade é a capa, que salvo engano vem de uma HQ (só num sei qual agora),
também já foi usada anteriormente por uma banda secular que não me recordo também o nome (quem souber me repassa ae que eu credito aqui).
Demonocídio (1999)
01 - Intro
02 - Demonocídio
03 - Suicídio
04 - Usuário
05 - Carniça
06 - Açoite
07 - Libertação I
08 - Causas Alcoólicas
09 - Profundo Abismo
10 - Massacre
11 - Holocausto
12 - Ida Sem Volta
13 - Apodrecida
14 - Escravo do Diabo
15 - Guerra ao Inferno
16 - Protesto A.M.N. (Ave Maria Não)
17 - Mundo Cão
18 - Terminada Maldição
19 - Cadáver
20 - Salário do Pecado
21 - Cadeias Infernais
22 - Droga
23 - Inferno
24 - Demônios Inativos
25 - Viagem
26 - Libertação II
27 - Confinamento Eterno
Clássico eterno do metal cristão brasileiro, Demonocídio as vezes é criticado por alguns por não ter "tanta qualidade sonora", algo que eu acho uma crítica no mínimo parcial. Musicalmente esse disco funde bem elementos de death metal, punk e grindcore (aliás, esse último está bem presente nas minúsculas "AMN", "Ida sem Volta", "Terminada Maldição" e as duas "Libertação", essas duas inclusive viraram o "God Rulz" do Antidemon. As letras são realmente uma batalha antidemoníaca em sua maioria, mostrando o terror que eles causam, como "Mundo Cão", "Holocausto", "Suicídio", "Confinamento", "Massacre", "Guerra ao Inferno", entre outras. A batalha contra as drogas também se apresenta em "Usuário", "Droga", "Causas Alcoólicas" e "Viagem". "Massacre", com sua maior parte de vocais mais hardcore, virou um hino, bem como as duas anti-mariólatras "A.M.N." e "Apodrecida" (que causam polêmica até hoje em círculos católicos romanos). As artes da capa, em sua maioria pinturas do Batista, são fantásticas, sempre ilustrando os demônios em situações como o Baphomet da capa (atados e sendo aniquilados), algo que inspiraria com certeza capas e artistas como Beheaded Demons, Impaled Baphomet, Overdeath, dentre outras (além de uma imagem de Apodrecida, e duas fotos colocadas em mesma folha, de "Aparecida" e de um "Baphomet" com X, meio que comparando as duas entidades.
"Na ilustração (DA CAPA) aparece uma entidade maligna representando “Baphomet” acorrentado, flagelado e totalmente destruído por armas que representam a soberania de Deus. Não é uma imagem para atacar a satanistas, e sim para demonstrar a realidade do que acontece quando o Deus criador do céu e da Terra, investe contra Satanás e seus demônios.
Os crânios na parte inferior do quadro, representam outras malignidades que foram totalmente vencidas pelo poder de Deus: “Porque as armas da nossa milícia não são carnais, mas sim poderosas em Deus para destruição das fortalezas.” (II Coríntios 10:4)" Fonte: antidemonarts.blogspot.com
"Pintado em acrílica em 1998, e utilizado no encarte do álbum DEMONOCÍDIO, lançado em 1999. A pintura também foi feita para ilustrar uma das músicas da banda, APODRECIDA, que fala sobre o segundo mandamento da Lei de Deus, para não se cultuar imagens de escultura, cuja desobediência acarreta em maldição até a quarta geração de quem a pratica, e garante misericórdia de Deus até 1.000 gerações vindouras para quem obedece a esse mandamento.
Na pintura se expõe a verdade sobre a suposta padroeira do Brasil, no sentido de que ela não é uma divindade, e sim a representação de um principado de Satanás, e está podre por seu engano e suas obras." Fonte: antidemonarts.blogspot.com
O encarte conta com as letras em português com referências bíblicas e também essas letras em inglês. Em 2017 foi relançado pela Vision of God junto com o segundo e o terceiro disco, com algumas mudanças sutis pra versão original.
Curiosidade mórbida: Nos agradecimentos, além da sessão básica de agradecimentos às bandas que eles tocaram junto (com a falta gritante da DevilCrusher/Berith!), tem uma parte onde eles alertam aos demônios que estão impedidos de agir: Lúcifer (que não é realmente o nome do diabo, mas já se popularizou a anos né), Satan (não são o mesmo?), Belzebu, Moloque, Astaroth, Lilith (advinda das crendices da cabala judaica), Asmodeu (presente só no apócrito de Tobias), Beliau (que é uma variação de Belzebu), Mesphistofeles (ops, esse é da fantasia, né? Só aparece em escritos da Idade Média igual aos Incubus e Sucubus...), Leviathan, Belphegor (tal qual Quemós e Moloque, era uma divindade moabita/amonita) e Devilock (que eu me lembro ser só o penteado do Jerry Only da secular Misfits kkkk). Espero que o Batista tenha estudado melhor demonologia nesses 20 anos já, já que alguns aí ou são redundantes ou nem existem kkkk.
(Em 2001 saiu a primeira de muitas splits do Antidemon, a "Barad" com a bizarra Zen Garden. Um dia eu falo dessa kkkk)
Anillo de Fuego (2003)
01 - Anillo de Fuego (introducion)
02 - Insanos Condenados
03 - Velas Negras
04 - Escoria
05 - Perros del Inferno
06 - Bichos Asesinos
07 - Viaje
08 - Apodrelupe
Depois de uma longa intro, "Anel de Fogo", o curto álbum em espanhol do Antidemon gravado no México, finalmente é mostrado para nós. E é um disco muito bom, já mostra uma banda em franca evolução sonora, apesar de a produção ter saído bem abafada. As versões para "Viagem" e "Apodrecida" (nessa chamada de Apodrelupe em referência à "nossa senhora" da Guadalupe, "padroeira" do México tal qual a Aparecida seria aqui no Brasil) ficaram muito boas, isso sem falar no peso ensandecido (desculpa o trocadilho) de "Insanos Condenados", até hoje presente nas setlists da banda. A capa ilustra o anel de fogo como a proteção divina contra os demônios que estão em derredor de nosso mundo.
Em 2017 foi relançado pela Vision of God com o nome "Ring of Fire" e mudanças sutis na capa e fotos.
(entre 2004 e 2006 saíram duas splits: "Documento do Horror/Causas Alcoólicas" com a secular New York Against the Belzebu e uma com a cristã Empty Grave em 2006, além do split DVD Extreme Fest com Margorium, Neversatan e Escarna. Houve outras participações ao longo da carreira em coletâneas e shows).
Live in Palencia - Spain (live K7, 2004) |
Live in Ecuador, Colombia, Peru & Brazil (DVD, 2009) |
Satanichaos (2009)
01 - Satanichaos
02 - Contra o Inferno
03 - O Que Era Ruim Ficou Pior
04 - Satã Derrotado
05 - Justiça
06 - Abismo Chama Abismo
07 - Maldito Lúcifer
08 - Assombro
09 - Massacrados pela Mentira
10 - Ataque Satanás
11 - Pelo Sangue
12 - Em Quem Vou Acreditar?
13 - Mestre das Ilusões
14 - Dia da Vingança
15 - Veredicto
16 - Denúncia
17 - Transtornar
18 - Pesadelo
19 - Está Consumado
Depois de muitos anos e de reformulações (a banda chegou a ter as baquetas de Wandergraf, única vez que a banda só contou com homens na formação), Juliana entra pra compor a formação, juntamente com o guitarrista Maurício Cebalho (Undergust). Fazendo um death metal mais direto e clássico, esse disco mantém o vocal cavernoso e inhale (técnica de gutural "pra dentro", mais comum em bandas de brutal death metal) de Batista. Várias músicas mantém a temática de guerra ao diabo (Ataque Satanás, Maldito Lúcifer, Dia da Vingança, Contra o Inferno, Mestre das Ilusões), outras falam sobre as más escolhas dessa vida humana sem Deus (O que era ruim ficou pior, em quem vou acreditar?) e uma é um recado aos que acreditam que o diabo é pai do rock ou do metal, "Massacrados pela Mentira", mostrando que só o Soberano Criador é dono e pai de tudo e de todas as coisas. A variedade de temáticas começa a se mostrar em "Pelo Sangue", que fala acerca da libertação no sangue de Cristo, um bom sinal de evolução lírica da banda.
Anel de Demonichaos Live (2009)
01 - Intro
02 - Insanos Condenados
03 - O que era ruim ficou pior
04 - Mensagem 1
05 - Contra o Inferno
06 - Denúncia
07 - Mensagem 2
08 - Suicídio
09 - Em quem vou acreditar?
10 - Satã Derrotado
11 - Massacre
12 - Mensagem 3
13 - Abismo chama abismo
14 - Massacrados pela mentira
15 - Mensagem 4
16 - Maldito lúcifer
17 - Assombro
18 - Mensagem 5
19 - Viagem/Viaje
20 - Mensagem 6
21 - Mestre das ilusões
Gravado em 21/08/2009 em Kandern, Alemanha, foi lançado pelo saudoso selo Vomit Bucket de Gag (Vomitous Discharge, Cured Leper/Pesticides, Splattered Nachos e outras), sendo um baita lançamento ao vivo que resumiu um bocado (mas bem pouco, haja vista a enorme produção musical da banda até então) do que foi os três discos de estúdio, embora com mais ênfase no disco Satanichaos. O nome do disco faz referência aos três discos de estúdio. As mensagens mostram como sempre o compromisso de Batista de onde estiver falar no nome do Senhor.
(Em 2010 o Antidemon participou do DVD Split Underblood Fest V e do disco split Nordeste Tour, esse último com as baianas Amnistia e Dynamus)
Apocalipsenow (2012)
01 - Apocalipsenow
02 - Infernal
03 - Welcome to Death
04 - Vírus
05 - Domínio
06 - Fuera Diabo
07 - Não Tardará
08 - Rei da Glória
09 - Abominação
10 - Possuídos
11 - Lamento
Profissionalismo é pouco pra definir esse fantástico disco lançado pela australiana Rowe Productions (sim, a gravadora do Steve Rowe do Mortification). Evolução sonora visível, além de duas faixas em inglês (finalmente!), uma delas virando um fantástico videoclipe, "Welcome to Death" (que chegou a ser acusada de plágio por uns ignorantes aí referente à música "The Will to Petency" da secular Krisiun - aqui mostra uma matéria desmistificando esse caso), além de uma em espanhol, "Fuera Diabo". Letras como "Domínio", "Não Tardará" e "Rei da Glória" mostram que o Antidemon também faz músicas em louvor direto ao Senhor, na linha de muitas fantásticas letras do Mortification por exemplo. Uma das melhores produções do death metal nacional, sem sombra de dúvidas.
The Mission (DVD, 2013) |
Tormenterror - Live from Santiago, Chile (DVD, 2017) |
No aguardo pelo já em produção quinto disco de estúdio. Isso se Aquele que NÃO TARDARÁ não voltar antes!
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