Skinheads cristãos? Porque isso não só é possível como também é ignorância pensar diferente...
Antes de mais nada: precisamos falar sobre skinheads. Eu tenho entre meus projetos aqui no blog uma área especial sobre subculturas, mas enquanto isso não fica pronto, acho interessante falar desse assunto, haja vista que vez por outra vejo a ignorância promovida pela mídia imbecil ser mais forte que a pesquisa neutra e descompromissada. O movimento skinhead original surgiu no Reino Unido no final dos anos 1960 com jovens da classe operária. Herdeiros dos mods (outra subcultura de lá que hoje pouco se fala mais que inspirou bandas como The Who, Small Faces, The Yardbyrds, The Jam e Ira!) e dos rude boys da Jamaica (pois é, da JAMAICA), esses últimos por conta de imigrantes jamaicanos, e com isso pegaram muito da cultura negra jamaicana. Usavam já suspensórios, botas e as cabeças raspadas (daí skinhead). Embora desde os primórdios já tinham alguns antiasiáticos no meio dessa subcultura e também alguns praticassem o hooliganismo (os precursores das gangues organizadas travestidas de "torcidas organizadas" em estádios de futebol), a maioria era pacifista e mesmo entre os antiasiáticos havia um repúdio total contra os neonazistas (que já existiam à época) e os que praticavam atos racistas contra negros. Só no início da década de 1980 passou a rolar divisões mais severas entre os skins, aparecendo grupos como os trojans (os que tentam se assemelhar aos "raízes" do movimento, inclusive só curtindo ska, reggae e two tones, raramente streetpunk/oi!), sueds (que pareciam um elo perdido dos mods com os skins), redskins ou R.A.S.H.s (ligados ao comunismo e/ou ao anarquismo), F.A.S.H.s (100% anarquistas), S.H.A.R.P.s (os "mais de boa", que não têm envolvimento com visões políticas, mas combatem os de vertente nazista) e os tão odiados boneheads (infiltrados pelo partido de extrema-direita National Front, esses realmente seguem os princípios do neonazismo, e são esses que acabam muitas vezes mais afamados pela mídia, que ignoram todo o resto - que sempre foram a maioria no movimento - pra inflar os atos desses imbecis). Infelizmente é fato no Brasil que os Carecas (do ABC e do Subúrbio, bem como os Carecas do Brasil) se inspiraram demasiadamente na cosmo-visão fascista do Integralismo de Plínio Salgado - e alguns notoriamente nazistas mesmo - e agem de maneira violenta contra os "setores podres da sociedade" (e aí inclua comunistas, gays, anarcopunks e anarquistas em geral, e em alguns casos, contra nordestinos). Porém é sabido que existem S.H.A.R.P.s e outras vertentes do movimento skin no Brasil, e inflar apenas a tropa da sandice é o tipo de coisa que faz a mídia pra desqualificar a todos e também causar divisões, tudo por Ibope e pra tornar a sociedade uma eterna tapada e idiotizada.
Ok, acho que falei já o suficiente sobre o tema, vamos a essa banda que desafiou tudo e todos: Jesus Skins. Nascida em Hamburgo, Alemanha, em 1997, sim, são skins da vertente S.H.A.R.P. que conheceram-se no final dos anos 1980 na igreja. Usam como pseudônimos Mathäus, Markus, Lukas e Johannes (inspirados nos escritores dos quatro Evangelhos). Tudo começou quando Mathäus viajou pra Londres em 1991 e teve contato com a cena skin de lá, trouxe essa ideia pros seus amigos e assim surgiu a primeira banda de punk oi! cristã da história (embora a 100% Proof tenha feito uns Oi! nos anos 1980), e a primeira banda cristã a se identificar com a cena skin. Infelizmente a banda saiu de cena em 2012, mas deixaram seu legado e exemplo. Esperamos que mais bandas apareçam com essa ideia, mas coloquem ideologias políticas na porta de fora, por favor! Mais importa Jesus do que bobalhices políticas que são soluções humanas que no fim não dão em lugar nenhum, só criam palermas idólatras (e se ainda assim quiserem manter, que se faça com respeito, não agredindo gratuitamente os que pensam diferente).
Nota: Esse post nasceu de um comentário ignorante de um certo irmão num grupo de Whatsapp, que mesmo após falarmos das origens verdadeiras dos Skins e do fato de os nazis ao redor do mundo serem minoria, ainda ficou pavoneado e achando que projetos como o Jesus Skins são "impossíveis"... tsc tsc tsc.
Seven Boots From Heaven (demotape, 1998) |
Outras duas demos foram lançadas posteriormente: Gospel Oi (1998) e Im Auftrag des Herr’n (1999).
8 Fäuste für ein Halleluja (single, 2001)
01 - Die Besten Froinde
02 - 13 Froinde
03 - Oi! Oi! Amen
04 - 77 Heißt Grüß Gott
05 - Hart, Aber Gerecht
06 - 3 Könige
Streetpunk/Oi! com língua e sotaque alemão, e muito bom uma banda com essa pegada. Suas letras enfatizam o poder de Cristo e sua obra de salvação, além de mostrar que é possível ser skin e cristão, sem nenhum tipo de elogio ao nazismo ou fascimo. O hino "Oi! Oi! Amen" já mostra isso sem medo.
Unser Kreuz Braucht Keine Haken (2002)
01 - Intro
02 - Skinheads in Der Kirche
03 - Wollt Ihr Etwa Ärger?
04 - 3 Könige
05 - Bewegungstroi
06 - Alle Werte
07 - 77 Heißt Grüss Gott
08 - Wir Sind Wieder Da
09 - Saufen Beim Fußball
10 - Kirchenasyl
11 - Ich Tue Meine Pflicht
12 - Heilsarmee
13 - Nur Die Besten Freunde
14 - Outro / Nelsen Mutz
Punk raiz, Punk Oi!, Street Punk e tudo mais num disco "paródia", com versões de clássicos do punk alemão com letras voltadas pra fé cristã. Mathäus por vezes soa como um John Lydon (Johnny Rotten, das seculares Sex Pistols e Public Image Ltd) com sotaque alemão, por vezes faz um vocal mais grave. A faixa 2 (Skinheads na Igreja) mostra o anseio básico do projeto, mostrar o Evangelho para essa tribo e levar todos a terem um encontro com Deus, independente da tribo que façam parte. As letras trazem mensagens sobre o Evangelho, de forma bem crua, além de atingir a cena, como na faixa " Saufen Beim Fußball", criticando os atos dos hooligans.
Neuer Wein aus Alten Schläuchen (EP, 2002)
01 - A.C.A.B.
02 - Kirche Ja
03 - Glaubensbekenntnis 04 - Jesus Christus
05 - Religion
06 - Ein Moralisches Lied
07 - Für Immer Christ
08 - 77 Heißt Grüß Gott
Infelizmente o último disco da banda. Segue com a mesma sonoridade pauleira, Oi!/Streetpunk sem perder de vista em nenhum momento letras sobre a fé cristã como essência magistral da banda. "Jesus Christus" é a mais diferentona aqui, com um som mais acústico e até uma gaita. Originalmente saiu num EP duplo, com duas músicas pra cada lado. Naquele ano ele também sairia num curioso split CD e disco Picture com a banda americana de punk Oi! judaica Jewdriver (uma banda que parodiava a nazista Skrewdriver e suas letras nazistas transformadas em músicas com temática judaica) e seu disco de estreia "Hail the Jew Dawn".
Curiosidade: A faixa "Für Immer Christ" é uma versão/paródia da música "Forever Young" da banda de synth-pop secular alemã Alphaville.
Let the Bombs Fall (split, 2007) Com as bandas Eight Balls, Small Town Riot e The Detectors Não tenho infos sobre esse trampo. |
Ver mais sobre a banda (em alemão) aqui!
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