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segunda-feira, 28 de outubro de 2019

Horde


Anonymous (Jayson Sherlock), único membro real do Horde

Aula de história do rock/metal básica: O que é BLACK METAL?

O termo surgiu no início dos anos 1980, muitos remetem seu primeiro uso ao segundo disco da banda de speed metal britânica Venom, banda essa que com seus outros dois primeiros discos (Welcome to Hell e At War with Satan) fugiram da sonoridade mais pura e limpa das bandas da NWOBHM - movimento ao qual a Venom nasceu -, forjando um som mais sujo e letras bem voltadas ao mal, ao satanismo e em louvor ao diabo e oposição a tudo que é cristão. A primeira leva dessa trupe foi cunhada principalmente pela gravadora Metal Blade (que também popularizou o termo "antônimo" White Metal, sendo a banda Trouble a primeira vítima dessa designação, criada para bandas que falavam de Jesus e da fé cristã em louvor a Deus). Nessa primeira leva inseriram bandas pela temática e não por estilo, então era possível encontrar sendo inseridas nessa etiquetinha bandas como Slayer (thrash metal), Mercyful Fate (heavy/proto-power metal), Venom (speed metal), Sepultura (thrash/death metal), Sarcófago (death metal), Hellhammer (proto-death metal), Celtic Frost (proto-gothic metal, thrash e uma pá de gêneros - chegaram a virar até GLAM!), dentre um monte de outras. Como dá pra perceber, até então não dava muito pra falarmos em estilos. Não pelo menos até Bathory surgir. A banda sueca comandada por Quorthon já no seu primeiro disco homônimo de 1984 já dava traços do que seria o som da segunda leva, além de estar no lugar exato: a Escandinávia, território de onde também fazia parte o país vizinho da Suécia, a Noruega. Verdade que o Bathory mudaria de estilo outras vezes, indo pra um thrash metal e em 1988 com "Blood Fire Death" montou as bases do que seria o Viking Metal, mas serviu de inspiração pra bandas do país vizinho, em especial uma que surgiu na segunda metade dos 1980, Mayhem, The TRUE Mayhem.

Essa, formada por Necrobutcher (baixo) e Manheim (bateria), mais a entrada de Euronymous (guitarra, RIP 1993), representou realmente essa segunda leva, também chamada de "True Norwegan Black Metal". A princípio seu som mesclava elementos de várias bandas acima, como a sujeira do Venom e do Bathory, a insanidade da bateria de Sarcófago, além dos elementos visuais, como o corpse paint inspirados em Mercyful Fate e Sarcófago e os codinomes inspirados no Mercyful Fate, Hellhammer e Venom. Logo Euronymous formaria sua loja, Helvete, que viraria o ponto de encontro de muitos que formariam o Inner Circle, uma galera bem insana que proclamou, próximo às comemorações do primeiro milênio da chegada do cristianismo ao local (que foi realmente um tanto violenta, lembre-se, na Idade Média infelizmente a igreja tentava impor à força a fé por onde passava), e nessa loucura começaram a atacar igrejas, queimando várias. Nesse ciclo de violência e mídia, bandas como Emperor, Burzum, Immortal e Darkthrone deram prosseguimento a esse ar diabólico e insano que até hoje parece prevalecer num certo país aí chamado Brasil, onde as coisas chegam com um certo atraso - inclusive o curioso respeito que atualmente a própria cena norueguesa atualmente possui com seus atos cristãos como Antestor, Vaakevandring, Morgenroede, Arvinger e Vardøger. O suicídio de Dead (notório vocalista da Mayhem) e o brutal assassinato de Euronymous nas mãos de Varg Vikernes (líder da Burzum e curiosamente estava tocando à época no Mayhem também) marcaram ainda mais a violência e insanidade dessa cena.

Em meio a isso tudo, parecia insano que dentro da fé cristã surgissem atos como a americana Apostasy e as brasileiras Kolapso e Offertorium, tentando fazer algo parecido com o Black Metal, um gênero tido como maldito e impossível de ser usado por cristãos. Mas na Austrália alguém pensou um pouco diferente. O mestre na bateria Jayson Sherlock (ex-Mortification, Paramaecium, InExordium e um monte de outras bandas), assumindo o nome Anonymous (meio que uma zueira com Euronymous) e todos os instrumentos, na coletânea Australian Metal Compilation - Godspeed, lançaria a música "Mine Heart Doth Beseech Thee (O Master)" sob o nome Beheadoth, nome que logo ele mudaria em 1994 mesmo pra Horde, um termo muito mais próximo do que as bandas do gênero se designavam à época - e até hoje, inclusive. Entretanto Jayson jamais aceitou usar o termo "Black Metal" pra designar o que ele fazia, usando o termo cunhado por ele mesmo: UnBlack Metal.

Como banda Horde só existiu em quatro oportunidades: em 1994 quando lançou o primeiro e único disco de estúdio, Hellig Usvart (Sacro UnBlack), em 2006 quando tocou no Nordic Fest em Oslo (que gerou o CD e DVD The Day of Total Armageddom Holocaust) com os membros da banda Drottnar ajudando nos outros instrumentos que não a bateria e vocais, em 2010 quando tocou num festival na Alemanha, e em 2012 em outra apresentação. Apesar dessa quase "inexistência", a banda ajudou a cunhar todo um movimento, como disse Jayson no documentário Nemesis Divina, com o objetivo de "lançar luz em meio às trevas" que ele via no movimento norueguês - entretanto, muitos da cena lá decidiram até ameaçar a Nuclear Blast por ter tido a coragem de lançar esse disco da banda!

Vamos seguir com a missão metálica analisando os discos, pois independente das oposições, seguimos na fé em Cristo através do rock, punk e metal!

Curiosidades: Por anos não se soube que Anonymous era o Jayson Sherlock, o que causou uma viagem insana em muitos que se opunham ao projeto tentando descobrir quem era o indivíduo. Na mesma época, surgiu na Austrália uma banda chamada Vomoth, comandada por um certo Unsadisticoth, que só lançou uma música na coletânea Australian Metal Compilation II: The Raise the Death, a faixa Beyond the Gates. Até hoje muitos creem que Jayson também seria o responsável por essa misteriosa banda (que ganhou um cover posteriormente da brasileira Devotam). Por fim, uma banda brasileira de Amazonas chegou a usar o nome Hellig Usvart, mas não sei muito por onde andam atualmente.


Hellig Usvart (1994)

01 - A Church Bell Tolls Amidst The Frozen Nordic Winds (intro)
02 - Blasphemous Abomination of the Satanic Pentagram
03 - Behold, The Rising Of The Scarlet Moon
04 - Thine Hour Hast Come
05 - Release and Clothe The Virgin Sacrifice
06 - Drink From the Chalice of Blood
07 - Silence The Blasphemous Chanting
08 - Invert the Inverted Cross
09 - An Abandoned Grave Bathes Softly In The Falling Moonlight
10 - Crush the Bloodied Horns of the Goat
11 - Weak, Feeble and Dying Antichrist
12 - The Day Of Total Armageddon Holocaust
13 - Mine Heart Doth Beseech Thee (O Master) (bônus edição 10 anos de 2004)

O impacto dessa obra é impossível de ser mensurado por completo. Basicamente forjou todo o movimento. Com músicas de títulos enormes - quase impossível qualquer um de nós realmente decorar na ordem cada título desses kkkkkkkk - e letras em geral voltadas pra guerra contra satã, de certo modo "estereotipou" bandas advindas principalmente da América do Sul (a brasileira Antidemon também ajudou a ampliar esse estereótipo de letras "morte a satã"). Musicalmente existe várias camadas de som diferentes, desde uma meio "grindcore" como "Blaphemous Abomination...", algumas mais black metal tradicionais como "Behold, the Rising..." (considero essas duas, com a intro, uma das melhores sequências de músicas de abertura da história) e outras faixas meio ambient black metal, como "Release and Clothe...". A brutalidade é do início ao fim, e é impossível ficar parado ou indiferente quanto ao peso desse som. A capa, uma foto preto e branco de uma catacumba (espécie de cemitério muito comum nos tempos do Império Romano e que eram muito usadas como esconderijo pelos antigos cristãos durante os tempos de perseguição) aumenta o clima soturno do disco, e sem dúvidas é uma das peitas mais amadas por fãs do gênero para usar como camisetas.


The Day of Total Armageddon Holocaust: Alive in Oslo (CD e DVD, 2007)

01 - A Church Bell Tolls Amidst The Frozen Nordic Winds
02 - Blasphemous Abomination Of The Satanic Pentagram
03 - Behold, The Rising Of The Scarlet Moon
04 - Thine Hour Hast Come
05 - Release And Clothe The Virgin Sacrifice
06 - Silence The Blasphemous Chanting
07 - Invert The Inverted Cross (feat. Pilgrim from Crimson Moonlight)
08 - An Abandoned Grave Bathes Softly In The Falling Moonlight
09 - Crush The Bloodied Horns Of The Goat
10 - The Day Of Total Armageddon Holocaust


Pra quem nunca esperava ver o projeto ao vivo, Anonymous chegou a tocar em 3 oportunidades. Essa foi a primeira, que teoricamente deveria ser a única segundo ele, no Nordic Fest de 2006 (mas acabou por tocar mais duas vezes anos mais tarde). O registro desse show histórico saiu em CD e DVD, e não apresenta de músicas nada de novo, além de que os arranjos são praticamente os mesmos da versão de estúdio das músicas. Obviamente Jayson aqui só se concentrou nos vocais e na bateria (usando seu insano manto que inspirou até a mim no meu projeto de grindcore/black metal Clavis Det Mortis), deixando os instrumentos pros membros da Drottnar Bøddel (guitarra), Kvest (guitarra) e Gestalt (baixo). A melhor parte sem dúvidas é quando Pilgrim Bestiarius (o insano vocalista da Crimson Moonlight) sobe ao palco para cantar a clássica Invert the Inverted Cross ("This time to summoning PILGRIM!"), que em seus vocais ficou ainda mais fantástica. Um clássico eterno do gênero.

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