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sexta-feira, 1 de novembro de 2019

O Refúgio do Rock (Coletânea)


O Refúgio do Rock foi um projeto liderado pelo pastor Sandro Baggio que surgiu no início de 1993 em SP, e logo se aliou a outros projetos como o já existente CMF (Christian Metal Force), à época comandado por Claudio Tiberius (Devilcrusher, Berith, Death Poems e outras), a zine White Metal Detonation (que ele, Claudio e outros coordenavam) e vários outros projetos menores que já despontavam no Brasil com o intuito de atingir as vidas da turma do rock, em especial os "metaleiros" e os punks. O projeto era inspirado no que o Sandro Baggio conhecera dentro da Steiger 14 (posteriomente chamada Steiger International), com os projetos de navios como o Doulos que cruzavam o mundo para atingir esse público (um dos principais nesse projeto era a trupe da No Longer Music, banda de pós-punk que até hoje faz apresentações chocantes mundo afora). Num galpão da avenida Nazareth, no dia 14 de maio de 1993 nascia oficialmente o projeto, que receberia diversas bandas, como as precursoras Antidemon, DevilCrusher, Ruptura, Justa Advertência, Calvário, Martíria, Metábole, Kletos, Rosa de Saron (sim, até uma banda católica rolou lá!), Afterdeath e Necromanicide(r) (essas últimas vinham de Espírito Santo e Rio de Janeiro respectivamente). Um dos primeiros (talvez o primeiro) festivais de metal cristão no Brasil rolou lá, o Refúgio Metal Fest, com as bandas Calvário, Metábole, Martíria, Rosa de Saron, Devilcrusher e Justa Advertência. Esse evento foi divulgado inclusive no primeiro Hollywood Rock, uma novidade para muitos daquela galera que nunca haviam ouvido falar de "white metal" ainda (e que coisa, não demorariam para passar a ojerizar a trupe que fazemos parte, tsc tsc...).

Além desse festival, o Refúgio do Rock também ajudou no I White Metal Fest, o I Fórum White Metal, tributos a bandas clássicas como Vengeance Rising e Seventh Angel, além do primeiro show com uma banda de metal cristã pesada no Brasil, a Tourniquet em sua era de ouro. Infelizmente depois de 1995 ficou mais difícil pro projeto prosseguir devido a Lei do Silêncio que foi implementada em SP (não culpa da lei em si, mas porque o local não tinha isolamento acústico adequado :/ ). Naquele ano o projeto mudaria de nome pra Comunidade Ágape, posteriormente Projeto Ágape e atualmente Projeto 242 (Atos 2.42), com uma visão de alcance a muito mais pessoas excluídas da sociedade, em especial pela pseudocultura cristã ocidental preconceituosa e fechada que ainda vivemos.

O projeto conseguiu em seu ano de despedida ainda gerar um belíssimo fruto: a coletânea Refúgio do Rock, com dez bandas que rolaram no local ao longo daqueles mais de dois anos de existência. Vale muito a pena conferir.

O Refúgio do Rock (1995)

01 - Kletos (hard rock/heavy metal) - Espírito Nômade
02 - Antidemon (grindcore) - Guerra ao Inferno
03 - DevilCrusher (death metal) - Em Nome de Deus
04 - Necromanicide(r) (doom/death metal) - Hoje é o Dia
05 - Kipper (heavy/power metal) - Duendes e Gnomos
06 - Justa Advertência (punk/hardcore) - Caos
07 - Juízo Final (futura Intruder, Death/Thrash Metal) - Heresia
08 - Theosophy (crossover/hardcore) - Forças
09 - The Joke? (thrash/groove metal) - Admonished
10 - Kolapso (death/black metal) - Pacto Satânico

OBS: Numa releitura em versão CD a faixa da banda Kolapso saiu como a faixa 5.

Belíssima coleção de bandas, que curiosamente poucas aí realmente alcançaram uma fama maior, como Necromanicider, The Joke? e obviamente a Antidemon, até hoje a maior banda cristã de metal brasileira, embora seja notório que nessa época a banda do Batista (que era ainda um quinteto e não um power trio como ficou mais marcada) fazia um som extremamente sujo e com pouca qualidade técnica, um grindcore bem cabuloso aos moldes da contemporânea australiana Vomitorial Corpulence, ainda distante da lenda death metal que se tornariam. Muito mais pesada nesse sentido era a sua antecessora, Devil Crusher, fazendo um death metal bem porrada, na linha do Deicide e do Mortification fase Scrolls of the Megilloth. A precursora Kletos (primeira banda de metal cristã brazuca com uma mulher na formação) fazia na realidade um som mais na linha do hard rock, embora com muita influência do heavy metal, tornando eles próximos de um Great White ou de um Dokken. Necromanicide (ainda chamada assim nesse tempo) já mandava seu som a lá Cathedral no início da carreira, arrastado porém brutal, com um pouco de influências do gothic também, como dá pra ver nos teclados. The Joke? (atual Trombada), ainda com os vocais de Daniel Martins (atual Soul Factor) era a mais antenada com os sons "modernos", com uma pegada próxima ao Chaos A.D. do Sepultura. A Kipper (que pena que só lançaram essa faixa até onde eu saiba) fazia um belo power metal clássico, remetendo às precursoras americanas do gênero dos anos 1980. Justa Advertência e Theosophy representam a galera do punk aqui, embora Theosophy já apresente um som mais crossover e uns vocais que variavam pra caramba, do gutural ao hardcore limpo. A Juízo Final aqui não tem nada a ver com a afamada banda que foi precursora do rap e posteriormente do nu metal no Brasil, e sim a futura Intruder (que também acabou nos deixando sem CDs, pra tristeza de todos nós fãs do som). Encerrando de maneira genial vem a banda do irmão de Sandro, a Kolapso, que fazia um death metal blackned bem sujo, lembrando um bocado bandas como Hellhammer e Bathory, antecipando no Brasil o movimento UnBlack Metal que bandas da mesma época como InnerGoth, Offertorium, Death Poems e Cerimonial Sacred iriam dar prosseguimento. Sem dúvidas essa coletânea é parada obrigatória para fãs do metal cristão nacional. Uma pena que não houve registros aí de bandas como Martíria, Calvário, Rosa de Saron, Tormented Death e principalmente a Metábole (que até onde eu já procurei nunca gravou nada). Enfim, vale muito a pena conferir.

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