sábado, 21 de setembro de 2019

Melhores letristas/compositores do rock cristão


Uma coisa que me incomoda cruelmente é a acusação leviana que música cristã (em especial rock cristão) é um "plágio mal feito" do secular (em primeiro lugar é bom lembrar que o rock, como já mostrei em várias ocasiões nesse blog, nasceu feito por cristãos e inclusive - como no caso da Sister Rosetta Tharpe - usado no contexto religioso). Outra acusação boba é de que rock cristão, bem como toda música cristã, tem apenas letras ou composições de quinta categoria, "mantras" e falta de criatividade. Bem, essa acusação até tem suas razões quando pegamos infelizmente o que a mídia dita "gospel" tem empurrado nas pessoas, colocando letras fracas e sem criatividade alguma, ou pior, colocando argumentos heréticos descaradamente. Contra essa maré, muitos escritores cristãos fugiram das mesmices e ao mesmo tempo não descambaram pro lado da heresia. Esse post dedico a esses que fizeram história (alguns ainda fazem) com letras que quebraram os paradigmas na música cristã.

JANIRES MAGALHÃES MANSO

O saudoso ex-vocalista da Rebanhão e da Banda Azul sempre esteve a frente do seu tempo, de uma forma que até hoje não se encontrou um igual no nível de genialidade. Ele usava tudo que tinha ao seu redor para suas músicas, referências do dia a dia e da cultura popular, como "trocar os jeans pelas vestes brancas do Senhor" (Ano 2000), "Jesus não precisou de prancha de surfe pra andar sobre o mar nem máquina xeróxe pra multiplicar peixe e pão" (Para Dançar / Discoteca), "Jesus Cristo é nosso super-herói, com ele... não tenho medo de bruxas nem bandidos" (Jesus Cristo Super-herói), "Quando criança sonhei ser Flash Gordon, Super-Homem, Robin Hood..." (Hoje Sou Feliz), "Jesus é o único caminho pra quem quer morar no céu, quem quiser atalhar vai pro beleléu" (Baião), "atrás desse monte tem uma cidade, casinhas brancas, casarões..." (Casinha), "foi por você que gosta de futebol, ou de rock 'n' roll, ou de ficar batendo papo com a tchurma lá na esquina..." (Foi por Você), "o sertão pode até virar mar, mas de uma coisa vocês fiquem certos, em água o mundo não vai mais acabar" (Baião Eletrônico), até mesmo novelas e programas da Rede Globo como "Planeta dos Homens", "Os Trapalhões", "Direito de Nascer", "Fantástico" e "Pai Herói" (Pai Herói / Cara a Cara). Homenageava seus amigos e irmãos ("Baltazar, o Artilheiro de Deus", "Helena", "Alex, o Baixinho Voador", "Arca / Festa de Arromba no Céu" e "Trem da Amizade"), os pais e familiares ("Mamãe", "Papai" e ele planejou músicas pra família inteira, inclusive a curiosa "Homenagem à Sogra"), teve até a coragem de santificar sem medo o rock: "Como já ensinava o velho profeta, se a tristeza tentar pegar o teu coração pegue a guitarra e cante um Rock pra louvar Jesus" (Salas de Jantar, pra mim uma de suas melhores composições) e também bater de frente com a hipocrisia e mesmice cega de muitos cristãos da época (Etc e Tal / Ponte, sua melhor composição e sem dúvidas a mais atual de todas). Uma curiosidade foram suas muitas canções falando do céu, do lar futuro de todos nós, como "UAI (Unidos no Arrebatamento da Igreja)", "Baião", "Baião Eletrônico", "Arca", "O Espetáculo Mais Lindo / Arco-Íris", "Trem da Amizade", e a quase premonitória "Espelho nos Olhos". Até hoje, como diria meu amigo Sandro Baggio, as composições de Janires são um desafio enorme para todos os compositores cristãos.


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LARRY NORMAN


O saudoso "pai do rock cristão" (se ele foi o pai, Elvis Presley foi o avô e Sister Rosetta a bisavó haha) sempre surpreendeu pela linguagem de suas músicas, voltadas a princípio para a galera hippie de sua época nos primórdios da carreira. Letras geniais falando contra a religiosidade cega ("Why Should the Devil Have All the Good Music?"), contra o misticismo (Forget Your Hexadram), sobre o arrebatamento (I Wish We'd All Been Ready) e questionando muito aqueles que procuravam respostas em locais que não em Cristo ("Why Don't You Look Into Jesus?"). O cara teve peita até mesmo de mandar "aquele" pra cima dos ex-Beatles John Lennon e Paul McCartney em "Reader's Digest" ("Querido, quem é o mais popular agora? Eu escuto algumas das músicas atuais dele, as vezes penso que ele realmente está morto!" - citando a vez que John falou que os Beatles eram mais populares que Jesus e também a lenda de que Paul está morto). Algumas de suas letras foram escritas em conjunto com o outro mestre Randy Stonehill, seu parceiro de quase toda a vida na caminhada cristã.


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BRUCE COCKBURN

O cantor canadense Bruce Cockburn começou no country, mas rapidamente tornou sua música universal, atingindo os mais diversos estilos. Suas letras evocam elementos os mais diversos da vida humana, numa singeleza para mostrar o poder de Deus e do seu amor, até nos momentos mais inóspitos (Lovers in a Dangerous Time), do poder criador e soberano do Senhor (Creation Dream, Lord of the Starfields) e da presença do Senhor em todos momentos, mesmo os que não conseguimos o enxergar (No Footprints). Até mesmo Bono Vox (U2) rendeu-se ao talento de Cockburn, ao citar no filme Rattle and Hum a belíssima (embora meio controversa) faixa "If I Had a Rocket Launcher". Aliás, dizem que ele é o artista predileto de Papai. Pelo menos o Papai que é a representação de Deus no livro e filme "A Cabana". Na verdade eu não tenho nem como discordar, quando a gente ouve "Oh Senhor, os raios do sol me incendeiam por dentro!"




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MARK HEARD

Outro que começou no country, o saudoso Mark Heard foi membro da Infinity Plus Three e também teve um projeto solo curioso chamado iDEoLA. Desde "Second Best Friend", uma das melhores faixas do disco único da Infinity+3, que fala de amizade sincera e do maior amigo de todos (Jesus), Mark desbravou até sua prematura morte no início dos anos 1990 por diversos estilos e letras geniais, como "Stuck in the Middle" (em que ele fala do dilema que é pra muitos de nós que sabemos como cristãos que, não mais escravos do pecado, ainda assim pecamos e com isso atraímos desconfiança dos "santos" e dos pecadores), "Orphans of God", "Call me the Fool", "One of the Dominoes", "I am an Emotional Man" (como iDEoLA), "Another Day in Limbo" e "Talking in Circles", Mark não fugiu em nenhum momento de sua fé, nem abdicou de sua criatividade lírica abordando temas por vezes espinhosos pros cristãos até hoje. Só veja a letra de "Orphans of God" do último disco que ele lançou em vida (Satellite Sky de 1992) pra ver essa crítica forte e ainda tão atual a muitos dos maneirismos da sociedade atual.




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STEVE TAYLOR

Produtor musical, diretor de cinema, dono da gravadora Squint, músico e um dos seres mais controvertidos da indústria musical cristã, Steve Taylor perturba até hoje as mentes menos preparadas - e até as mais preparadas - com suas canções desafiadoras, seja solo ou nas bandas que já participou (Chagall Guevara e The Perfect Foil). Dificilmente você já tenha ouvido falar de um cantor capaz de escrever letras contra os "clones" que a instituição "cristã" força através da subcultura "dominante" (I Want to Be a Clone), contra igrejas "legaizinhas demais" (This Disco (Used to be a Cute Cathedral)), contra a visão da galera da "teologia" da prosperidade e mostrando que Jesus é pros perdidos como eu, ele e você (Jesus is for Losers), atacando clínicas de aborto - e também alguns ditos cristãos que faziam ataques terroristas contra elas - (I Blew Up the Clinic Real Good), contra o racismo (We Don't Need no Colour Code), contra a religiosidade forçada que via pecado em tudo, normalmente usando a famosa falácia da "culpa por associação" (Guilt by Association), sem entretanto negar o pecado humano como muitas instituições "boazinhas" faziam já naquela época ("Whatever Happened to Sin?"). Seu sarcasmo em muitos momentos me remete a alguns dos escritos de Lutero contra seus adversários da então completamente corrupta igreja católica romana, e suas músicas continuam atuais até demais da conta.





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ROD MAYER

Um dos mais obscuros dessa lista, o mais velho dos filhos de Reynaldo Mayer, que passou por Oficina G3, Passaporte, Troad, Vencedores por Cristo, Renascer Praise, Marcha para Jesus e uma pouco lembrada parceria com o ex-Incríveis Mingo, sempre trouxe uma musicalidade magistral, passando por diversos estilos, além de escrever letras delicadas e fortes como "Renascer", "Águas", "Árvores", "Ideias Erradas", "Identificar-se", "Grito de Guerra", "Herói", "Capital", "O Senhor é a Minha Luz", "Buscar-me-eis", "Eu Sei que Estás Comigo", "Louvamos Senhor", "Atitude", "Sim Sim", "Circunstâncias", "Pés na Areia", dentre muitas outras. Sempre prezando por uma linguagem simples, porém criativa ao extremo, chega a ser até lamentável pensar que sua fama na música "gospel" durou até meados dos anos 1990, quando praticamente foi jogado na obscuridade que outros mestres como Sérgio Pimenta, João Inácio, Jayrinho e Guilherme Kerr Neto acabariam sendo legados pela indústria dita cristã. Uma das coisas mais legais de suas composições é que muitas delas não foram interpretadas por ele, o que o torna um compositor muito mais do que um simples músico ou cantor.




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BROTHER SIMION

O ex-vocalista do Katsbarnea e também membro do Renascer Praise e da banda Inesquecível (Estevam Hernandes) é outro que é famoso por letras e músicas criativas, seja solo ou com a companhia de Estevam Hernandes, que junto com ele fez algumas de suas faixas mais famosas. Faixas sobre o perigo das drogas e da vida desregrada na "farra" e prostituição Simion é campeão, tendo entre elas "Extra" a mais famosa de todas, sem esquecer de sua resposta "Johnny", além de "Consumo", "Crack", "Fumaça Arisca", "Remédio prá Dormir", "10 'Real'", além de também falar de problemas sociais ("Justiça do Céu", "Revolução", "Congestionamento"), religiosidade hipócrita e fingimento social ("Fariseu", "Sepulcro Caiado", "Orgulho", "Parede Branqueada", "Paraíso", "Semideus"), cuidados com a natureza ("Terra", "SOS Terra", "Tempestade"), canções em homenagem à natureza criada por Deus ("Jabuticaba" e "Viva Jesus que Plantou o Mamão no Jardim do Éden"),  fim dos tempos e volta de Cristo ("Apocalipse Now", "Profecia", "Esperança", "Extra", "Armagedom"), até mesmo músicas mais poéticas e em louvor a Deus como "Gênesis", "Etéreo", "Ondas Agitadas", "Asas", "Sede" e a belíssima canção romântica "Sinfonia de Amor em Ré Maior". Embora vivendo na Europa a anos em missão e esporadicamente vindo ao Brasil ou produzindo novos trabalhos, como seu mais recente trampo, "Legado" de 2016. Algo também muito interessante são as várias canções que ele fez como testemunho da própria vida, como "Extra"/"Johnny", "Jeff" e "Por que Você Continua Me Olhando Stereo?", além de um disco testemunho em 2005.




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GLENN KAISER

Ex-líder da mítica Resurrection Band (REZ) e líder da Glenn Kaiser Band, além de fazer parcerias com Larry Howard e Darrell Mansfield, Kaiser sempre teve em suas letras uma preocupação em ir bem além das letras de louvor, adoração e evangelísticas. Dono da primeira canção ocidental da história a abordar sobre o maldito sistema de Apartheid na África do Sul (na canção Afrikaans de 1979, quatro anos antes da famosa "Biko" de Peter Gabriel), ele retomaria o tema anos depois em Zuid African. Mas além de falar acerca do preconceito nessas faixas, ele também aborda o assunto em "Colours", além de diversos outros assuntos como a religiosidade fingida e manipulação social (Silence Screams, Altar of Pain, Babylon, American Dream), suicídio (Shadows), divórcio (Mommy Don't Love Daddy Anymore, abordando aliás uma história pessoal que o vocalista viveu com seus pais), superficialidade na industria musical (Elevator Muzik), escravidão (80,000 Underground), drogas e cigarro (The House is on Fire), criminalidade (Crimes), crimes "passionais" (Empty Hearts - essa foi escrita pelo Roy Montroy, mas teve ajuda do Glenn e da Wendy, porque foi baseado num crime que REALMENTE aconteceu no apartamento ao lado do deles!), guerras e ódio entre povos ("Irish Garden", "Military Man"), dentre outros muitos assuntos, uma verdadeira complexidade que torna o trabalho de Glenn, com a Rez ou fora dela um verdadeiro desafio para outros compositores se igualarem ou ao menos chegar perto.




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KIM (JOAQUIM CÉZAR MOTTA)

Poesia e letras inteligentes, isso é o que pode se esperar do trabalho do líder da banda Catedral, seja com a banda ou em sua carreira solo. A despeito do seu famigerado hábito de se considerar "melhor", não há como negar que o cara realmente é bom de letras. Como negar o poder de letras tão singelas ao falar do Senhor como "Você", "Criação", "Cotidiano", "Teu Amor", "Voz do Coração", "Chame a Deus", "Fonte" e "Espírito Santo", dentre outras? Mas a capacidade poética de Kim leva a canções mais profundas e íntimas como "O Jardim e o Corpo", "Eterno", "Todos os Dias", "Aos Ouvidos dos Sensíveis de Coração", "Além do Nosso Olhar", "Carpe Diem", "O Silêncio" e "Miragens Urbanas", além de letras que batiam de frente com os problemas sociais, tais quais "Terra de Ninguém", "Mundo Vazio", "Pelas Ruas da Cidade", "Ladrão", "No Meu País", "Num Outro País", "Terceiro Mundo", "Na Casa do Lado", "Drogas", "Rio de Janeiro a Dezembro", "Contra Todo Mal", a lista é imensa. Letras refletindo a função da Igreja, como "O Jardim e o Corpo", "Pedro Zé, Um Nordestino", "O Silêncio", "A Revolução" e "Fingir" causaram - e ainda causam - polêmica pra muitos críticos. Kim também é mestre em letras românticas, e aí com certeza a lista vai muito longe, já tendo embalado vários casamentos até com "Amor Verdadeiro", mas também com "Ver Estrelas e Sorrir", "Quem Me Dera", "Quando o Amor Bate no Peito", "Tarde de Outono", "Quem Disse que o Amor Pode Acabar?", "A Felicidade", "Grande Amor", "Quando o Verão Chegar", "Uma Canção de Amor Pra Você", "A Poesia e Eu", "Eu Amo Mais Você", e por aí vaaaaiii...



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LENILTON

Muita gente dentro do rock costuma ignorar o trabalho do Novo Som - por pura ignorância inclusive! -, banda em que o baixista e compositor Lenilton fundou e passou a maior parte de sua carreira. Apesar de a muitos anos fora do grupo (e também com algumas rixas com o pessoal da banda) e seguindo com o grupo de rock Rota 33 e em carreira solo, Lenilton ficou famoso por fazer canções pop de nível fantástico. Quem nunca se emocionou ao ouvir as baladas "Pra Você", "Acredita" ou "Venha Ser Feliz" deve ser por nunca ter ouvido (kkkk). Lenilton também foi responsável (só ou com a ajuda de Mito - tecladista do Novo Som e também ótimo compositor) por letras como "Elo de Amor", "Jesus Cristo Vem", "Deixa Brilhar a Luz", "Herói dos Heróis" e "Bandido ou Herói", letras mais agitadas e com mais pegada rock. Também criou poesias e músicas românticas fantásticas como "Escrevi", "Eu e Você", "Te Amo", "Nossa História", "No Meu Coração", "Voz do Coração", dentre outras. Também marcam as canções "Meu Universo", "Além do Céu Azul", "Infinitamente...", "Luz", "Não me Deixe te Deixar", "Pra te Conduzir" e minha predileta do Novo Som, "Pra Não Esquecer".




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MARCOS ALMEIDA

Líder do Palavrantiga, Marcos Almeida é sem dúvidas a maior voz do "Novo Movimento" ou "Crossover" pra alguns, uma tendência musical que surgiu no Brasil no início dos anos 2000 com a banda Aeroilis (embora alguns tracem Catedral e outros como precursores). As letras do Palavrantiga são geniais, com alusões óbvias à fé cristã, mas sem aquele "evangeliquês" que ficou muito forte principalmente com a ascenção do "worship & praise" no Brasil. Letras como "Amor que nos faz um", "Sobre o Mesmo Chão", "Rookmaker", "Casa", "Esperar é Caminhar", "Rio Torto", dentre outras, influenciaram bandas e artistas como Tanlan, Quarto Fechado, Os Oitavos, Lorena Chaves e Marcela Taís. Aliás, influenciou até gente mais antiga, basta ver os trabalhos da banda Resgate desde 2010...





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Outros grandes compositores do Rock Cristão:

- Fábio Sampaio (Tanlan)
- Zé Bruno/Hamilton "Mito" Gomes (Resgate)
- Michael Knott (L.S.U., Idle Lowell, Aunt Beans, Michael Moret)
- Rodrigo Bizoro (Saint Spirit)
- Juninho Afram (Oficina G3)
- Matt Slocum (Sixpence None the Richer)
- Neal Morse
- Doug Pinnick/Ty Tabor/Jerry Gaskill (King's X)
- Jyro Xhan/Jerome Fontamillias (Mortal/Fold Zandura)
- Keith Green
- Marco Antônio (Fruto Sagrado)
- Bob Hartman (Petra/Classic Petra/2 Guys of Petra)
- Paulo Cézar (Grupo ELO/Grupo Logos)
- Jayro Trench Gonçalves "Jayrinho" (Grupo ELO)
- Sérgio Pimenta (Vencedores por Cristo/Grupo Semente)
- Maurão
- Wolô

Obviamente existe uma infinidade de outros grandes compositores de rock cristãos, mas decidi dar um destaque em alguns dos que mais me inspiram até hoje.

2 comentários:

  1. Matt Smith do Theocracy. Melhores letras do metal cristão (por que não de TODA música cristã) atualmente.

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