Virgin Black é uma banda australiana da cidade de Adelaide que funde influências de doom, symphonic e gothic metal, além de gothic rock, death metal e trance em algumas músicas deles. Atualmente é formada somente por dois membros fixos: o lendário vocalista, tecladista e piano Rowan London (ex-Discarnated) e a guitarrista e violoncelista Samantha Escarbe (atualmente conhecida como Sesca Scaarba). Estiveram em atividade entre 1995 e 2009 e recentemente, após anos de espera de muitos fãs da banda pelo seu disco que finalizaria a série Requiem, em 2018 eles voltaram à ativa.
Uma curiosidade sobre a banda é que, embora cristãos, diversas vezes eles declararam relutar o rótulo de banda de "christian metal" ou "white metal", além de fazerem letras bastante curiosas e complexas, por vezes aparentemente controversas como "Museum of Iscariot" e "God in Dust" e professarem um grande descontentamento com a igreja institucional. Apesar de não coadunar de muitas das ideias da banda, eu até os entendo e de fato compreendo a frieza e intransigência de boa parte da chamada igreja institucional.
Virgin Black demo (1996)
01 - Veil of Tears
02 - Black Corsage
03 - Mother of Cripples
04 - Anthem
Mesclando um clima soturno, de tristeza, e ao mesmo tempo serenidade, a demo autointitulada da banda traz uma beleza sem igual. Três das quatro faixas seguem uma linha mais balada - suave e gótica (apesar dos momentos pesados de Mother of Cripples). Já Black Corsage é a que segue uma linha mais doom metal pura, uma das poucas faixas da banda a seguir essa linha de maneira mais firme. Os vocais operísticos de Rowan alternam de passagens eruditas bem próximas à voz de baixo a momentos de lirismo tenor quase contratenor, mostrando uma extensão vocal impressionante. As letras trazem uma criatividade impressionante para relatar os conceitos de tristeza e dramas interiores, mas sempre remetendo à fé no Criador, como é notório em "Mother of Cripples" ("Ancião de dias, Criador da vida, do útero me formaste, minha vil existência enxerga o teu amor"). "Anthem" é um dos maiores e mais belos hinos sobre o ciclo da vida humana em comparação ao nosso Senhor Jesus, que também passou por toda essa dança "no eterno ciclo de nascer, viver e morrer, mas TU VIVES NOVAMENTE!"
Veil of Tears, Mother of Cripples e Anthem apareceram também na coletânea Australian Metal Compilation IV - Falling of Deaf Ears do mesmo ano pela Rowe Productions (ver na seção de coletâneas).
Trance EP (1998)
01 - Opera of Trance
02 - A Saint is Weeping
03 - Whispers of Dead Sisters
Inserindo elementos de trance music, esse EP é quase um avantgarde metal de tão ousado, apesar de curto. Goticismo forte, letras bem poéticas e sem perder a inspiração bíblica. Na primeira faixa já mandam a realidade dos que servem a Deus como Jesus assim falara a séculos atrás ("Viveremos de verdade quando morrermos (pra nós mesmos) e morreremos quando bebermos do (sangue do) Sacerdote Supremo"). A complexa "Whispers of Dead Sisters" é uma das faixas mais impressionantes da história do metal, e com certeza não é pra fãs casuais do gênero, com sua fusão de elementos diversos, até mesmo uns vocais computadorizados em diversos momentos.
Sombre Romantic (2001)
01 - Opera de Romanci: I. Stare
02 - Opera de Romanci: II. Embrace
03 - Walk Without Limbs
04 - Of Your Beauty
05 - Drink the Midnight Hymn
06 - Museum of Iscariot
07 - Lamenting Kiss
08 - Weep For Me
09 - I Sleep with Emperor
10 - A Poet's Tears of Porcelain
Polêmico até nas fotos de encarte, com todos os membros desnudos - não explicitamente, mas desnudos sim! |
Sem dúvidas a faixa mais genial - e por vezes polêmica pra muitos - é "Museum of Iscariot". Cantada na pessoa do Judas Iscariotes, traz um possível relato desesperado do traidor ao perceber o quanto sua atitude foi maligna e perversa, além de sua certeza de uma morte cruel (como ele realmente passou ao se enforcar e seu corpo quebrar o galho da árvore, causando seu despedaçar contra pedras abaixo). Enfim, é difícil dimensionar por completo o impacto que Sombre Romantic trouxe pra cena do metal e rock gótico mundial, tornando a banda respeitada não só no meio cristão como também no secular.
Elegant... and Dying (2003)
01 - Adorned in Ashes
02 - Velvet Tongue
03 - And the Kiss of God's Mouth Part I
04 - And the Kiss of God's Mouth Part II
05 - Renaissance
06 - The Everlasting
07 - Cult of Crucifixion
08 - Beloved
09 - Our Wings are Burning
Quase um disco conceitual (com músicas que continuam na seguinte), "Elegant... and Dying" traz uma sonoridade mais direta, com elementos mais doom, gothic e symphonic, sem elementos de techno/trance ou outros estilos. O teclado aqui reina de maneira absoluta. Músicas de tamanho médio convivem com enormes canções, como a gigantesca "The Everlasting" e seus quase 20 minutos. A sequência "And the Kiss of God's Mouth" partes I e II são verdadeiros hinos de qualidade intangível. Renaissance, a quase "faixa-título" do álbum, começa de uma forma bem suave, depois segue com riffs da Samantha muito fortes e envolventes. As orquestrações da faixa, com elementos de coral no fundo enquanto Roman faz seu vocal conferem um clima tétrico, quase medieval, para a faixa. A faixa mais famosa do disco é a última, "Our Wings are Burning", possuidora de um videoclipe irado, provavelmente a música mais famosa da banda até hoje. "The Everlasting" com sua longa extensão possuí elementos de death/black metal, em especial no refrão, tornando-a realmente a mais progressiva faixa da banda até hoje.
Requiem - Mezzo Forte (2007)
01 - Requiem, Kyrie
02 - In Death
03 - Midnight's Hymn
04 - ...and I Suffering
05 - Domine
06 - Lacrimosa (I am Blind with Weeping)
07 - Rest Eternal
Um certo review que li desse disco tinha por título "Quando Mozart se une ao metal". Um resumo simples e perfeito para definir a parte I da obra Requiem. Cada uma das partes iria ter um enfoque básico. Essa seria a mais média, com os elementos de doom metal e symphonic se fundindo de maneira espetacular. Os vocais líricos de Susan Johnson (que também participaria dos outros discos da VB e de um do Ted Kirkpatrick) já na faixa de abertura capitanearam toda a climática do disco, em união com os já famosos vocais de tenor do Rowan (que, como sabemos, sempre consegue ir além, ingressando inclusive em alguns guturais ocasionais, como na faixa "Domine"). Trazendo uma orquestra INTEIRA e mais um coral de várias vozes, é um dos discos mais VERDADEIRAMENTE SINFÔNICOS da história do metal sinfônico. Não a toa este disco está entre os mais amados e respeitados dentro do metal mundial.
OBS: A sequência real de audição deve ser: Pianissimo, Mezzo Forte e Fortissimo. Por questões de lançamento e de review fiz a audição por ordem de lançamento (haja vista que o Pianissimo foi o último a sair), mas vale a pena ouvir exatamente na ordem sugerida pela banda.
Requiem - Fortissimo (2008)
01 - The Fragile Breath
02 - In Winter's Ash
03 - Silent
04 - God in Dust
05 - Lacrimosa (Gather Me)
06 - Darkness
07 - Forever
Antes de mais nada: se você nunca ouviu esse disco, mas está habituado ao som da Virgin Black, não se assuste: Esse disco não é NADA PARECIDO com nenhum outro da banda. Embora a sonoridade doom metal com symphonic esteja presente, elementos de death metal aqui abundam bastante. Rowan London aqui resgata sua era como vocalista da banda de death metal Discarnated com louvor. Basicamente aqui pegaram o Mezzo Forte e o elevaram a uma potência muito mais pesada. Menos instrumentos de orquestra, mais doom/death, faz jus ao termo "Fortissimo". Entretanto a voz de Susan Johnson e os arranjos operísticos ainda estão lá. Na minha opinião esse é um dos discos mais inovadores da história da música de todos os tempos.
Uma das melhores faixas do disco é a polêmica "God in Dust". Polêmica só no título mesmo, pois a letra mostra a realidade do ser humano: "Seguro a mão de Deus no pó, eu estou no pó, mas mesmo lá eu O encontrei". Poético e sublime demais. A capa também rendeu uma certa polêmica, por ilustrar uma mulher de rosto pintado crucificada (muitos acreditaram erradamente ser uma zombaria a Cristo, mas a verdade é que: todos nós devemos tomar nossas cruzes e segui-lo, segui-lo até onde? ATÉ AO CALVÁRIO!).
Requiem - Pianissimo (2018)
01 - Requiem Aeternum
02 - Dies Irae (Dia da Ira)
03 - Until Death
04 - Kyrie Eleison (Senhor, Filho de Deus)
05 - Libera Eis Domine (Ele é o Senhor da Graça)
06 - Lacrimosa (I Tread Alone)
07 - Pie Jesu (Piedoso Jesus)
08 - Remembrance
Finalmente, depois de dez anos de silêncio completo, a parte final (ou inicial, segundo a ordem que a própria banda sugeria) da trilogia Requiem sai para todos nós. Nesse tempo todo se esperava que o disco sairia ainda em 2009, daí a banda deu uma pausa nesse ano e começou a longa espera (tal qual até hoje há uma espera pelo legítimo Legend III.II da Saviour Machine e não a versão lançada pela gravadora sem autorização da banda). Falas desencontradas, até mesmo algumas respostas meio desaforadas ou o completo silêncio tornaram as esperanças de que um dia esse disco realmente saísse cada dia menores.
Mas aí veio uma esperança, quando a banda criou sua conta no Instagram no início de 2018 e começou a postar algumas informações interessantes, fotos atuais de London e Escarbe (que agora se identificava pelo codinome Sesca Scaarba), e assim as esperanças foram ressurgindo até que enfim em 30 de novembro de 2018 a banda lançou de maneira independente o disco, via Bandcamp e também em uma tiragem física limitada.
O disco era realmente algo esperado por muitos de nós de acordo com a ideia que a trilogia representava. Elementos fortes de música clássica e sinfônica, com traços do metal gótico. Ok, era esperado essa sonoridade? Sim. Mas o melhor é que, diferente de uma certa banda secular que eu até admiro muito e que demorou mais de uma década pra lançar um disco completamente incoerente e ruim (Guns N' Roses e "Chinese Democracy", respectivamente), Requiem - Pianissimo cumpre seu papel magnífico, sendo possivelmente uma obra clássica digna de, caso Jesus não volte daqui a três séculos, ser tão relembrada quanto clássicos de Mozart, Vivaldi, Beethoven, Chopin, Bach, Wagner, Handel e outros mestres da música clássica. Essa fusão de goticismo com música clássica é de longe a melhor jamais executada na história. De fato, "Requiem" e seus três volumes são uma obra impressionante, vale demais a pena se deliciar nela por completo.
O futuro? Bem, finalmente libertos da cobrança pela obrea Requiem completa, o que se espera é que novidades impressionantes possam vir através dessa dupla. Anseio muito pelos próximos capítulos, e que sejam cada dia mais belos como a banda sempre vem executando <3
Simplismente MAGNÍFICO....resenha perfeita para uma obra perfeita. VB é e será uma lenda...parabéns pela resenha.
ResponderExcluirAss: Naldo Cinzas