quinta-feira, 28 de novembro de 2019

Homenagem aos 15 Anos da Comunidade Extrema Unção


É fantástico quando um ministério cristão cresce, resiste e persiste na missão, amadurecendo ano após ano e cada vez mais mostrando-se parte do Corpo Universal da Igreja de Cristo aqui na Terra. De um "bando de meninos" que diziam alguns que estariam "brincando de igreja" e que isso "não vai durar 3 meses", formou-se um ajuntamento forte e resistente, que tem dia após dia aprendido o conceito de comunidade, unidade e diversidade. A Comunidade Extrema Unção de Recife continua firme indo muito além de um "ministério emergente underground", ou uma "igreja de roqueiros" como vulgarmente alguns ainda teimam em classificar-nos (sendo que vamos bem além disso, pois lá é "onde as tribos se encontram", como diz nosso lema a anos - e parafraseando pastor Ivan, se você não for de nenhuma tribo, "você vai ser da Tribo de Jesus", trecho de uma música da épica banda pernambucana Acesso Livre).

Vou aqui resumir um pouco da história e importância desse ministério, porém antes também um apanhado do cenário antes da Extrema surgir, e no final mais algumas homenagens feitas por mim.

ANTECEDENTES

O rock cristão no Brasil começou de maneira mais notória em 1970 com a banda Êxodus de São Paulo. Logo outros grupos como Vencedores por Cristo, Cristocêntrico, Os Meninos de Deus, Jovens com Cristo, Jovens da Verdade, Grupo Elo, Triumpho, Os Cantores de Cristo, Lula Batista, Antonio Carlos, Tenente Rubens de Oliveira, Wolô, Som Maior, Comunidade S8, Sonoros, dentre outros que ora pegavam carona na Jovem Guarda que já fazia sucesso no Brasil, ora tentavam aqui e ali incluir elementos da Tropicália, Rock Rural, psicodelia, rock progressivo, até um pouco de hard rock.

Nesse ínterim, um grupo surgiu em Recife no ano de 1974, os Embaixadores de Sião. Formado com o apoio do pastor Aurílio Carneiro da Cunha na Igreja O Brasil para Cristo de Recife, no seu primeiro álbum "Jesus, O Amigo da Hora" fez diversas versões de músicas americanas no estilo Jovem Guarda, mas também incorporaram elementos de rock progressivo, seresta, MPB e pop. Por suas fileiras passaram outros nomes importantes no desenvolvimento musical cristão em Pernambuco, como José Carlos, Afonso Augusto (in memorian) e Rildomar.

Nos anos 1980 alguns tentaram seguir nessa coragem musical na igreja, como Eliã, Novo Reino (do pastor Augusto Nicodemus - sim, esse mesmo!), Pacto, Bom Pastor e Artecristã (essa última posteriormente seria incorporada pelo grupo MILAD, onde conseguiriam gravar algumas de suas canções). Ao mesmo tempo, no lado "secular" da força, o rock que andava a marcha lenta em Pernambuco - a exceção de umas trupes do "udigrudi" como Ave Sangria e Lula Côrtes - vivia sua efervescência com o surgimento de uma cena underground mais forte, com bandas como Câmbio Negro (HC), Realidade Encoberta, Cruor, Herdeiros de Lúcifer, Devotos do Ódio, Cristal, dentre outras. Com um posicionamento geralmente bem oposicionista ao cristianismo e outras formas de expressão religiosa, essa relação pioraria bastante nos anos 1990 com a influência do black metal norueguês. Além disso, nesse tempo os poucos grupos de rock cristão daqui eram mais reservados, tocando apenas em igrejas e eventos evangelísticos, negando-se a apresentar-se em shows seculares.

Nos anos 1990 com o advento do rock gospel, mais grupos foram surgindo, como Candelabro, Acesso Livre, Heaven, Cavaleiros do Rei/Tempero, Sarepta, Louvor Heavy e Anno Domini, só pra citar alguns. Parte deles eram de iniciativa própria em igrejas mais compreensivas com essa visão, outros eram frutos da Igreja Renascer em Cristo, que trouxe consigo o Christian Metal Force que eles tinham incorporado na igreja em SP desde meados dos anos 1990. Sendo assim grupos como Pentateuco, Verdade Crua, Shelter Manifesto e Calvário D.C. nasceram dessa conjectura. Enquanto isso, na Primeira Igreja Batista do Recife, localizada na avenida Conde da Boa Vista em Recife, grupos de jovens iam se formando e organizando pequenos ministérios com o objetivo de evangelizar tribos urbanas. Surfistas de Cristo, Skatistas de Cristo (que formariam pouco depois a ARCA, o mais antigo ministério underground em funcionamento aqui no Estado) e pouco depois o Ministério Metal. Dessa leva, viriam o Louvor Heavy (já citado), Alta Cúpula, Holokausto (do pastor Daniel Caveira da ARCA), Tu És, HxBx 12 e alguns outros grupos de menor duração.

Material na época era relativamente escasso, alguns eram vendidos em lojas cristãs e em algumas lojas seculares como a Blackout Discos e a saudosa B-Side. Programas como o Geléia do Rock, o CMF na antiga Rádio Manchete Gospel FM e de vez em quando na saudosa Rádio Cidade Recife FM, bem como pra alguns privilegiados assistir em canal fechado a programação da Rede Gospel eram os meios antes das redes sociais da internet se popularizarem. Contato por cartas e encomenda de algumas zines, envio e compra de materiais fretados eram as formas de comunicação mais comuns daqueles tempos, e como foram úteis, por incrível que pareça, já que Candelabro e Acesso Livre por exemplo tiveram um bom destaque e foram citadas em zines como a saudosa White Metal Detonation, e revistas como a também saudosa CCM Brazil.

Eventos eram poucos a princípio, mas foram lentamente se amplificando. Normalmente de porte pequeno, como os clássicos Segunda do Peixe em Cavaleiro, Jaboatão, com o tempo graças ao investimento de caras como André Gustavo da loja Blessing (surgida já no final dos anos 1990 e extinta em meados dos 2000 - virou produtora e até hoje realiza alguns shows gospel) foram aparecendo eventos como o Resgate do Rock (em prol do Projeto Resgate) e o Recife Agosto de Rock. Grupos de fora do Estado como Catedral, Fruto Sagrado, Trino, Antidemon, Skymetal e outros foram dando as caras por aqui, dando razão pra própria Renascer entre 2000 e 2001 realizar edições do SOS da Vida (seu maior festival até hoje realizado só em SP a muitos anos) aqui em Pernambuco, trazendo diversas bandas de fora e dando espaço pras pratas da casa.

No início dos 2000 duas bandas bem importantes pro underground cristão pernambucano surgiram: Soterion (unBlack metal), liderada por Emanuel (Nel) e Implement (death metal), formada até hoje pelos mesmos integrantes: pastores Ivan Ribeiro e Márcio Ananias, junto a Angelo Acácio. Nesse período outros grupos foram se desenvolvendo, e os eventos ficando mais fortes, encontrando espaço inclusive no saudoso Dokas Hall, que foi a maior casa de eventos de rock de Pernambuco até seu fechamento em 2005.

SURGIMENTO DA ZADOQUE RECIFE E PRIMEIROS ANOS - SURGIMENTO DA UNDERBLOOD PRODUCTIONS

No final de novembro de 2004 a galera do Ministério Metal da PIBRecife viu que precisava de dar um passo adiante, e logo passariam a se reunir na parte de fora do Edifício São Cristóvão, na Boa Vista (na época o prédio onde um dia funcionou a rádio Cidade e onde também funcionava a loja da Blessing, atualmente continua como um prédio comercial, embora hajam indícios de que tenha também se rendido ao comércio da prostituição em alguns de seus apartamentos...). Embora grande parte deles fossem garotos - e isso inclusive gerou alguns comentários maldosos por parte de alguns críticos da iniciativa da turma - seguiram firmes no direcionamento de Deus. Com a vinda de pastor Antônio Batista do Antidemon no final de 2004 foi institucionalizado que aquele núcleo seria a Comunidade Zadoque Recife (à época o ministério liderado por Batista assim chamava-se, desde 2007 seu nome mudou para Crash Church). A galera chegou a reunir-se em outros lugares ao longo de mais de um ano, como na Praça do Arsenal e no apartamento onde outrora fora a loja Blessing, também nessa época nasceriam alguns grupos como Spiritual Live, Divinus Imperium, Holy Sacrifice, Necro Metal, Envoy, Desinfernality, Against Death, Krone, Sistema Protestante, Alpha Cross, Pacto de Sangue, Colisiun, e pouco depois Vox Sanguiniis, Salário do Pecado, Legacy e Angel's Fire fariam companhia a esses projetos, alguns de curta duração, porém importantíssimos. Alguns shows e lançamentos de discos viriam por esses tempos.

Em 2006 a igreja finalmente encontrou uma sede, na Rua São João, próximo à estação central de metrô do Recife. Com esse espaço foi possível a realização de diversos shows, numa época em que a cena underground cristã de Pernambuco estava praticamente morta. Eventos como o Brutal Destruction of Hell, Punk Praise Fest, Night of Heavy Metal (posteriormente Noite do Heavy Metal) e Hardcore em Curto Espaço foram só os primeiros passos para o Underblood Fest. Realizado a 01/04/2006, a primeira edição do evento já mostrava que estavam dispostos a torná-lo um marco pra cena pernambucana, pois dos eventos oficiais foram 11 de 2006 a 2016, afora uma edição especial em Natal-RN, uma edição especial em 2019 e várias prévias, que mostravam a importância do evento ao ponto de vários outros praticamente serem preparações pro UBF, que só seria realizado por dois anos na antiga sede, e desde a terceira edição sempre realizado em casas de shows e espaços no Recife Antigo, onde realmente os eventos undergrounds ainda persistem em rolar com maior frequência em meio a uma cidade tomada por estilos aberrantes como o brega funk (não pelo estilo em si, mas pelas atitudes e valores - desvalores pra ser mais preciso - que os principais nomes do gênero - nomes esses que mudam tão rápido que mostra bem a qualidade nula e desprezível desses - apregoam por aí afora, como sexo fácil, traição e pornografia).

MUDANÇAS DE NOME E LOCAIS

Em 2007 a igreja decidiu se desfiliar do conglomerado da Comunidade Zadoque (que estava também em processo de mudanças internas para virar a Crash Church) e seguir "com as próprias pernas". Alguns nomes foram usados como Espaço Underblood ou Comunidade Underground de Pernambuco, mas por fim o nome Comunidade Extrema Unção foi afixado, e desde então segue como nosso nome.

No final de 2008 o ministério passou por problemas financeiros (a maioria da turma estava ainda tentando um emprego fixo! Boa parte do pessoal ia pra igreja de ônibus e/ou metrô e as vezes tinha que se fazer cotinha pra pagar a passagem da galera!) e tornou-se inviável continuar no prédio da rua São João. Mas como um ministério sério, não temeram essa situação e decidiram por se reunir na própria estação central do Recife, primeiramente na área externa e nos últimos anos antes da nova sede numa área próxima à bilheteria do metrô. Isso não inviabilizou a realização de eventos, embora obviamente com uma frequência relativamente menor. Ainda assim o ministério mantinha-se firme na missão urbana, conectado com outros ministérios como a ARCA, a Crash Recife (formada por uma galera que ajudou a fundar a Extrema ainda nos tempos de Zadoque), grupos de atuação urbana como o saudoso VER e o Avalanche, além de pessoal de fora. Participações na Marcha para Jesus em 2009 e 2010 mostraram a união e compromisso da igreja, que se confirmou com os primeiros batismos realizados pela igreja, bem como um projeto de curta duração em Florianópolis ajudando o lar Abdon Batista.

Depois de anos de lutas e resistência, em 07/09/2014 a CEU conseguiu restabelecer uma sede, na Avenida Falcão de Lacerda, nº 34, no bairro de Tejipió, próximo à estação de metrô do bairro. Apesar da relativa distância para o centro do Recife, o ministério segue forte no local a mais de 5 anos, e nesse tempo chegou-se por um período a se restabelecer a Rádio Web Extrema Unção (que existe desde 2008, porém sempre funcionou com intervalos longos de inatividade devido as dificuldades para manter uma rádio independente), além de outros projetos como o Extrema Ação, o Poetas do Reino, o Entre Nós (retomando ações de rua), o Papo Estreito, além dos ministérios Extremos Moto Clube e o Extremos Bike Clube. Mostrando a evolução e reforma constante da igreja nesse período surgiram também o coral Rosa de Saron e os Extreminhos (sim, esses 15 anos também trouxeram-nos uma nova geração crescente!). Mostrando novamente nosso compromisso com o Reino acima de placas denominacionais, permanecemos ampliando nossos contatos com outros grupos como o Esquadrão de Cristo, Igreja Presbiteriana A Ponte, Batista Sabaoth, Base Missionária Sebaoth - AM, Comunidade Impacto Subterrâneo - CE (quase uma "igreja filha" nossa), Bola de Neve Recife, Projeto LAB e Cristolândia Recife. E se diziam que o ministério "só tem roqueiro", o louvor da comunidade mostra o contrário, abrindo espaço não só para todos os ritmos, como também para o louvor tradicional do Cantor Cristão e da Harpa Cristã.

Enfim, ainda há muito a conquistar, como ter uma sede definitiva para nossas operações por exemplo, mas estamos na dispensação de Deus e onde estivermos o serviremos sem medo, pois "quem quiser ir onde eu vou, não pode olhar atrás", como diz uma das canções da Legacy, banda do pastor Márcio Ananias.

MINHA HISTÓRIA COM A EXTREMA UNÇÃO

Conheci por alto a galera em 2005 no Recife Agosto de Rock VI, com meus 17 anos de idade, ainda no ensino médio. Como eu era da Renascer na época (e mal sabia eu que com os dias contados - dois meses depois estaria na Água da Vida com minha mãe) eu só achei legal aquela turma da Zadoque existir também em Recife e quem sabe um dia eu desse uma passada por lá. Só vim reencontrar eles em 2008, nas saudosas Segundas Rock da Renascer Beberibe (minha ex-igreja - entre 2002 e 2009 eu morei no Arruda, Recife) organizadas por um amigo meu de colégio a quem apresentei Jesus - e também o rock cristão -, Alessandro Rodrigues. Nesse tempo já eram Comunidade Extrema Unção e graças ao Orkut (saudoso Orkut!) fui fazendo amizade com alguns deles. O saudoso fórum CMFreak também foi de uma ajuda preciosa pra mim em 2010, quando eu voltei pra Rio Doce, Olinda e tinha me isolado bastante do pessoal da minha igreja. Alguns não entendiam por exemplo meu amor pelo rock e metal cristão e isso se amplificou com um certo problema que eu passei com alguns lá que tentaram desqualificar minha imagem perante meu antigo e querido pastor Marcos André - que muito depois reconheceu que "aparência e transparência, quem vê cara não vê o que só Deus pode ver!". Comecei a andar com o VER (Vidas Em Revolução, antigo grupo de missões urbanas) e através deles ampliei meus contatos com o pessoal da Extrema e da ARCA. Logo em 2011 estava de volta aos eventos undergrounds e em 2012 meu primeiro Underblood Fest, o VII, que eu ajudei inclusive a divulgar massivamente (um dos meus primeiros trabalhos pro site Whiplash foi divulgar esse evento e depois fazer a resenha dele). Vez por outra visitei a Extrema nos tempos do metrô e a partir de 2014 já na nova sede. Em 2016 participei do Poetas do Reino lá - com um poema que depois apresentaria o Festival Avalanche no mesmo ano - e pouco depois oficializei minha filiação em definitivo com a igreja. De lá pra cá participei da organização de alguns eventos, divulgação, poesias, tenho tentado fazer tudo o que Deus me permite para que a glória de Deus se manifeste naquele lugar, mesmo através de vidas tão desesperadamente falhas e necessitadas de Deus como nós. Lá também em 2016 conheceria a minha namorada Vanessa Dantas, e desde o final de 2017 estamos juntos e, a despeito das dificuldades, buscando um dia a união definitiva e pra glória do Senhor. Não tenha dúvidas: eu realmente amo a Extrema, e mesmo que a anos eu tenha uma visão multiministerial (ou seja, não considere-me como um "membro orgulhoso que bate no peito e diz que sou da melhor, não, da única igreja cristã", como muitos irmãos infelizmente ainda veem dessa maneira suas vidas e eu mesmo já achei que ministério era o mais importante; hoje ajudo qualquer ministério que Deus me mandar visitar como se fosse membro de lá), eu tenho amor eterno pelo ministério que Deus me colocou. Não me importa muito possibilidade de holofotes ou destaque, o que importa é, mesmo em nossa pequenez e falibilidade, sermos servos e carregar os fardos uns dos outros. Aprendi isso na Extrema e nunca largarei mão. Deus seja conosco até que não precisemos mais de clamar "Maranata!", pois aí estaremos com todos os outros servos do Senhor após seu "Triumphal Return" na "nova terra e vamos reinar ao Seu Lado, oh Deus!"


Não é uma quinzena, são quinze anos
Na busca pela retidão (Zadoque) que vem de Deus
De carona pro paraíso seguimos sem parar com nosso Legacy
Extinguindo o Worm in our Brain, Implement a Verdade
Justify by Blood não temos mais que pagar o Salário do Pecado
Nos Improvisos da vida somos Bambus no Inverno a Viver Jesus
Com o Angel's Fire nas mãos, na Nova Terra vamos reinar ao lado do Senhor
As Vox Sanguiniis dos justos calarão os gritos dos que ficarem fora das Paredes da Cidade Santa
Vamos à Luta lutando pelo o que é direito nesse F.abuloso M.undo de I.lusões
Desinfernality a nós mesmos, liderando the chosen with sagacy of snake
Amando e perdoando Seventy Times Seven, botamos a fé no jogo, Golias no Chão!
O Soterion Jesus Suntribuh Satan com Suas Holy Battle Legions
Sem temer a Batalha Imperial Against Death
O Divinus Imperium reflete o Path a seguir
Na Alpha Cross do Alfa e Ômega não há mais Cemitérios da Saudade
E tantas outras histórias de vidas espirituais de todos os tempos
Em quinze anos deixamos relevância nessa Terra
Underblood de Cristo somos Extremos na Verdade
E assim seremos até o fim de nossa terrena jornada
E não precisamos da extrema-unção dos sacramentos romanos
Pois a Unção Extrema de Jesus nos marcou para a Eternidade
.
.
"Unção Extrema (Quinze Anos On The Rock)" 24/11/2019

sexta-feira, 22 de novembro de 2019

100 músicas mais importantes para o rock cristão



Por sugestão do ÚNICO que realmente me deu uma ideia pra um post comemorativo dos 100 posts do blog (Obrigado Márllon Matos) - mostrando que realmente muita gente que se diz fã de rock cristão parece nem ligar pro que eu faço nesse blog, mas enfim, não faço pra ganhar aplauso de nenhum tolo humano, faço pra glória de Deus - esse post eu quero elencar as que na minha opinião e pesquisa foram as 100 mais importantes músicas para o rock cristão. Nessa lista aparecerão músicas da era pré-rock, músicas do início do rock e posteriormente do rock cristão e de vários subestilos, e não só bandas e cantores ditos cristãos de fato.

Os critérios que usei foram: pioneirismo, influência, importância pra cena ou inovatividade (ainda que não tenha tido tanto impacto assim na cena).

Vou começar com uma menção honrosa a "Rockin' and rolling in the arms of Moses", música de 1916, um spiritual negro cantado por vários grupos, o mais conhecido chamado The Camp Meeting Jubilee. Essa faixa eu cito por ser a primeira vez na história da música em que os termos "rock and roll" aparecem juntos, ainda que num contexto religioso. Genial!


01 - It's Nobody's Fault But Mine - Blind Willie Johnson (1927)

Um dos primeiros gospel blues da história, influenciou gerações de artistas do blues ao heavy metal (basta lembrar que até o Led Zeppelin mandou sua versão dessa música). Na época em que foi lançada o blues era considerado um estilo pagão e impossível de ser usado na igreja, inclusive muitos que se aventuraram nessa questão simplesmente usaram pseudônimos para poder se apresentar. Blind Willie, um reverendo cego, nunca viu problemas em usar seu nome real, e assim Nobody's Fault But Mine viraria um marco, com versões diversas de artistas cristãos ou não tais quais Nina Simone, Grateful Dead, Glenn Kaiser & Darrell Mansfield, John Renbourn e até uma versão mais secularizada, porém ainda assim uma versão, de Led Zeppelin. A letra da original fala basicamente a maior das verdades: Sem Deus estamos todos condenados!

02 - Great Change Since I Was Born (The Great Change in Me) - Reverend Gary Davis (1935?)

Mais um clássico do gospel blues, influenciou bastante artistas de blues e rock que surgiriam anos mais tarde. E a letra é simplesmente fantástica, ao falar da mudança grandiosa que Deus faz em nós.

03 - Take My Hand, Precious Lord (Precious Lord, Take My Hand) - Heavenly Gospel Singers (1937)

Uma canção fantástica do reverendo Thomas A. Dorsey, inspirada numa canção do século anterior chamada "Maitland" de George N. Allen, datada de 1844. Thomas fez devido a morte de sua esposa, e tornou essa canção um épico em célebres enterros (foi cantada por Mahalia Jackson no enterro de Martin Luther King e mais tarde Aretha Franklin cantaria no enterro da própria Mahalia). Além da versão original de 1937 e da versão da Mahalia (a primeira gravação dela dessa música data de 1956), também ganhou versões de Sister Rosetta Tharpe, The Blind Boys of Alabama, Aretha Franklin (no mesmo ano de 1956 que Mahalia gravou sua primeira versão), Elvis Presley, B.B. King, Chet Atkins, Little Richard, Nina Simone, Ike & Tina Turner, Andrae Crouch, B.J. Thomas, Pat Boone, Whitney Houston, dentre muitos outros. Em 2007 foi incluído no Christian Music Hall of Fame, além de outras honrarias, como o Grammy póstumo em 2012.

04 - (There Are) Strange Things Happening Every Day - Sister Rosetta Tharpe (1944)

Um tradicional hino de spiritual que acabou ganhando fama ao ser gravado pela Sister Rosetta Tharpe e atualmente é considerado por muitos especialistas em rock como a primeira canção genuinamente rock (apesar que musicalmente esteja mais próxima de um Ritmo & Blues), numa época em que o termo nem era usado para música. Incrivelmente em 1945 ele tornou-se um hit nacional, sendo a primeira música gospel da história a ultrapassar as fronteiras da música cristã, tornando-se sucesso inclusive em rádios não-cristãs. Até Johnny Cash gravou uma versão dessa maravilha em 1979.

05 - (There'll Be) Peace in the Valley (For Me) - Elvis Presley (1957)

Embora a canção de Thomas A. Dorsey advenha de 1937, quando foi gravada a primeira vez por Mahalia Jackson, e tenha ganhado fama desde o início dos anos 1950 com Sam Cooke (numa versão mais gospel) e com Red Foley (numa versão mais country que inclusive foi a primeira vez que uma música gospel atingiu mais de um milhão de cópias vendidas), foi com Elvis Presley que Paz no Vale virou um hit definitivo, conectado diretamente com o mundo do rock, haja vista que nesse ano Elvis já era tido como o "Rei do Rock". Isso amplificou o alcance dessa música, que ganharia versões ao longo dos anos, de artistas como Little Richard, Quincy Jones, Johnny Cash e Ann-Margret, dentre outros. A maior importância dessa canção sem dúvidas é ter sido a primeira música cristã a atingir diretamente o universo da pop music.

06 - Satan is Real - The Louvin Brothers (1959)

Fusão de gospel com country, "Satan is Real" é mais lembrada pela capa bem bizarra dos irmãos Louvin do que pela música genial do disco homônimo, que chegou a ter músicas coverizadas por Emmylou Harris e The Byrds. O crítico musical Scott Walden chega a dizer que a genialidade desse disco é comparável com o primeiro álbum do Velvet Underground (!), guardadas as diferenças óbvias de temática (já que o grupo capitaneado por Lou Reed ia no extremo do underground na temática e letras sobre drogas e vida junkie, na contramão do que os irmãos Louvin apregoavam nesse disco).

07 - Turn, Turn, Turn! (Everything There is a Season) - Pete Seeger (1959/62)

Turn Turn Turn tornou o capítulo 3 de Eclesiastes a letra não-musical mais antiga da história gravada por alguém como música (sendo do século X antes de Cristo pelas mãos do rei Salomão) - obviamente excluíndo os salmos, porque salmos são músicas obviamente, diferente de Eclesiastes 3. Esse folk de Pete Seeger acabou ganhando o mundo afora, sendo sua versão mais famosa cantada pela banda secular de rock psicodélico The Byrds, mas também foi gravada por Resgate, Emmylou Harris e Dolly Parton, dentre outros. Ganhou também um aspecto de canção anti-guerra, além de ter inspirado outras canções tiradas diretamente de textos bíblicos como "40" de U2, "Psalm 33" de Sinéad O'Connor e "The Millenium Prayer" de Cliff Richard, dentre outras.


08 - Gentle Christ - A Man Dies (1964)

Embora pouco lembrado, o projeto A Man Dies, baseado no folk blues e folk rock, é provavelmente o primeiro grupo a fazer um som na linha do rock cristão, antes mesmo de Sound Generation, The Sons of Thunder, Mind Garage e The Crusaders. Gentle Christ é só uma das canções gravadas por eles naquele ano de 1964, anos antes da revolução chamada Jesus Movement e um pouco antes do movimento hippie que inspiraria o Jesus Movement.

09 - People Get Ready - The Impressions (1965)

O "hino não-oficial do movimento pelos direiros civis" segundo Martin Luther King, a canção de Curtis Mayfield quando fazia parte do The Impressions chegou a ser eleito pela revista americana Rolling Stone como a 24ª música mais importante da história e pela Mojo ele entrou no seu Top 10 das melhores músicas de todos os tempos (lembrando que ambas publicações são seculares!). Ganhou covers de artistas de diversos estilos, cristãos e não-cristãos, como Bob Marley, The Housemartins, Oficina G3, Darrell Mansfield, Larry Norman, Rod Steward e Jeff Beck, Human Nature, dentre outros.

10 - Jesus is Just Alright - The Art Reynolds Singers (1966)

Com esse nome que curiosamente causou polêmica (sério!), sendo All-Right algo similar a "Legal" na nossa língua portuguesa (fazendo um trocadilho com uma música da banda Tempero, "Jesus é Bom a Beça" seria uma boa tradução kkk). Essa música tornou-se um marco, sendo cantada não só por bandas cristãs como dc Talk e Stryper, mas também por bandas seculares como Doobie Brothers e The Byrds, essas últimas ainda lá nos idos dos anos 1960/70, levando a música cristã ao mainstream.

11 - Respect - Aretha Franklin (1967)

A canção de Otis Redding tornou-se um hino daqueles durante os tempos de lutas pelos direitos civis dos negros norte-americanos, capitaneados por Martin Luther King e Rosa Parks, e a interpretação irada de Aretha Franklin unificou todos que buscavam essa igualdade de direitos de maneira pacífica, principalmente entre os negros cristãos - embora também tenha sido usado como um hino dos movimentos igualitários feministas (antes do feminismo virar essa pocilga sem noção atual).


12 - Oh Happy Day! - The Edwin Hawkins Singers (1967/8)

Inspirado num hino do século XVIII, do clérigo Phillip Doddridge, "Ó, Dia Feliz!" tornou-se um dos maiores clássicos de toda a história da música cristã, só equivalente em importância a Amazing Grace. Serviu de inspiração até mesmo para George Harrison compor sua clássica "My Sweet Lord" (essa última em homenagem ao avatar de Vishnu, Krishna, da religião hinduísta - porém vez por outra convertida em canção cristã!). Diversas vezes coverizada, sua aparição mais famosa sem dúvidas foi no filme "Mudança de Hábito 2" de 1993 com Whoopi Goldberg cantando com um coral de jovens de um colégio religioso de freiras.


13 - Asphalt Mother - Mind Garage (1968)


Saído em single juntamente com "Reach Out!", Asphalt Mother ganhou o nome curioso de "Theo-Rock" na época em que saiu, num tempo em que o termo "christian rock" nem existia. Podemos portanto considerar em definitivo essa canção como o marco zero do mercado do rock cristão como passaria a ser conhecido. Mind Garage ainda gravaria em disco no ano seguinte sua "liturgia elétrica", uma das primeiras formas de música litúrgica (aquelas canções instrumentais ou corais de fundo em igrejas mais tradicionais) em som rock. Essa liturgia eles já executavam desde 1967 na sua igreja.

14 - Kyrie Eleison (Mardi Gras with the Saints) - The Electric Prunes (1968)

Duvidosamente alguém na face da terra imaginaria até então uma gravação de música litúrgica em rock (ok, o Mind Garage como citado anteriormente já vinha executando essa ideia desde 1967), mas quando a banda secular de rock psicodélico The Electric Prunes lançou o disco Mass in F Minor chocou a todos. Inspirado na Mass in F Minor de Josef Schnabel (escrita no século XVIII ou XIX), pegou diversas canções clássicas da liturgia, dentre elas a Kyrie eleison ("Senhor, tem piedade" em grego). Essa faixa fez tanto sucesso que no ano seguinte apareceria na trilha sonora do famoso filme Easy Rider - Sem Destino.

15 - Exodus - The Imperials (1968)

Canção originalmente feita pelo grupo inglês The Tornados em 1964 em seu estilo clássico instrumental, ganhou uma versão cantada pelo grupo de gospel/rock The Imperials em 1968, no início de sua mutação de um grupo de southern gospel pra um grupo mais pop/rock. Essa canção acabou sendo imortalizada, tornando-se um clássico moderno nos níveis de gospels clássicos como Joshua Fit the Battle (Vem com Josué Lutar em Jericó), Swing Low Sweet Chariot, Roll Jordan, dentre outras. Ganhou versões de Elvis Presley (com quem os Imperials cantavam na época), Adilson Lopes, Thalyta, Novas de Alegria, dentre outros.


16 - If I Can Dream - Elvis Presley (1968)

Gravado para os especial de natal de Elvis pra NBC, esse fantástico hino de Walter Earl Brown possuía em sua letra algumas falas de Martin Luther King (que foi assassinado dois meses antes da gravação original de Elvis da música), e a gravação do Rei do Rock tornou-se um verdadeiro clássico e uma música de conscientização do movimento negro fora de série, além de na versão ao vivo ter ganhado um pouco de status de música contra a guerra do Vietnã.

17 - I Believe God is Real - Ralph Carmichael (1969)

Um dos pais do rock cristão, Ralph é reconhecido por ter composto e arranjado músicas para filmes e séries seculares, como "A Bolha" de 1959 e "Bonanza", mas também muitos trabalhos de cunho cristão, sendo chamado de um dos pais do rock cristão. O disco de 1969 "Tell It Like It Is" é um dos primeiros trabalhos cristãos de rock a oficialmente sair em disco (junto com Electric Liturgy do Mind Garage e Upon this Rock do Larry Norman). Esse disco teve uma fama um tanto controversa: foi usado numa historinha bizarra de missionários que teriam levado uma K7 desse disco pros nativos africanos que disseram assombrados "por que está colocando essa música que nós usamos também esse ritmo, só que com o objetivo de adorar demônios?" (sendo que no disco inteiro você mal se ouve uma bateria, muito menos bumbo, e obviamente àquela altura o rock nem tinha chegado direito lá - a explicação bizonha desse conto da carochinha é que o rock já existia havia séculos na África e de lá foi pros EUA... espaço para risadas!). Enfim, essa bela canção é uma das mais famosas do disco, sendo uma das muitas que o Vencedores por Cristo adaptou aqui pro Brasil (essa com o nome "Deus é Real").

18 - I Wish We'd All Been Ready - Larry Norman (1969)

Upon this Rock marcou época como o primeiro disco de rock cristão reconhecido como tal. E nele um épico sobre a volta de Cristo. A canção marcou tanto já naquele tempo que o próprio Larry regravaria pouco depois no disco seguinte, e seria regravada por outros, mas mais que isso, tornou-se a primeira música de rock cristão a ser usada numa trilha sonora de um filme cristão, o filme "Um Ladrão na Noite" de 1972, interpretada por um grupo feito unicamente pro filme, "The Fishmarket Combo".

19 - Presence of the Lord - Blind Faith (1969)

OK, esse é bem polêmico!!! Afinal, não é só uma música cantada por um supergrupo secular (à época Eric Clapton não havia ainda se convertido, embora já fosse entusiasta do Jesus Movement), mas tinha uma das capas mais controversas da história... bom, sem entrar nos detalhes seculares, a questão maior daqui é essa canção, tão única do Eric, que demonstra um amor real por Deus. Foi coverizada por diversos artistas cristãos ao longo dos anos, mostrando o quanto de valor essa faixa adquiriu com o tempo.

20 - Jesus Cristo - Roberto Carlos (1970)

No Brasil rock cristão era algo ainda impensável (a Banda Êxodus tava surgindo naquele ano de 1970 inclusive). Assim, deve ter sido um espanto pros cristãos brasileiros a música "Jesus Cristo" de Roberto e Erasmo Carlos, lançado no álbum de Roberto de 1970, que embora seja de transição do rock/Jovem Guarda pro pop/MPB/romântico, é inegavelmente a primeira vez no Brasil de forma inclusive mainstream que o nome de Cristo era proclamado em uma canção mais "moderna" musicalmente falando (essa com um coral gospel de acompanhamento num tempo em que o gospel americano era praticamente desconhecido no Brasil). Logo Roberto seguiria fazendo canções em homenagem ao Rei dos reis, como Todos Estão Surdos de 1971 (que receberia um baita cover do Chico Science & Nação Zumbi em 1994), Ele Está pra Chegar de 1981, Luz Divina de 1991 e Jesus Salvador de 1994 - essa última coverizada tempos mais tarde pelo seu "clone vocal" J. Neto. Já "Jesus Cristo" ganharia versão de Mara Maravilha pouco antes de sua conversão. Posteriormente a partir de meados dos anos 1990 Roberto acabaria por abandonar músicas direcionadas a Deus e passaria - infelizmente - a cantar em louvor de "nossa" Senhora... uma lástima!

21 - Life - Otis Skillings (1970)

Enquanto os não-cristãos faziam operas rock zombando do cristianismo como Godspell e Jesus Christ Superstar, Otis deu uma bicuda ao criar uma opera rock 100% cristã chamada "Life (A Young World Musical)". Marcando bem o território da criatividade musical cristã e provando que existem talentos inigualáveis e muito superiores aos zombeteiros, chegou até mesmo a ganhar uma versão brasileira totalmente traduzida integralmente ao português, pelo Coral Jovem de São Paulo, com o nome "Vida" (provavelmente em 1973), além da música "Relevant" ter ganho também versão pelo grupo de Jovem Guarda cristã brasileira Os Ligados, no disco "Atual" de 1973 (com esse nome, "Atual").

22 - Put Your Hand In The Hand - Ocean (1970/1)Clássico instantâneo de Anne Murray que ganhou uma belíssima versão já em 1970 nas mãos da Ocean, e logo viraria mais que um hit, pois vários grupos ao longo dos anos fariam versões desse clássico, sendo as versões mais afamadas de Larry Norman e The Imperials. O sucesso dessa faixa foi realmente impressionante, atingindo o nº 2 na Billboard Hot 100 (lista das cem músicas mais ouvidas nos Estados Unidos).

23 - My Tribute (To God Be the Glory) - Andraé Crouch & The Disciples (1971)


Soul fantástico, uma das canções mais marcantes da black music cristã de todos os tempos, virou um dos maiores clássicos da história, já tendo ganho versões as mais diversas, inclusive no Brasil (seu primeiro interprete em português foi o saudoso Luiz de Carvalho). "Tributo (A Deus Toda Glória)" é um fantástico som que influenciou músicos cristãos ao longo dos anos, inclusive dentro do rock.

24 - After Forever - Black Sabbath (1971)

Anos antes de alguém pensar na existência de metal cristão (aliás, o próprio heavy metal era um garotinho), a banda responsável por criar esse estilo mostrou que não tinham nada de banda "do mal" como muitos tentavam apregoar, desde o primeiro disco colocando temáticas cristãs em suas músicas. After Forever sem dúvidas é a mais bem desenvolvida nesse sentido, uma letra que questiona até hoje os cristãos mundo afora "será que Jesus virou pra você apenas um nome num livro?".

25 - Man in Black - Johnny Cash (1971)

Johnny Cash foi possivelmente o primeiro cantor e compositor cristão de rock/country a não temer fazer canções de protesto, e Man in Black representa bem isso. Uma letra anti-guerra do Vietnã, contra a exploração dos pobres, o encarceramento excessivo sem programa de recuperação de presos e contra os políticos ladrões. Coragem sem dúvidas nunca faltou pro Boss. Ganhou anos mais tarde uma versão do grupo de punk cristão One Bad Pig (com participação do próprio Johnny) e uma versão estranha em espanhol do grupo Loquilo y Trogloditas.

26 - Happy Xmas (War is Over) - John Lennon and Plastic Ono Band (com o coral comunitário do Harlem) (1971)

Anos antes de virar aquela música ultra irritante em português (Então é Natal) cantada por Simone (e alguns outros cantores brasileiros de igual mau gosto, Happy Xmas era muito mais que uma música natalina chatola cantada no Natal em lojas e departamentos, e sim uma crítica bem dura aos cristãos -  norte-americanos principalmente - que continuavam a financiar a Guerra do Vietnã. John e Yoko fizeram campanhas enormes espalhando outdoors pelo mundo dizendo "a Guerra acabou, se você quiser, feliz natal de John e Yoko". Mesmo não sendo cristão - e por vezes demonstrando um posicionamento francamente anticristão em suas declarações -, John via na festa que comemorava o nascimento de Cristo uma expressão do amor que deveria ser espalhado, o mesmo amor que os cristãos primitivos tanto apregoavam. Por essas e outras sim, essa faixa merece estar aqui!

27 - Eye of the Hurricane - Fraction (1971)

Quando o rock progressivo ainda estava dando as caras no mundo, é impressionante que já naquela época uma banda cristã faria algo já com essa pegada. Ok, Fraction tá mais pra uma fusão curiosa de The Doors, Pink Floyd e Led Zeppelin (esse último principalmente nos vocais), mas já indicava um som que ia rumo ao progressivismo. Lamentavelmente não foram muito mais longe que isso, mas deram o marco zero do gênero na música cristã.


28 - Why Should the Devil Have All the Good Music? - Larry Norman (1972)

Hino épico e supremo do rock cristão, sem dúvidas. Acho que o que eu disser acerca dessa música é mais do mesmo, mas é uma canção que toma emprestado uma fala de Martinho Lutero "por que o diabo tem de ficar com todos os bons tons?". Sacramentou de vez o estilo do rock cristão, tornando possível a revolução do rock cristão mundo afora.

29 - Change of Heart - Agape (1972)

Provavelmente a primeira banda a realmente dar a cara a tapa pra fazer um hard rock cristão (tá que outras como Out of Darkness, Fraction e All Saved Freak já tinham surgido nessa época, mas não com o destaque que a Agape teve). Até hoje pra mim essa música contém uma das melhores canções do hard rock, além de uma narração irada no início da música mostrando que apesar de todos os grandes avanços da humanidade, continuamos infantes e cegos sem mudar nossos corações, algo que nenhum de nós é capaz de fazer, exceto Jesus Cristo. Agape abriu as portas para grupos como Petra, Servant, Resurrection Band e várias outras do hard rock e posteriormente do metal cristão.

30 - Galhos Secos - Banda Êxodus (1973, só gravada pela banda em 2006)

Qualquer cristão brasileiro já ouviu essa ou praticou no violão. Nem precisa na realidade ser cristão, quando lembramos que ela virou meme (...). A pioneira do rock cristão no Brasil já tinha ganho no ano anterior o primeiro lugar num festival em Itajubá-MG com a música "Maravilhas", e no ano seguinte "Galhos Secos" garantiria o terceiro lugar. Infelizmente a banda demoraria anos pra conseguir gravar sua versão, devido falta de money e apoio da igreja, mas ainda assim conseguiram perpetuar seu legado ainda em 1978 com a gravação por Domingos Costa, e posteriormente ressurgiria pelas mãos do Conjunto Som Maior nos anos 80 e na versão provavelmente mais famosa, a do Catedral nos anos 90.

31 - God Gave Rock'n'Roll to You - Argent (1973)


Será que a banda secular Argent imaginava que estava criando um louvor que seria perpetuado ao longo dos anos por bandas como Petra, Bride, Oficina G3 e, vá lá, pelo Kiss e Steve Vai? Pois é, GGRNRTY é um épico eterno da música cristã, e sim, sem medo de afirmar que Deus criou o rock and roll. Ok, o Petra deu uma leve modificada na letra na sua versão (que foi quase integralmente seguida pelo Kiss inclusive essa modificação!), mas a essência da mensagem foi mantida sem nenhuma dúvida.

32 - Viajem - Jovens da Verdade (1973)

No ano anterior a missão JdV já tinha mandado um petardo chamado "Drogas Matam", um dos primeiros sons cristãos denunciando os perigos do uso de substâncias ilícitas. Mas foi com Viajem (posteriormente corrigido pra expressão correta, "Viagem") que a banda conseguiu atingir em cheio a juventude brasileira com uma letra bem "viajadona" (desculpa o trocadilho kkkk), além de um ritmo psicodélico e praieiro, uma mistura de surf rock com MPB usando um ukulele muitos anos antes da popularização por parte da trupe indie rock. Foi a porta de entrada pra outros grupos similares como os Cantores de Cristo, Cristocêntrico, Jovens com Cristo, Comunidade S-8, dentre outros.

33 - Fly, Fly, Fly - Larry Norman (1973)

Larry seguiu o caminho oposto da galera cristã e em 1973 no seu disco So Long Ago the Garden investiu em letras mais "secularizadas", de acordo com a crítica geral de muitos ao seu redor. Ignorando tais críticas, Larry fez história como um dos primeiros a romper as fronteiras da música cristã dentro do rock cristão, exemplo que seria seguido por outros artistas como Randy Matthews, Bruce Cockburn, Sam Phillips, Tonio K., Jars of Clay, Amy Grant, Michael W. Smith, Sixpence None the Richer, Catedral e as bandas do Novo Movimento no Brasil, dentre outros.

34 - Fire - Sister Irene O' Connor (1976)

Obscura é pouco pra definir essa. A freira australiana produziu em uma missão em Cingapura o disco "Fire of God's Love", e praticamente criou um som dificílimo de nomear ou rotular. Com influências do rock psicodélico, música sacra, folk e com sua voz angelical, além de uma gravação lo-fi com um clima ambient, é simplesmente impossível definir o poder dessa gravação. Redescoberta a poucos anos por estudantes de música, tornou-se uma ótima pedida entre fãs de música obscura.

35 - Lord of the Starfields - Bruce Cockburn (1976)

Dificilmente uma faixa cristã ganhou o destaque que essa ganhou nos livros e cinemas. Ok, muitos anos depois, graças "A Cabana" - que é bem contestado por muitos cristãos, mas isso não cabe aqui. O fato é que essa canção (que eu já citei na lista das mais bíblicas canções de rock cristão) já era genial desde seu surgimento, não a toa ainda em 1980 ganharia sua primeira versão cover com Pam Mark Hall. Bruce seguiu sua carreira como um dos mais inventivos cantores cristãos - e sem dúvida o mais famoso do Canadá -, inclusive por atingir diversos públicos muito além do cristianismo.

36 - First Day - Austin Roberts (1976)

Sem sombra de dúvidas o disco mais progressivo do rock cristão setentista (obviamente não existia um Neal Morse ainda), "Eight Days" é outro clássico obscuro que merece ser relembrado, em especial pela coragem e qualidade soberbas. Um relato curioso sobre a criação do mundo, além de mostrar a nossa responsabilidade com o mundo nesse nosso "oitavo dia" em que continuamos a viver até hoje.

37 - (Until) Your Love Broke Through - Marcia Hines em 1976, Phil Keaggy e Keith Green em 1977

Difícil dizer qual das três versões dessa canção de Keith Green, Todd Fishking e Randy Stonehill é a melhor para ser elencada aqui, com isso preferi colocar logo as três. Provavelmente a versão mais famosa seja a do Phil (já que de certo modo deu nome ao seu segundo disco solo), mas a versão primeira a ser gravada pela cantora de disco music americo-australiana é tão marcante quanto. A versão mais coberta de teclados e emocionante de Keith Green também é imortal. Anos mais tarde vários cantores (incluíndo aí outro dos autores dessa canção, Randy Stonehill) fariam suas versões, mostrando o alcance impressionante desse hino.

38 - Rise Again - Dallas Holm & Praise (1977)

The Imperials e Bill Gaither já vinham fazendo um som de rock mais "soft" para levar como louvor e adoração, mas Dallas Holm sem dúvidas foi o grande precursor do chamado "Worship Rock", e com seu grupo de louvor ele deu ao mundo um clássico eterno, que ganharia poucos anos depois uma versão bem traduzida em espanhol pelo precursor da música evangélica no México, Danny Berrios, chamada "Resucitare" (sim, esse cara na época bigodudo que sua avó evangélica capaz de ter LPs dele e que viria bem antes de Marcos Witt e Jesus Ádrian Romero).

39 - Asleep in the Light - Keith Green (1978)

Desafiadora até os dias de hoje, "Asleep in the Light" inaugura uma sequência de canções contestadoras de Keith em sua curta carreira, como "Unless the Lord Builds the House", "The Sheeps and the Goats", "A Billion Starving People", dentre outras. Altamente comprometido com a necessidade de uma missão integral para a igreja, Keith sempre contestou a morosidade de muitos ditos cristãos, e essa faixa deixa isso bem patente. Muitos anos mais tarde inspiraria o ministério Clamor pelas Nações, que faria uma belíssima versão dessa música.

40 - Lasting Impressions - Deliverance (Canadá) (1978)

Anos antes de DiscoPraise dar as caras no mundo, ainda nos tempos em que a disco music estourava nas discotecas mundo afora, essa banda canadense teve coragem de mandar esse som no meio cristão, fazendo história como os precursores da disco music cristã, um ritmo que curiosamente acabou sendo pouco explorado na música gospel, muito devido a fama de "sensualidade" que o ritmo acabou adquirindo ao longo dos anos.


41 - Gotta Serve Somebody - Bob Dylan (1979)


"Eu sirvo a mim mesmo!", teria dito um despeitado John Lennon em uma de suas últimas canções em vida como resposta ao hino feito pelo multipremiado mestre de folk rock em seu primeiro dos três discos da fase gospel de sua carreira, "Slow Train Coming". Com um coral gospel de acompanhamento e com a afirmativa mais desafiadora de todas: "Talvez ao diabo, ou talvez ao Senhor, mas TODOS SERVEM A ALGUÉM!"

42 - Etc e Tal (Ponte) - Rebanhão (versão de SP) (1979)

Atualíssima (infelizmente, diga-se de passagem), "Ponte" revela o que de pior corrói o mundo cristão no Brasil e no mundo, com pessoas "embaixo da ponte" "invisíveis" e "roubando e matando sem saber de uma cruz, sem saber de Jesus", enquanto em cima da ponte "no lugar de destaque", muitos ditos crentes "se acham no direito de ficar descontentes com Deus" porque não adquiriram uma bênção material ou se apegando a dogmas e doutrinas humanistas e passageiros (naquela época não era difícil crentes proibirem uso de TV ou até mesmo tentando definir o cardápio dos irmãos). Sem dúvidas uma letra que mantém sua significância, haja vista a persistência de tantos muros de hipocrisia na sociedade cristã.

43 - Afrikaans - Resurrection Band (1979)

Em geral listas de músicas "politizadas" feitas por grandes veículos de mídia mundo afora elencam "Biko" do cantor secular inglês Peter Gabriel (ex-Genesis), gravada em 1980, como a primeira música a denunciar pro mundo inteiro os horrores do Apharteid na África do Sul. Com isso dito, e sem desmerecer o alcance que a canção do excêntrico cantor conseguiu, alguém o precedeu. Rez Band com Afrikaans trouxe consigo a primeira mensagem direcionada ao povo americano sobre quão terrível era o regime de exclusão social e racista ocorrido naquele país. Uma lástima que iniciativas como a da REZ (que ainda repetiria a dose com Zuid Afrikan anos mais tarde) e de Peter Gabriel demorariam a surtir efeito de fato na África do Sul, que só começaria enfim a se livrar dessa vergonha no início dos anos 1990, em especial com a eleição do saudoso líder negro Nelson Mandela.

44 - Movies - Writz (1979)

Ex-membros do grupo de folk rock cristão Fish Co., o Writz (que ao longo dos anos mudaria de nome outras duas vezes) nunca chegaram a fazer muito sucesso, além de não terem passado de algun singles e um único disco full, conseguiram antecipar dentro da música cristã uma tendência musical que estava rolando naquela mesma época: a New Wave. Sem dúvidas um dos grupos mais contemporâneos ao som que estava rolando à época (junto ao punk, esse entretanto só entraria no universo do rock cristão bem depois).

45 - Jesus is Love - Commodores (1980)

Certamente que fãs de Faith No More devem lembrar bem de Commodores devido terem estes sido os compositores e intérpretes originais de um clássico daqueles, "Easy". Mas bem além de fazer canções românticas e algumas até meio sexualizadas, o grupo de Soul e R&B capitaneado à época por Lionel Richie - compositor inclusive desse clássico aqui mencionado - também mandavam muito bem no gospel. "Jesus is Love" é a prova certa disso. Essa canção, que posteriormente ganharia uma versão em português pelas mãos capazes da trupe do Rebanhão chamada adequadamente "Jesus é Amor", mostraria que ali na Motown ainda haviam muitos artistas fieis às suas origens cristãs, não temendo expor essas mesmas crenças.

46 - New Way of Livin' - 100% Proof (1980)

Até então algumas bandas como Rez Band, Daniel Band, Messiah Prophet, Barnabas, Vatten e Jerusalem apenas esboçavam um heavy metal cristão. Tudo mudou quando a única (que eu saiba) banda de NWOBHM cristã surgiu. A partir dessa banda britânica o metal cristão começaria de fato, e assim seguiu até aos dias de hoje.

47 - Baião - Rebanhão (1981)

Rock rural é um estilo que praticamente só existe no Brasil (nunca ouvi falar de bandas do gênero em outros países pelo menos). No LP "Mais Doce que o Mel" Janires e cia mostraram que estavam mesmo a frente do seu tempo (na verdade desde o K7 de 1979, com influências da tropicália, já mostrava o talento incrível do saudoso Janires). Depois que saiu de SP pra RJ e juntou sua nova formação, conseguiu mostrar esse talento a níveis incomensuráveis, e até hoje o multiestilo do Rebanhão e suas letras são quase impossíveis de serem igualados no mundo inteiro. Afora que esse rock rural dele inspiraria alguns outros ao longo dos anos, inclusive o próprio Janires faria uma versão 2 dele, chamada "Baião Eletrônico" em seu único disco pela Banda Azul anos mais tarde.

48 - Hounds of Heaven - Daniel Amos (1978/1981)

Seguindo os passos da Fish Co. que viraria Writz, Daniel Amos também saiu do country rock simples que faziam até 1978 e se lançaram na New Wave, mas no caso deles com uma pegada mais próxima do Talking Heads, bem mais experimental. Hound of Heaven, que ganharia dois covers curiosos de Larry Norman anos mais tarde, inspiraria vários atos de New Wave mais tarde, como Steve Taylor e IdEOlA, dentre outros.

49 - Stuck in the Middle - Mark Heard (1981)

Músicas cristãs questionando a religiosidade fingida e cega não eram novidade na cena, mas poucas até então sintetizaram tão bem essa questão - o mais próximo dessa música que eu vi na minha vida foi "Who Is Against?" e "We Still Against" da Saint Spirit - e Mark Heard exprimiu bem seu drama em estar muitas vezes entre os santos e os pecadores e a incompreensão de ambos os lados. Mark enquanto viveu trouxe letras inteligentíssimas e questionadoras, que sempre nos levaram a pensar muito sobre a vida que vivemos como cristãos.

50 - Jesus Christ (the Gospel Beat) - Pete McSweet (MC Sweet) (1982)

Quando o hip hop e rap estavam surgindo no mundo era um som bem diferente, visivelmente inspirado no funk e no soul (mas já muito mais fixado nas rimas e improviso). Não demorou muito pra que em 1982 um garoto de Queens, New York abriu as portas do estilo pro mundo cristão, dando o pontapé inicial pro gospel rap ou christian hip hop (também chamado de gospel hip hop ou holy hip hop), e logo seria seguido por grupoe e cantores como Stephen Wiley, P.I.D., Gospel Gangstaz, dc Talk (e tobyMac em especial), Lecrae, Tonex, DJ Alpiste, Apocalipse 16, Se7en e mais recentemente Kanye West, isso sem falar de grupos que começaram a fundir o rap com o rock e seus subgêneros, como o já citado dc Talk e vários grupos de nu metal que surgiriam a partir dos anos 1990.


51 - Plastic Surgeon - The Predators (1982)


Marco zero do punk cristão, a banda britânica The Predators (que também tinha uma quedinha pela New Wave) abriu as portas para uma multidão de bandas das mais diferentes vertentes do punk e hardcore cristãs. Apesar das críticas que sofreram à época, se mantiveram firmes por alguns anos a mais e inspiraram sem dúvidas diversas que viriam a seguir.

52 - I Want to Be a Clone - Steve Taylor (1983)

O rei dos questionadores, sem sombra de dúvidas, sempre foi e sempre será Steve Taylor. Não é todo dia em que se encontra um cara como esse, que não poupava críticas a nada da sociedade. Seu instinto questionador por vezes é até perturbador, mas é valioso demais. Essa canção em especial é uma bela cutucada nos religiosos de plantão, abrindo as portas para cantores que se seguiram arrebentar as portas da religiosidade.

53 - Agressive Angel - Heaven's Force (1983)

Dificilmente se esperaria àquela época uma banda de thrash metal cristã, mas Heaven's Force foi contra todas as espectativas. Apesar de ter sido sempre um grupo bem obscuro e underground, acabariam abrindo as portas para contemporâneas como Stone Vengeance, Have Mercy, Tempest e Deliverance. O som deles não deixavam nada a perder para grupos como a turma da Bay Area (Metallica, Exodus, Vio-Lence, Hirax, Testament e várias outras).

54 - The Tempter - Trouble (1984)

Embora até hoje hajam controvérsias quanto a fé da banda, Trouble em sua primeira década de existência fazia questão de em suas letras enfatizar a fé cristã. Sendo uma das bandas consideradas como fundadoras do doom metal, Trouble também teve uma "honraria" não muito bem vista pela banda até hoje: foram os primeiros a serem chamados pela Metal Blade (sua gravadora à época) de "White Metal", em contraste com bandas que estavam sendo chamadas de black metal como Venom, Slayer, Mercyful Fate e outras, devido as óbvias diferenças entre as temáticas (Trouble centrada no cristianismo e em Deus e as de black metal em satã e no mal).

55 - The Champion - Carman (1985)

Misturando pop, rock, rap e diversos outros estilos com uma técnica de composição bem alegórica e criativa, Carman conseguia fazer obras primas como Resurrection Rap, Lazarus Come Forth (que ganharia uma versão por Jorge Araújo chamada "Lázaro"), Sunday's On the Way (também Jorge Araújo faria uma versão: "Domingo Está Chegando") e essa que falo aqui: The Champion. Essa alegoria aqui é genial, colocando Jesus e o diabo como se estivessem num ringue de boxe (!) e curiosamente para o diabo, na hora em que ele acha que deu um nocaute em Cristo, a contagem de Deus na verdade é pro diabo, que grita de horror no final "ELE ESTÁ VIVO!" Embora muito criticado por alguns por essas alegorias, o fato é que esse estilo próprio de canção do Carman até hoje atinge multidões mundo afora.

56 - Victory - Deliverance (1985)

O Thrash e o Power metal cristãos ainda eram algo bastante underground, e naqueles tempos o heavy e o glam metal estavam dominando a música cristã (embora também fossem relativamente underground). Tudo mudou quando a californiana Deliverance chegou arrebentando tudo, elevando o power, o speed e o thrash metal a outra categoria. Daí pra frente o estilo começaria a ter seus frutos no metal cristão, com bandas como Tourniquet, Believer, Living Sacrifice, Mortification, Vengeance Rising, The Crucified, Trino, Desertor, Dissaffection, dentre muitas outras, além de deixar espaços pros estilos ainda mais pesados que ainda surgiriam, como o death metal, o grindcore e a escola escandinava do black metal. Já do lado power metal abriu as portas pro power/prog americano (Haven, Siam, Sacred Warrior), pro power alemão (Seventh Avenue, Lightmare, Medieval Heart), pro neoclássico (Impellitteri, Narnia) e pra turma progressiva (Darkwater, Harmony, Torman Maxt) e sinfônica (HB, Angel's Fire, Perpetual Legacy).

57 - To Hell With the Devil - Stryper (1986)

Stryper fez o metal cristão definitivamente sair dos circuitos do underground para a luz do mainsteam quando lançaram esse petardo que tornou-se influente até mesmo no circuito secular (concorrendo até a um Grammy). A maior banda de glam metal cristã de todos os tempos e pra muitos a maior de todas bandas cristãs de metal conseguiu abrir espaço para que o termo "metal cristão" (ou, vá lá, "white metal") fosse conhecido e reconhecido na cena em geral - pro bem ou pro mal, dependendo se você é uma pessoa mente aberta ou um tr00 tolo from hell... To Hell With the Devil é pra muito o hino definitivo do metal cristão.

58 - Romeo and Jane - Tonio K. (1986)

Experimentalismo em som e letras, Tonio K. sempre foi um artista bastante múltiplo, o que torna praticamente inclassificável seu som. Com "Romeo Unchained", disco de 1986, ele manteve isso, mas numa dimensão gigantesca. Só experimentando sua viagem sonora pra entender a intensidade que ele proporciona, até hoje tão variante que ajudou a existência de grupos corajosos que não temiam serem "diferentes".

59 - Shaded Pain - L.S.U. (LifeSavers Underground) (1987)

Rock gótico cristão já tinha dado um pouco as caras com os precursores da Crowd Control da Inglaterra, mas Lifesavers Underground realmente abriram as portas com tudo. A partir deles o goticismo deixaria de ser uma coisa "sinistra" e "diabólica", mostrando as origens cristãs do goticismo medieval presentes em sua obra, que seguiria com outras bandas como Idle Lowell (outro projeto de Michael Knott), The Awakening, No Longer Music, Spy Glass Blue, Mad at The World, The Prayer Chain, dentre outras, além de ter sido uma das bandas que ajudou a cunhar o movimento de rock alternativo na música cristã.

60 - Communion - Mortal (Wish) (1987)

Industrial rock/metal era uma novidade na época em que a Mortal Wish (futura Mortal) deu as caras no mundo. Os americano-filipinos Jyro Xhan e Jerome Fontamillas lançaram com a banda uma multidão de outros grupos que seguiriam seus passos, como Circle of Dust/Brainchild, Argyle Park/AP2, Level/LVL, Deitiphobia, Screams of Chaos, Generation, Klank, Rackets & Draps, Chatterbox, Kohllapse, dentre outras (não tantas infelizmente, mas uma quantidade significativa que atendeu o chamado para esse estilo).

61 - The Big "M" - Lust Control (1987)

Punk e Hardcore cristão estavam se formando com bandas como The Lead, The Crucified e Torn Flesh, mas Lust Control foi a primeira a socar a porta com letras controversas ao extremo. Quase sempre focadas na sexualidade e a necessidade de nos guardamos, causaram muito quando em 1987, vestidos com máscaras fajutas e se nomeando como a "pior banda cristã de todos os tempos", fizeram essa música sobre MASTURBAÇÃO!!! Por incrível que pareça - e a despeito da multidão impressionante de críticas que sofreram -, muitos acreditam que o movimento XXXChurch (aqui no Brasil chamado de SexxxChurch), que tentam retirar prostitutas e artistas pornográficos do mundo do pecado sexual - bem como pessoas normais que praticam todo tipo de lascívia -, de certo modo surgiu inspirados no projeto insano do dono da HM Magazine Doug Van Pelt, que seguiu fazendo músicas contra os programas fornicários de Planejamento Familiar americano (Planned Parenthood), cristãos que vivem uma vida dupla no quesito sexual (You Make Me Puke), cristãos que apontam o dedo para outros sem amor (Leave Amy Alone, Jesus Walked Judas's Feet), contra o ateísmo militante (Madolyn Murray O'Hair) e feministas radicais (Feminazi), apregoando a importância do casamento (What About Your Wife?, Get Married), dentre outros temas bem espinhosos...

62 - I Still Haven't Found What I'm Looking For - U2 (1987)

Que o U2 conquistou o mundo isso não é novidade pra ninguém, porém ainda me choca as pessoas ignorarem suas expressões de fé cristã ao longo da carreira. E se teve uma música que resumiu bem isso foi um de seus maiores sucessos. Escrita e composta como uma música gospel americana clássica (tal qual vários outros artistas fizeram ao longo dos anos, como Simon & Garfunkel, Beatles, Foreigner, dentre outros), a música alcançou limites fora de série, tanto que no ano seguinte no filme Rattle and Hum eles apareceriam com o coral de Harlem cantando essa música de uma forma única (na versão CD eles executaram uma versão mais completa da que foi apresentada no filme). Ganhou versão até do Catedral (Eu Ainda Não Vi o que Sempre Quis) e é uma das marcas registradas da fé cristã presente no trabalho de uma das maiores bandas de pop/rock de todos os tempos.


63 - Nosso General - Comunidade da Graça de SP (1988)

Música congregacional já existia a muito tempo, mas Adhemar de Campos ousou inserir esse tal de "rock'n'roll" num disco congregacional ao vivo. Nosso General, junto a "Homem de Guerra", e posteriormente "Ele é o Leão da Tribo de Judá", se tornariam algumas das primeiras expressões do gênero em grupos de worship & praise, como Renascer Praise, Comunidade Carisma, Igreja Bíblica da Paz, Diante do Trono, Vineyard, dentre muitos outros.

64 - In the New Age - King's X (1988)

Os anos 1980 nos deram várias bandas que a gente ficaria "mas é cristã mesmo?". Warrior, Warlord, Steel Vengeance, Mad Max, Trouble, Kryst the Conqueror, Have Mercy, Realm, M.A.R.S., Impellitteri, Tyrant, dentre algumas outras. King's X provavelmente foi junto a Trouble e Impellitteri uma das maiores, quiçá a maior. Em duas coisas King's X conseguiu ser influente pacas: na escola do rock/metal progressivo texano (The Awful Truth/Galactic Cowboys, Tellus, Atomic Opera, Platypus/The Jelly Jam, Poundhound) e também, de acordo com muitos críticos musicais, foi uma das responsáveis pela existência do grunge no mundo (basta ouvir o som deles e, por mais que você veja o hard progressivo, o groove que a banda coloca já dá os primeiros sinais do que seria o grunge - tirando obviamente a influência do stoner e do doom metal e do rock alternativo que outros grupos colocariam mais tarde). Portanto, se você é fã de GS Megaphone, Grammatrain e 12 Stones, agradeça ao King's X também!

65 - I Love the Lord - Petra (1989)

Hard Rock e Praise numa mesma sentença pra quem já ouviu projetos como Stauros Praise e Resgate Praise nem causa espanto algum, mas em 1989 o Petra fazer isso com certeza causou um espanto em geral. Petra Praise trazia uma mescla de canções da própria banda com canções tradicionais de louvor, e fundindo seu próprio estilo musical com o estilo de corais de louvor americanos (southern gospel) - incluíndo aí um coral de vozes participando com eles. Petra criou uma tradição dentro do rock cristão de projetos similares, além de ter de certo modo antecipado essa onda de bandas que surgiriam a partir dos anos 1990 de "Worship Rock".

66 - Extra - Katsbarnea (1989)

Apesar de diversos precursores, o chamado movimento gospel no Brasil surgiu de fato em 1989, tendo durado toda uma década - a partir dos anos 2000 é bem difícil falar em movimento, haja vista que se antes a "música gospel" era uma vertente dentro da música cristã, depois de 2000 meio que passou a ser sinônimo, o que é um dos motivos de inviabilizar dizer que ainda existe um "movimento" hoje em dia. E é inegável que o Katsbarnea, criado pelo guru do movimento gospel brasileiro Estevam Hernandes e liderado à época pelo Brother Simion, é a banda que deu o pontapé inicial pro movimento, tendo em Extra seu hino definitivo. O Kats também inovou por, além de ser a primeira banda da década a ter uma ligação muito mais visível com o BRock que rolava na década - nos dois primeiros trabalhos eram quase um "Blitz gospel" -, não terem medo de falar de temas que antes eram apenas esboçados por corajosos como Jovens da Verdade, VPC e Luiz Artur, como drogas e hipocrisia religiosa.

67 - Mundo Vazio - Catedral (1989)

Se o Katsbarnea foi o arauto da música "gospel" no Brasil, digamos que o Catedral ainda no ano de origem do movimento semeou o que seria a implosão desse mesmo movimento. Explorando letras muito mais poéticas, românticas e por vezes bem longe da simplicidade que o gospel tornar-se-ia anos mais tarde, desde 1989 no segundo álbum deles a banda já se esforçava para mostrar caminhos fora dessa simplicidade. Não a toa há quem os considere os precursores no Brasil de um movimento musical que já vinha fazendo barulho em outros países, de bandas feitas por cristãos desvinculadas de um mercado "cristão". O Novo Movimento de certo modo também deve um bocado a eles.

68 - See No Evil - Holy Soldier (1990)

Aborto é um daqueles temas que até hoje dão dor de cabeça para os cristãos comentarem acerca (homossexualismo é outro - e vale uma menção honrosa aqui aos malucos da Torn Flesh que em 1989 mandaram "Gay Rights?" sem medo de levar muita crítica pela coragem). Ainda assim, Holy Soldier não teve medo e trouxe ao mundo uma bela canção que mostra de maneira alegórica do ponto de vista de um feto ao perceber que sua mãe está tentando o MATAR. A partir dessa diversas músicas como "Abortion is Murder" do P.O.D., "Fetus Mortus" da Afterdeath e "Aborto Não" da Desertor, dentre outras canções sobre o tema, foram elaboradas. Como cristãos temos sim que respeitar as pessoas, independente de seus erros, mas JAMAIS TER O ERRADO POR CERTO, doa a quem doer. Mesmo que doa em nós acima de tudo...

69 - Ark of Suffering - Tourniquet (1990)

Clipe proibido na MTV (!), Ark of Suffering foi o início da saga do monstro das baquetas Ted Kirkpatrick mostrando que sim, cristãos devem também defender os animais. Não não, não quero aqui dar uma de vegan chatola (até porque eu nem vegan sou kkkk), mas o fato é que a humanidade tem verdadeiramente usado de maneira errada a prerrogativa de "dominar a Terra" que nos foi conferida em Gênesis 2, e causado a devastação de florestas, ecossistemas e até biomas inteiros, bem como levando diversas espécies à extinção, muitas das vezes para satisfazer prazeres estúpidos como caça esportiva, pesca predatória, casacos de pele, uso para diversão estúpida em circos e em rodeios, vaquejadas e similares, uso como transporte completamente desnecessário, experiências desnecessárias e até mesmo criminosas, eutanásia de animais mais velhos, atropelamentos nas estradas - em muitos casos por puro prazer diabólico! -, dentre outras ações malignas. Essa temática merece ser muito mais explorada por todos nós cristãos, porque sim, temos que CUIDAR daquilo que nosso Deus nos deu. Como diria o Rebanhão em "Criação", "o que estamos fazendo pra merecer?"

70 - A Freedom Cry - Scaterd Few (1990)

O hardcore cristão já vinha dando as caras com o próprio projeto de Rämald Domkus (nome artístico de Allan Aguirre), mas foi enfim autenticado quando a banda lançou seu disco de estreia "Sin Disease", com letras extremamente criativas e uma coragem incrível. Musicalmente, além de um hardcore clássico, a banda seguiu os passos da secular Bad Brains (com quem inclusive tocariam juntos) e inseriu elementos do ska e do reggae, abrindo o caminho para projetos posteriores como Squad 5-O, The W's, The O.C. Supertones, dentre outros, além de ter inspirado uma certa banda californiana que já já dá as caras por aqui...

71 - Dies Irae (Day of Wrath) - Believer (1990)

Até 1991 a única banda que tinha tido coragem de inserir influências notórias de música erudita e lírica no metal tinha sido a secular Celtic Frost. Apesar disso, com todo o respeito, Into the Pandemoniun inteiro não chega aos pés dessa singela canção ou do disco seguinte da Believer, Dimesions (1993). A canção em questão sem dúvidas ajudou a criar o que chamamos de "Metal de Vanguarda", além de ser um dos primeiros exemplos autênticos de metal sinfônico no planeta Terra (!). Enfim, o soprano de Julianne Laird aqui mudou sem dúvidas a história da música metal!

72 - Baby Baby - Amy Grant (1991)

Quando Amy Grant lançou "Baby Baby", não imaginaria o caos que isso causaria. Rádios cristãs recusaram-se a tocar a música por acharem-na totalmente desprovida de temática cristã, cristãos conservadores diriam que ela teria traído sua fé por investir na carreira secular - algo que ela já vinha esboçando desde os anos 1980 -, e alguns chegaram a especular que o clipe da música estimulava a traição e a fornicação (só não sei onde diabos viram tudo isso!). Independente de toda a polêmica, Amy conseguiu levar sua mensagem a outros públicos que não o cristão, e abriu os caminhos para outros artistas que não temeriam falar de amor e, como diria Francis Schaeffer, mostrariam que louvor a Deus vai muito além de recitar a Bíblia, um credo ou encher de "Jesus te ama".

73 - Agnus Dei - Michael W. Smith (1991)

Chega até a ser curioso que eu invés de comentar sobre as canções menos "religiosas" que MWS cantaria a partir desse álbum, o Go West Young Man, eu tenha enfatizado justamente a mais religiosa de todas. Mas fazer o que amigo, essa canção, juntamente com "Awesome God" de Rich Mullins (1989) atravessaram o mercado do pop/rock gospel, tornando-se imortais hinos de louvor a Deus em linguagem contemporânea. Nem preciso falar muito mais sobre o alcance dessa música, acredito que no mundo inteiro ou em grande parte dele alguém já ouviu essa música ou uma versão dela (aqui no Brasil já vi um monte de versões haha).

74 - S.O.S. Vida - Paulo Cézar Graça e Paz e vários artistas (1991)

"We Are the World" e "Do They Know It's Christmas?", bem como "We Are Stars", marcaram gerações pela iniciativa de artistas do pop a fazerem campanhas para ajudar os mais necessitados, bem como eventos tais quais o Live Aid. Em 1991 a Renascer em Cristo faria o evento, o SOS da Vida, em SP, e no mesmo ano, o saudoso gênio Paulo Cézar Graça e Paz não teve dúvidas e reuniu uma tropa de artistas para o que seria o "USA For Africa" brasileiro. Assim nasceria essa belíssima canção de autoria também do ex-Paralamas do Sucesso Mattos Nascimento e um elenco enorme de cantores, a maioria da Line Records. Carlinhos Félix, Beno César & Natan Brito (à época no Banda & Voz), Cristiane de Carvalho, Ed Wilson, J. Neto, Shirley Carvalhaes, Sérgio Lopes e vários outros fizeram desse single uma inspiração pra pouco tempo depois Caio Fábio idealizar com Josué Rodrigues, Betinho e a trupe da Renascer o LP "Atitude e Solidariedade".

75 - Scrolls of the Megilloth - Mortification (1992)

Verdade que bandas como Creation of Death, Vengeance Rising, Red Ink, Drop Dead e Empty Tomb já vinham fazendo um som que flertava com o death metal - e, aliás, o próprio Mortification desde quando ainda se chamava Light Force na última demo "Break the Curse" (1990), mas foi em 1992 o ano em que eles conceberiam o hino mestre do metal extremo cristão. A canção sobre os cinco rolos de Megilloth (Cantares, Rute, Ester, Lamentações e Eclesiastes) e sua aplicação para nossas vidas é considerado, junto com todo o conjunto da obra do disco homônimo, uma das maiores, talvez a maior, expressão do death metal cristão, e também causa de alguns probleminhas pra Nuclear Blast (que quando lançou o disco sofreriam ameaças dos fãs tr00s from hell - mal imaginavam esses que dois anos mais tarde a Nuclear Blast lançaria um desafio beeeeeeeeeem maior...).

76 - The Birth and the Massacre of the Innocents - Paramaecium (1993)

Alcançar o topo de um gênero é uma honraria sem dúvidas impressionante, e também não é todo dia em que uma banda cristã chega lá, mas desde o seu primeiro disco, Exhumed of the Earth, o Paramaecium já mostrou que seriam a maior banda de doom/death metal da história. Um épico sem tamanho (e sem trocadilhos kkkkk), a faixa colocada aqui realmente é uma aula do estilo, com elementos geniais de doom, death, música clássica e goticismo.

77 - Guerra ao Inferno - Antidemon (1994)

Um dos primeiros e legítimos grindcores cristãos, o som da Antidemon tornou-se lendário não só pela sonoridade brutal em si, mas também pelas letras. O Antidemon tornou-se a inauguradora de uma tendência muito comum entre as bandas de metal extremo cristãs da América Latina, de letras sobre "guerra a satã e sua corja". E tudo começou com essa curtíssima canção de menos de 3 minutos (ok que a versão de 1999 tem um pouquinho mais, mas a de 1999 tá mais pra death/grind que grindcore kkkk). Se o Venom, ainda que na base da zueira, tinha em 1982 (e mais especificamente em 1983) proclamado estarem "At War with satan", a banda Antidemon tornaram-se os arautos da guerra CONTRA satã!

78 - Mine Heart Doth Beseech Thee (O Master) - Beheadoth (Horde) (1994)

Quando a coletânea Godspeed: Australian Metal Compilation saiu em 1994 continha entre suas várias bandas uma entidade misteriosa chamada Beheadoth, fazendo um black metal extremamente cabuloso. Pouco depois, já com o nome Horde e comandada pelo então misterioso Anonymous (posteriormente saberíamos ser o multiinstrumentista Jayson Sherlock), nasceria o chamado "UnBlack" Metal, e de lá pra cá, mais de 15 anos depois, o mundo do metal cristão nunca mais seria o mesmo (e as ameaças da tropa tr00 também não hahaha!)

79 - Berlin '38 (Next Year in Jerusalem) - Jerusalem (1994)

Verdade que músicas sobre o Holocausto já existiam (vide Auschwitz '87 de Barnabas de 1986), porém a sueca Jerusalem conseguiu ir além de só discorrer sobre o tema. Em maio de 1994 essa canção, juntamente com trechos do filme "A Lista de Schindler" de Steven Spilberg, foram executados em rede nacional na Holanda para relembrar os terrores do Holocausto. A música cristã contemporânea tem o poder de alcançar diversos lugares e consciências, basta aos músicos cristãos tomarem consciência desse poder e voz que temos, e deixar que Deus leve essa mensagem em lugares que nem suspeitariamos ser possível!


80 - Draw the Line - P.O.D. (1994)

25/01/1994: Nasce o nu metal. Preciso dizer mais alguma coisa? Fãs de metal alternativo e new metal devem demais ao P.O.D., sejam esses fãs cristãos ou não. Aliás, na realidade é bem visível que o P.O.D. é uma banda que conseguiu mais do qualquer outra ultrapassar as barreiras da "música cristã", atingindo em cheio todos os públicos. Simples assim.

81 - I Need Love - Sam Phillips (1994)

Leslie Phillips virou Sam Phillips quando cansou do mercado "gospel" e suas pressões, exigências e aparências. Curiosamente, já no disco mais famoso de sua carreira secular "Martinis & Bikinis", numa canção que acabaria ganhando posteriormente versão da Sixpence None the Richer, ela colocaria todo seu caos pessoal exposto aqui, numa brilhante forma de fazer a sociedade cristã pensar o que é verdadeiramente ter amor e não prisões sentimentais, e ter Deus e não politicagens eclesiásticas.

82 - Jesus Freak - dc Talk (1995)

O auge do rock alternativo cristão foi conquistado por dc Talk, originalmente uma banda mais puxada pro rap, mas que foi evoluindo e do hip-hop de Nu Thang (1993) eles rapidamente fizeram uma fusão de estilos que culminou nessa maravilha aqui citada. Elementos do grunge, hip-hop, hard rock, ambient e outros gêneros todos fundidos num hino inigualável, que elevou toda a cena do rock alternativo cristão para sempre.

83 - Sacrifício Perfeito - Rosa de Saron (1995)

Metal católico? Pois é, até Rosa de Saron gravar seu primeiro LP "Diante da Cruz" isso seria impensável no MUNDO INTEIRO. Porém a banda, que anos mais tarde adotaria um estilo mais pop/rock, abriu os caminhos de diversos grupos como Eterna, Beatrix, Extremo Unção, Testemunha, Ceremonya, Iahweh e muitas outras, além de serem os primeiros a unificar de maneira determinante a cena do metal cristão, aparecendo em diversos eventos do saudoso Refúgio do Rock, organizado pelo pastor Sandro Baggio.

84 - Flood - Jars of Clay (1995)

Juntar dc Talk, Adam Again, Aunt Beans, Prayer Chain, Audio Adrenaline, Vigilantes of Love, Delirious?, Jacob's Trouble, Third Day e Jars of Clay numa mesma época só poderia dar em uma era de ouro pro rock alternativo cristão. A fusão de estilos feita pelos "Jarros de Barro" é insana, com influências da música clássica, folk, eletrônica e pop. Além disso, Dan Haseltine e cia sempre investiram em letras poéticas e que fugiam do lugar comum da música cristã. Flood é um exemplo supremo disso, e é curioso que esteja no mesmo disco que "Love Song For a Savior", uma canção de worship incrível, bem mais simplista que o som insano de Flood.

85 - Human Extinction - Vomitorial Corpulence (1995)

Grindcore cristão era algo pouco explorado até que a banda australiana de splattercore VxCx deu as caras no mundo. A partir deles uma leva espantosa de bandas de "antimúsica" se seguiriam (nota do editor: até eu faria alguns projetos afins kkkk), pelo mundo afora várias surgiriam com o chamado, como a alemã Vomitous Discharge, a polonesa No Return to my Vomit, a americana Eternal Mystery, a panamenha Rehumanize e a brazuca Empty Grave, dentre muitas outras, com discos cada vez mais brutais e sinistros.

86 - I Could Sing of Your Love Forever - Delirious? (1995)

Embora nascidos da leva do rock alternativo cristão dos anos 1990, a inglesa Delirious? deu um passo adiante quando do lançamento de "Cutting Edge 2", investindo em canções de worship (adoração a Deus) com uma climática bem "ambiente" para o culto. Pronto, estava dado o pontapé inicial pra leva de bandas e ministérios voltados pro rock mais "de adoração", como SonicFLOOD, The Katinas, Hillsong United, Filhos do Homem, Fernandinho, David Quilan, dentre muitos e muitos outros que parecem que não acabam mais.

87 - Valley of Decision - Christafari (1996)

Reggae cristão já tinham uns projetos do gênero, alguns artistas que se aventuravam de vez em quando no gênero (inclusive aqui em Pernambuco a Sarepta já dava seus sons desde 1994), porém só quando o Christafari lançou seu segundo disco em 1996 o gênero mostrou de vez a que veio. O ex-rastafari Mark Mohr, que posteriormente viraria pastor, dirige até hoje esse ministério musical que até hoje influencia músicos do quilate de Nengo Vieira e Salomão do Reggae, bem como P.O.D. (que vez por outra taca uns reggaes no seu som) e até uma banda brasileira que se chamava adequadamente "Christafari-Brasil".

88 - Ameno - ERA (1996)

Quem vivo está e nunca ouviu essa música provavelmente mora numa caverna. Essa canção em pseudo-latim do francês Eric Levi mostra um lado bem genial e criativo, raro de se vê, de fusão do rock com um coral de influência gregoriana (o English Chamber Choir), uma união tão perfeita que torna o ERA um caso muito a parte das bandas de "new age".

89 - Reborn Empowered - Living Sacrifice (1997)

O metalcore era um gênero ainda em formação, e o groove metal um gênero em ascensão crescente, quando o Living Sacrifice em seu quarto álbum, com os vocais de Bruce Fitzhugh substituíndo Darren Johnson e inserindo no som thrash death da banda elementos de groove metal e hardcore, sendo assim uma das primeiras bandas juntamente com ZAO e Training for Utopia a levar o metalcore aos seus primeiros passos, tornando-se os precursores da enorme safra de bandas do gênero, bem como bandas que investiriam em elementos como mathcore e djent.

90 - Kiss Me - Sixpence None the Richer (1997)

Sem dúvidas o auge das bandas cristãs que investiam também em música romântica e "secular", Sixpence conseguiu levar esse single a um rank altíssimo na Billboard e por um bom período entre os mais vendidos e tocados. Diversos covers, aparições da música em seriados e filmes, tudo isso foi levando a banda a atingir públicos os mais diversos, mais uma prova de que como cristãos podemos sim usar dessas estratégias para conseguir chegar longe com a mensagem do Evangelho impressa em nossas vidas muito além das palavras. "So kiss me!"


91 - Anybody Out There? - Burlap to Cashmere (1998)

Rock latino a lá Maná e Santana é uma parada muito genial de se fazer. Pois é, também tivemos na música cristã nossos representantes. E não, não tô falando do Salvador (nada contra os caras aliás) e sim da banda dos descendentes de gregos John Philippidis e Steven Delopoulos. Apesar de a banda ser afamada por mais elementos de música folk grega (que também é uma coisa bem única deles), é com "Anybody Out There" e "Basic Instructions" (do mesmo disco) que eles se superaram, com elementos de salsa e cumbia inseridos sem medo no seu rock alternativo. Merecem muito mais destaque do que lhes foi dispensado.

92 - Kongsblod - Antestor (1998)

A norueguesa Antestor foi muito além de uma banda de "Un"Black metal, trazendo uma bela mistura sonora que eles chamaram de "sorrow metal". Black, Death, Doom, Gothic e outros sons que são praticamente únicos na história da humanidade. Esse tipo de criatividade que torna o som cristão realmente valioso, e é possível a todos nós chegarmos lá.

93 - Codebasher! - Frank's Enemy (1998)

O experimentalismo é uma coisa a ser louvada no mundo da música. E Julio Rey tornou-se o maior de todos nesse sentido. O metal extremo e o grindcore sempre foi um bom terreno pra essa parada. Abrir as portas para o experimentalismo na música cristã é sem dúvidas perfeito.

94 - Why Does My Heart Feel So Bad? - Moby (1999)

A música eletrônica cristã não é muito comum (a exceção de casos como o de discos da coleção Arrebatados Remix e uns remixes por aí afora, são raros os caros de bandas dedicadas a esse intuito). Moby, embora mais reconhecido como um artista secular, é um dos melhores nesse sentido, e essa canção é uma das que ele mostrou sua fé em Deus. A partir daqui começou a a ter mais espaço pro gênero (aqui no Brasil mesmo no mesmo ano o DJ Ramilson Maia mandou em seu disco "Ram Science" a faixa "Só Jesus Salva", e pouco depois ele faria um disco genial chamado Gospel Electronic Music).

95 - Fader Vaar - Vaakevandring (1999)

A melhor versão da oração do Pai Nosso musicada da história na minha opinião. Na verdade acho difícil que alguém diga diferente quando ouvir o som folk metal de Vaakevandring. Junto a Holy Blood, Oskord, Arvinger e Slechtvalk trouxeram ao mundo do metal uma beleza inigualável.

96 - Museum of Iscariot - Virgin Black (2002)

Até hoje, por mais que eu tenha procurado, nunca encontrei uma banda que conseguiu criar uma sonoridade tão fora de série como a de Virgin Black. Assomado com uma lírica criativa e desafiadora, Virgin Black quebrou fronteiras e tenho certeza que até hoje inspira vários músicos pelo mundo afora.

97 - Bring Me To Life - Evanescence (2003)

Apesar das polêmicas que a associação do nome "Evanescence" com a música cristã as vezes causa pra muitos, a verdade é que como Amy Lee sempre disse, a banda tem sim muita influência da fé cristã deles. Bring Me To Life é uma das provas disso (além da famosa participação de Paul McCoy da 12 Stones - outra banda que ultrapassou fronteiras).

98 - Default - KEKAL (2003)

Na Indonésia tem metal cristão? Pois é, não só tem como tem uma das mais criativas, inventivas e diferenciadas bandas da história. Originalmente uma banda de black metal, a partir do disco de 2003 "1000 Throughts of Violence" a banda fugiu completamente dos padrões do metal, inserindo tantos elementos sonoros que até hoje é difícil definir seu som. Muitos chamam de post-metal. Sendo como for, Kekal tornou-se aquele ponto sem retorno de criatividade musical cristã. Até hoje é praticamente impensável um som como o que eles fariam a partir daqui e até hoje o fazem.

99 - As I Lay Dying - Forever (2003)

O metalcore melódico é um dos estilos mais imitado (e até as vezes ojerizado) da atualidade. E uma das bandas que elevou esse estilo a esse patamar se chama AILD. Graças a eles surgiram uma multidão de novos artistas que em alguns casos encheriam de criatividade o som cristão, como For Today, Demon Hunter, August Burns Red, Sleeping Giant, Retrieve e Impending Doom, ou fariam ao menos uma continuidade ao estilo - apesar de em muitos casos ser mais um "mais do mesmo".

100 - Onde Encontrei Tudo - Aeroilis (2004)

Pra fechar a lista, a banda que deu origem ao que Palavrantiga, Tanlan, Os Oitavos, Quarto Fechado e alguns outros artistas fariam com maior propriedade. Aeroilis teve vida curta, mas nesse tempo conseguiram romper as fronteiras do gospel, com letras inventivas, uma sonoridade meio indie rock (embora ainda sem abusar do ukulele) e um desafio a essa geração de artistas cristãos de não nos limitarmos ao mercado "gospel" (em especial desde que ele virou quase um sinônimo de música cristã, embora de maneira indevida e não solicitada por vários artistas cristãos). Numa próxima lista falarei acerca dos pré-"Novo Movimento" (o nome dado pelo próprio Aeroilis pra definir essa movimentação que eles iniciaram).


____________________________________

Depois de 2005 poucas foram as novidades e sons realmente marcantes que modificaram de alguma forma a história do rock cristão. Porém é inegável que aparecendo esses, virão para as menções honrosas abaixo.

Revolution - Kirk Franklin (1998)
Love By Grace - Anointed (1999)
Psalm 23 - 2TM2,3 (2000)
Isus Gospod E - Savaot (2005)
Rookmaker - Palavrantiga (2010)

E você, quem colocaria na lista? Comente abaixo!

quarta-feira, 6 de novembro de 2019

Vinde


Raras são as coletâneas que viram quase um grupo inteiro. Diversas bandas e cantores se uniram nesse belíssimo projeto gravado nos estúdios da Line Records e lançada pela Gospel Records. VINDE (Visão Nacional de Evangelização) é o nome de um projeto criado e coordenado pelo reverendo Caio Fábio. Entre seus feitos veio a campanha Natal Sem Fome juntamente com o AÇÃO de Herbert de Souza (o Betinho), onde distribuiu sopão para diversos pobres e mendigos pelas ruas de Rio de Janeiro e Niterói (uma lástima que hoje em dia uns superpastores dizem que mendicância e fome é uma "máfia", tornando a luta dessas pessoas em sobreviverem um "fake" - tolos que enfiam liberalismo econômico e político na missão cristã, um dia pagarão caro por essas loucuras!).

O disco foi feito e lançado em 1993 e um clipe também foi lançado na época, quase um "We Are the World" gospel. Josué Rodrigues, Bené Gomes, Ludmila Ferber, Carlinhos Félix, João Alexandre e Tirza Silveira, João Marcos, Cristiane Carvalho, Cíntia & Sílvia, Paulo Cézar Baruk, Brother Simion, Luciano Manga, Zé Bruno, Adhemar de Campos, Cristina Mel, Natan Brito, Asaph Borba, Armando Filho, Jorge Camargo, Quarteto Vida, Mattos Nascimento, Carlinhos Veiga, Complexo J e outros deram o ar da graça, ajudando fortemente no disco, que toda sua renda foi com para ajudar na campanha. Hoje em dia, você acha mesmo que ia ser tão fácil assim reunir esse povo todo, quando interesses puramente comerciais de gravadoras (algumas ditas cristãs) falam mais alto?


Atitude e Solidariedade (1993)

01 - Uma Nova Canção (voz principal: Bené Gomes e Ludmila Ferber)
02 - Atitude e Solidariedade (voz principal: Coral)
03 - Nas Telas do Brasil (voz principal: Carlinhos Félix)
04 - Conte Conosco (voz principal: Jorge Camargo)
05 - Crianças de Ninguém (voz principal: Asaph Borba)
06 - Muito Mais... (voz principal: João Alexandre e Tirza Silveira)
07 - O Que Fazer? (voz principal: Adhemar de Campos)
08 - Fé e Obras (voz principal: Zé Bruno, Brother Simion e Luciano Manga)

Um daqueles projetos que infelizmente ficaram perdidas na história pela demolição do amor cristão real dentro desse infame mercado "gospel" (tal qual o saudoso projeto "S.O.S. Vida" de 1991 do tão saudoso quanto pastor Paulo Cézar Graça e Paz, ou o "Solidariedade" de 2001). As picuinhas políticas e ideológicas de atualmente sei que também inviabilizariam o apoio da trupe pseudocristã a projetos como a Campanha Nacional de Combate à Fome (lembrando que Betinho e o PT encabeçaram junto com Caio Fábio esse projeto).

Mas vamos falar da parte música. Embora o som do rock não seja o principal nesse disco (as músicas "Nas Telas do Brasil" - baita pop/rock - e o hardão de "Fé e Obras" são as mais rock'n'roll de fato), o disco tem momentos bem ritmados e a participação de Manga e Simion na faixa-título deram um punch no som mais sertanejo/baião da faixa. Os arranjos de "Conte Conosco" também trazem esse elemento, ao passo que as letras fortes de "Uma Nova Canção" (que denuncia uma problemática que curiosamente continuamos mais de 25 anos vivendo, a dos falsos cristãos usando do nome de Jesus para subirem/usurparem o poder que na realidade deveria ser servidão ao povo que os elegeu para criar leis que aumentam mais e mais a desigualdade social com teorias falsamente embasadas em cristianismo falso e puro revanchismo e ignorância com os que buscam fazer o bem, tachando-os de "comunistas", "esquerdopatas" e similares) e "Crianças de Ninguém" (Asaph Borba estava muito inspirado aqui!) mostram que as vezes a atitude rock fala mais alto do que reles distorções de guitarras. Vamo se mexer, atitude e solidariedade! Ok, não que "Fé e Obras", com seu hardão fortíssimo e inspirado em Mateus 7, não tragam consigo uma missão fortíssima na letra. Ela inclusive reapareceria numa coletânea da Gospel Records chamada Fé e Obras em 2002 (falarei na seção específica das coletâneas da GR). "Muito Mais..." reapareceria num disco de Tirza Silveira de mesmo nome, lançado no ano seguinte, em 1994.

O disco foi eleito o 95º melhor disco cristão BR da década de 1990, nada mais justo pra um projeto fantástico como esse, que lamentavelmente ficou só na história...



Curiosidade: Na versão LP e no Clipe ocorre uma mudança na voz que canta "procura por velhos murchos, homens inchados, mulheres de seios secos, crianças com olhar de susto": Mattos Nascimento canta no LP esse trecho, já no videoclipe a missão cabe a Armando Filho. Não tenho certeza se foi alguma questão contratual ou só choque de agendas mesmo =) O Clipe tocou até na Rede Globo à época (!)

AH SIM. Lembram-se daquele show fatídico que escrotizaram o Carlinhos Brown no Rock in Rio 2001? Bem, apesar de eu realmente não ver esse indivíduo como real representante da música brasileira - difícil até chamar de música o som que ele costuma fazer - e também odeie a postura costumeiramente arrogante do mesmo, isso não valida o que fizeram com ele ali... bem, mas o que quero falar é que ele abriu sua apresentação tocando ao fundo justamente ESSA MÚSICA, Atitude e Solidariedade (que atualmente segue sendo cantada por Josué Rodrigues e em 1995 chegou a ganhar uma versão do pastor Paulo Cézar Graça e Paz - famoso também pelo seu projeto "S.O.S. Vida - Adeus Drogas, Há Deus!" de 1991).







sábado, 2 de novembro de 2019

Oil



Em meados dos anos 1990 nascer uma banda de thrash metal puro e sem rodeios nos EUA era algo inacreditável. Nesse tempo as bandas que surgiam por lá preferiam fazer uma pegada mais puxada pro alternativo, metalcore, groove metal ou até o mais extremo death metal. Até as grandonas do Big 4 fugiam do estilo: Metallica fazia um rock alternativo cada vez mais distante do estilo que ajudaram a criar, o Megadeth se aprofundava num heavy metal/hard rock meio comercial, o Anthrax caia num groove metal meio enjoado nos vocais de John Bush (Armored Saint) e até o Slayer, a "reserva moral do thrash metal", parece insano que em 1998 fariam algo como "Diabolus in Musica", um disco bem aquém do thrash insólito que faziam, com pegadas modernas demais. Até no lado cristão a coisa tava assim: O Believer e a Vengeance Rising estavam mortas, Living Sacrifice a muito tinha se enfiado num death metal cavernoso e posteriormente cairia no groove/metalcore, a Deliverance fazia discos com um som prog/gothic (!) bem afastados do thrash/speed, Tourniquet com "Crawl to China" parecia ter chutado o thrash metal pra bem longe com seu hard rock estranho, dentre outras bandas que ou já tinham saído das turnês, ou não lançavam mais nada, ou simplesmente abandonaram o som clássico nascido na Califórnia no início dos 1980. Sendo assim, nada foi menos esperado pela galera que uma banda como Oil. Surgida em 1997 e comandada por ninguém menos que Ron Rinehart (o lendário vocalista da Dark Angel, uma das míticas bandas de thrash seculares que corriam por fora do circuito da Big 4). No tempo em que existiram lançaram um EP, um CD e um disco ao vivo. Tristemente em 2004 após Ron sofrer uns problemas na coluna a banda encerrou suas atividades por não encontrar um novo vocalista. Embora a Dark Angel também tenha por um tempo terminado e posteriormente voltou inclusive com o próprio Ron de volta aos vocais, Oil nunca mais se viu. Uma lástima, porque o som deles era muito irado pra época que surgiram.



Oil (EP, 1997)

01 - When No One Cares
02 - Last Breath
03 - Searching from Heaven
04 - Numbers
05 - Day or Light






Fusão de Metallica das antigas com a Dark Angel (óbvio que os vocais do Ron contribuíram muito pra essa segunda parte), esse EP tem uma qualidade técnica muito boa (apesar do som um pouco abafado - talvez um recurso pra emular a sonoridade dos anos 1980, não sei). Só a capa não me agradou muito, ficou bem confusa e com uma diagramação de cores estranha de dois extratores de óleo. Mas quem vê capa não vê o livro, e sendo assim o EP tem momentos pesadíssimos e um thrash mais calmo na faixa final que muito me faz me recordar o disco "Ride the Lighting" do Metallica.



Refine (2000)

01 - Divided
02 - Waiting There
03 - Scream
04 - Life Addiction
05 - Lost
06 - Open Wound
07 - Struggle
08 - S.I.N.+
09 - I Won't Give In
10 - Chopping Block


Fusão perfeita de thrash com heavy metal, Refine é provavelmente o disco mais famoso da banda aqui no Brasil (acredito que o único que foi lançado por essas bandas de maneira oficial pela O Levita em parceria com a Salmus), o disco ainda contém algumas octanagens de groove metal (dá pra ver isso nos arranjos de guitarra de Blake Nelson em "Scream") e de grunge (vide a pegada de "Lost" por exemplo) e stoner rock (vide "S.I.N.+"). Apesar desse lado mais "moderno", esse disco é inquestionavelmente thrash. As letras são bem interessantes e até perturbadoras, porém com uma perspectiva cristã, diferente das conclusões sobre os mesmos temas que se via nos discos da Dark Angel. A faixa que fecha o disco é sem dúvidas a mais legal, pesada e thrasher na linha do DA sem tirar nem por.


Choice Cuts Off the Chopping Block (live, 2003)

01 - Intro
02 - Drown
03 - Life Addiction
04 - Struggle
05 - S.I.N.+
06 - Waiting There
07 - Walls
08 - After
09 - Picture This
10 - Divided
11 - When no one Cares
12 - Chopping Block
13 - This is my Prayer (acoustic studio)
14 - Medicine Man (acoustic studio)

Muito mais modernoso que tudo que fizeram antes, esse disco ao vivo da ainda novata Roxx Records traz consigo um Oil mais próximo do som das modernas Disturbed e Mudvayne (notável nas faixas novas "Drown", "Walls" e "After"), mas com muito mais presença das guitarras, pois Blake Nelson não tinha medo de solar (mesmo inclusive sendo o único guitarra e isso deixando um semivazio de ritmo na hora dos solos - apesar do baixista Matt Joy fazer um ótimo trabalho com seu baixo). É muito bom ouvir uma banda que consegue captar bem sua energia ao vivo. Os momentos em que Ron fala acerca de sua fé e da necessidade que precisamos de Deus (na intro de S.I.N.+ principalmente) mostram uma conversão sincera e um compromisso real com o Senhor. Acredito que mesmo que ele tenha aposteriori retornado ao Dark Angel isso não comprometeu em nada sua fé. As faixas acústicas no final são um ponto fora da curva no disco, mas vale a pena também dar uma sacada.

Oil ainda participou de uma coletânea chamada 2000 - A Second Coming e num tributo à Deliverance.