sábado, 18 de março de 2023

O Nascimento da Jesus Music - David Di Sabatino


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Uma das influências mais poderosas sobre a contracultura dos anos 1960 foi o desenvolvimento da música rock and roll. A música rock era um meio experiencial encapsulando tanto a exuberância zelosa quanto a insatisfação coletiva dos jovens com uma batida de fundo que impulsionava os ouvintes à ação. Melhor ainda, na mente dos adolescentes opositores, o rock enlouquecia os pais.

Tomados no contexto dos espirituais anos sessenta, os músicos de rock tornaram-se muito mais do que ícones de rebelião. Os trovadores tocadores de guitarra tornaram-se profetas e sacerdotes para uma geração de seguidores que os “adoravam” em massa nos altares dos festivais. Ao examinar atentamente as letras das músicas, muitos fãs adoradores estavam convencidos de que esses avatares musicais haviam desenterrado as respostas para os mistérios da vida em seus álbuns.

Existem muitas evidências revelando essa aliança pouco ortodoxa entre música rock e espiritualidade. O promotor de Charles Manson, Vincent Bugliosi, retratou o acusado como alguém que persuadia seus seguidores com uma combinação de textos bíblicos e letras de músicas de que o Armagedom estava se aproximando. Bugliosi sustentou que Manson identificou os Beatles como os quatro anjos (cavaleiros) do capítulo 9 do Apocalipse, que ele acreditava estarem obrigando-o a instigar o “Helter Skelter” (uma guerra racial entre negros e brancos). O surgimento desse gnosticismo musical na década de 1960 (o estudo minucioso das letras das músicas em busca de um conhecimento secreto) continua sendo um sinistro lembrete da influência penetrante que a música exerce sobre os jovens. Para os filhos dos espirituais anos sessenta, nada era mais singularmente importante do que seu vício musical.

A potência cultural da música rock não passou despercebida pelo crescente número de cristãos urbanos. A síntese da música rock e do cristianismo parecia uma consequência natural de suas conversões espirituais. Se o Jefferson Airplane (uma das bandas mais proeminentes dos anos 60 de San Francisco) podia cantar abertamente sobre drogas em seu hino "White Rabbit" ("Uma pílula te deixa mais “alto” - chapado -, e uma pílula te deixa “menor” - dopado, anestesiado" – apostos do tradutor), então um cristão hippie poderia cantar sobre o que era mais importante para eles, ou seja, Jesus Cristo. O desenvolvimento da música rock de Jesus provou ser um meio viável para expressões únicas de fé.

Várias formas de música gospel contemporânea surgiram ao longo da década de 1960, antes do advento do que ficou conhecido como "música de Jesus". No rescaldo do Concílio Vaticano II, interpretações da missa em forma de rock e folk foram realizadas e gravadas (vide The Electric Prunes e seu disco “Mass in F Minor” e o Mind Garage com o Electric Luturgy que apareceria em seu disco “Again!” - nota do tradutor). A juventude cristã na Inglaterra respondeu à cena adolescente britânica com uma série de álbuns de "batida gospel" (Gospel Beats) que antecedem desenvolvimentos semelhantes na América do Norte. Nos Estados Unidos, o primeiro álbum de rock cristão contemporâneo foi lançado em 1966 por uma banda que se autodenominava The Crusaders. Intitulado “Make a Joyful Noise With Drums and Guitars”, a contracapa do LP afirma que o grupo "escolheu o Big Beat como meio de expressar sua fé religiosa... a expressão musical mais contemporânea: The Beat." (1) Em 1968, a Zondervan Company lançou Till the Whole World Knows, de uma banda de rock de Maryland chamada Sons of Thunder (embora tivessem membros femininos). Em 1969, três outros álbuns de rock cristão foram lançados; Lo and Behold de Ron e Bill Moore, Cold Cathedral de John Fischer e o marco de Larry Norman, Upon This Rock. Em 1970, havia álbuns de rock abertamente religiosos o suficiente para a revista Rolling Stone perguntar: "com todos os álbuns de rock de Jesus por aí hoje em dia, o que uma mãe deveria fazer agora?" (2)

É impossível estabelecer um único pioneiro da Jesus Music. Embora apenas três álbuns tenham sido lançados em 1969, muitos já apresentavam suas próprias versões de rock gospel em grupos de jovens da igreja e cafés bem antes que alguém percebesse que um "movimento" estava ocorrendo. Paul Clark, Fred Caban (e Agape), Larry Norman, Randy Stonehill, Phil Keaggy, Mike Johnson (de The Exkursions), Andrae Crouch, Nancy Henigbaum (Honeytree), Danny Lee (& The Children of Truth), Latter Rain, Last Call of Shiloh, Mark Heard, Danny Taylor, Pat Terry, Harvest Flight, Liberation Suite, Out of Darkness, Azitis, Stonewood Cross, Jubal, Vindication, Hope of Glory, Hope, Overland Stage, Joshua, Newbury Park, Rainbow Promise, Malcolm & Alwyn, Crimson Bridge, Earthen Vessel, Wilson McKinley, Quo Vadis, The e-Band, Dust, The Sheep, Andrae Crouch, Barry McGuire, Resurrection Band, Danny Taylor, Tom Rozof, The Hallelujah Joy Band, Bridge, Psalm 150, Dove, Millennium, The All Saved Freak Band, The Glorious Liberty, Randy Matthews, John Fischer, The Sons of Thunder, Ron Moore e Ron Salsbury (e o JC Power Outlet) e vários artistas musicais do selo Maranatha! (Love Song, Good News, The Way, Deborah Kerner, Ernie Rettino, Aslan, Mustard Seed Faith, Phoenix Sonshine, The Road Home, Children of the Day, Selah, Erick Nelson, Joy, Country Faith, Karen Lafferty e Blessed Hope) e outros merecem destaque como criadores do gênero que se distinguiu apenas pelo conteúdo lírico. Ao longo da duração do avivamento, Jesus Music raramente se desviaria da reiteração de um único tema; a experiência de Deus através de um relacionamento pessoal com Jesus Cristo. Esses artistas marcam a primeira onda de músicos de Jesus que se estendeu de 1969 a 1974. (3)

A Jesus Music provocou polêmica desde o início. Os fiéis tradicionais não faziam distinção entre o roqueiro cristão de cabelos compridos Larry Norman ou o ícone da guitarra Jimi Hendrix. A igreja estabelecida permaneceu convencida de que qualquer coisa nascida da “rebelião” só geraria mais rebelião. Os hippies, exaltando as virtudes de Jesus ao ritmo frenético da "música mundana", nada mais eram do que “concessões espirituais”. Os músicos de Jesus responderam oferecendo defesas para seus esforços criativos, muitos deles argumentando que as origens da música rock evoluíram de um fluxo complexo de influências que incluíam fortes tendências espirituais. Os sentimentos desses músicos cristãos hippies ecoaram os pensamentos do reformador do século XVI, Martinho Lutero, quando ele se perguntou "por que o diabo deveria ter todas as melhores músicas?" (“Why Should the Devil Have All the Good Music?”, título da mais famosa canção do “pai do rock cristão” Larry Norman e um dos principais hinos do movimento – nota do tradutor). Apesar dessa forte oposição contra o uso da cultura contemporânea, os menestréis cristãos continuaram a traçar seu próprio curso, tentando neutralizar os temas destrutivos inerentes a grande parte da música rock mainstream.

Esse período incipiente foi marcado por uma série de características. O evangelismo estava em primeiro lugar na mente do músico de Jesus, já que não havia infraestrutura comercial para apoiar seus esforços. Na época, a maioria dos artistas considerava a produção e gravação de álbuns musicais uma preocupação secundária, eclipsada pela primazia da intimidade pessoal desenvolvida com um público ao vivo. Além disso, à luz da crença de que a Segunda Vinda era iminente, a gravação de um álbum parecia um desvio estranho das preocupações de evangelismo. A maioria dos pioneiros fala dessa era como uma época de espontaneidade desanuviada pelo materialismo que se seguiu quando a Jesus Music fez uma transição desajeitada para uma indústria competitiva.

As gravações da Jesus Music tornaram-se predominantes quando grupos e artistas perceberam que um álbum poderia servir a um propósito duplo, tanto como uma ferramenta de evangelismo quanto como uma mercadoria para arrecadar fundos muito necessários. Durante essa fase incipiente, a distribuição do produto permaneceu rudimentar, geralmente centrada na autopromoção e em turnês intermináveis. As empresas de pedidos por correspondência surgiram para lidar com o punhado de esforços de baixo orçamento e (na maioria das vezes) mal registrados. Com o tempo, no entanto, vários desenvolvimentos institucionais surgiram em torno da cena incipiente, à medida que ela se expandia e ia além do estágio embrionário. Cafés e casas noturnas surgiram em todo o continente como locais para apresentações de músicos cristãos. Em resposta aos festivais de música mainstream, como os eventos Monterey Pop e Woodstock, vários promotores começaram a realizar festivais semelhantes de Jesus Music.


A institucionalização veio rapidamente à medida que a infraestrutura informal se desenvolveu em uma rede crescente de empreendimentos comerciais formados em torno de uma coleção de músicos independentes. A indústria da música cristã contemporânea (CCM) floresceu em 1975 com o estabelecimento de várias grandes gravadoras cujo único objetivo era promover e distribuir álbuns de rock cristão. A Myrrh Records, originalmente formada em 1971 para promover as gravações de Randy Matthews, reverteu seu pessimismo original sobre o futuro da música rock de Jesus e contratou vários outros artistas para reforçar sua formação. Como a subsidiária de "música contemporânea" da Word Records, Myrrh contratou Nancy Honeytree, The 2nd Chapter of Acts, a dupla folk britânica Malcolm & Alwyn, Pat Terry Group e outros para sua gravadora enquanto assinava acordos de distribuição para álbuns de Larry Norman, Randy Stonehill , Love Song, Phil Keaggy, Lamb e Paul Clark. Outras gravadoras que iniciaram as operações nessa época foram Greentree (uma divisão da Benson), Chrism (uma divisão da Tempo) e Sparrow Records, quando o ex-executivo da Myrrh, Billy Ray Hearn, decidiu lançar álbuns por conta própria. (4)

Tal sucesso comercial fomentou a diversificação não apenas estilisticamente - indo além das primeiras influências country, folk e rock para incluir heavy metal, ska, punk, thrash e até reggae - mas também liricamente, à medida que os artistas começaram a se aprofundar em outras questões além de suas experiências de salvação. No início da década de 1980, a indústria de CCM podia olhar para trás e ver um crescimento expansivo em distribuição, participação de mercado, exposição nacional e internacional e até mesmo aceitação da maioria dos círculos cristãos conservadores.

(1) Allan Bloom, The Closing of the American Mind (New York: Simon & Schuster, 1987), 68.
(2) Rolling Stone, 9 December 1971, 21.
(3) See 0112-0113 (original page from One-Way).
(4) Paul Baker, Contemporary Christian Music: Where It Came From, What It Is, Where It's Going (Westchester, IL: Crossway Books, 1985), 103-4.

Used with permission from the author from:
The Jesus People Movement: An Annotated Bibliography and General Resource
Religious Studies, Bibliographies and Indexes in, No. 49 (ISSN: 0742-6836) Greenwood Press. Westport, Conn. 1999. 280 pages. by David Di Sabatino

Fonte original: One-Way.org