sexta-feira, 14 de junho de 2019

Vengeance Rising



Vengeance Rising foi uma banda de Los Angeles, Califórnia, surgida no mesmo ano que a Deliverance, 1985, com o nome "Sacrifice", posteriormente mudado para "Vengeance". Chegaram a lançar uma demo ainda com esse nome e o primeiro álbum, "Human Sacrifice", também saiu com esse nome, mas com a descoberta da existência de uma banda homônima, mudaram as pressas para Vengeance Rising (apesar que só nas prensagens posteriores do disco sairia já corrigido).

A banda foi liderada pelo então pastor Roger Martinez da Igreja Sanctuary, um cara que demonstrava opiniões fortes e brutais. Isso é notório em diversos documentários que ele participou, além de ter ajudado a produzir diversas bandas como Sacred Warrior e Mortification. Ainda assim, a vida dele serve de alerta a muitos de nós cristãos, pois que devido a diversos problemas com ex-membros do grupo e situações afins o cara simplesmente abandonou a fé e começou a até mesmo fazer ameaças (!) a antigos companheiros. Lamentável, situação que só nos faz orar pela vida dele, sem dúvidas.

Uma das coisas mais fortes acerca do Vengeance Rising é a brutalidade de seu estilo, um thrash metal meio death, com influências notáveis de bandas como Exodus, Venom (o V do logo da banda não deixa dúvidas), Kreator, Dark Angel e Morbid Saint. Os vocais do Martinez lembravam demais os do saudoso Paul Balloff do Exodus.

Vengeance (Demo, 1988)

01 - White Throne
02 - He is God
03 - Salvation
04 - Human Sacrifice
05 - Beheaded


Existem bandas que já começam brutais e assim continuam do começo ao fim da carreira. Vengeance Rising é dessas. Na época em que estavam tocando no Metal Mardi Gras (festival fantástico de 1987 na Califórnia promovido pela Igreja Sanctuary), eles gravavam essa belezinha. Apesar da qualidade abafada de som, é notória a agressão sonora aqui presente. Desde os riffs irados de White Throne (música que deu nome a uma zine americana cristã) aos gritos de desespero no final de Beheaded, essa demo arrepia!


Versão de 2010 da Intense Millenium
Human Sacrifice (1988)

01 - Human Sacrifice
02 - Burn
03 - Mulligan's Stew
04 - Receive Him
05 - I Love Hating Evil
06 - Fatal Delay
07 - White Throne
08 - Salvation
09 - From the Dead
10 - Ascension (instrumental)
11 - He is God
12 - Fill this Place with Blood
13 - Beheaded

(OBS: As versões de relançamento incluem: trechos do show de 1987 - Prodigal Son (Mulligan's Stew demo), Beheaded e Salvation -, uma interview e mais um CD extra com a demo e um show em Cornerstone de 1988)

Difícil mensurar a importância desse disco. Eleito o MELHOR DISCO de metal cristão pela Heaven's Metal Magazine na sua lista de 100 álbuns, Human Sacrifice até hoje impressiona pela qualidade e brutalidade. Até na capa (a original é a mão do pastor Bob Beeman da Sanctuary que representa a mão de Cristo), que inclusive - pasmem - foi censurada em lojas cristãs. Acharam "muito violenta" (mesmo sendo simplesmente a representação da crucificação do Senhor). Aliás esse é o tema que perpassa todo o disco, o sacrifício de Cristo, sua morte e ressurreição. É difícil escolher uma só música que dê pra dizer "a melhor", porque todas aqui são iradas, mesmo as quase grindcores "Receive Him", "Salvation" e "He is God" e a brilhante instrumental "Ascension". Aqui nesse disco a banda estava em sua formação perfeita: Roger Martinez vocais, Larry Farkas e Doug Thieme nas guitarras, Roger Dale Martin no baixo e Glen Mancaruso na bateria (além de uma ajuda do Glenn Rogers nas composições). Cada música aqui tem uma levada própria, um andamento especial, mas pra mim, depois de muito refletir, as duas mais iradas são "White Throne" com seu riff inicial fora de série, e "Mulligan's Stew", um thrash mais cadenciado, mas bem reto e brutal. Como era de se esperar, os crentelhos moralistas torceram o nariz pra esse disco, e chovem as críticas no site do Terry Watkins, inclusive dizendo que "Human Sacrifice" sugere realmente "sacrifícios humanos" no sentido literal (mas tem que ser retardado pra chegar a uma conclusão imbecil dessas!). Enfim, os cães ladram (mas não mordem) e a caravana passa!

Ultimatum regravou Burn em seu terceiro álbum (a brasileira Tribal Rites também mandou uma versão dessa), Azeta fez uma versão com letra e nome diferente de White Throne chamada "Resusitó", Desolate Death já coverizou "Salvation" e "Receive Him" em alguns lançamentos do grupo de grindcore one-man, Faithbomb coverizou "Receive Him", Sacrificium mandou uma versão de "White Throne" e Greg Minier chegou a fazer uma versão demo e brincalhona de "Mulligan's Stew". A banda carioca Hating Evil tem esse nome em homenagem clara à faixa "I Love Hating Evil" da VR.

Em 2018 a Roxx lançou essa raridade, um disco com a primeira mixagem
de Human Sacrifice. Com uma ordem de faixas diferente, mas uma sonoridade
visivelmente mais crua que o resultado final.


Versão da Intense Millenium de 2010
Once Dead (1990)

01 - Warfare
02 - Can't Get Out
03 - Cut into Pieces
04 - Frontal Lobotomy
05 - Herod's Violent Death
06 - The Whipping Post
07 - Arise
08 - Space Truckin' (Deep Purple cover)
09 - Out of the Will
10 - The Wrath to Come
11 - Into the Abyss
12 - Among the Dead
13 - Interruption (instrumental)

(OBS: O relançamento inclui interviews e em versões limitadas o show "Return With a Vengeance" de 2004, já com o projeto Once Dead).

Ainda mais pesado que o antecessor, Once Dead (que, advinha, também teve a capa censurada por ser "muito sombria" kkkkkkkk) traz uma sonoridade mais suja e uma maior participação de todos os instrumentos (inclusive o baixo do Martin aqui faz estrago pacas em "Warfare"). Letras com temáticas ainda mais brutas, como "Frontal Lobotomy", "Cut into Pieces" e "Herod's Violent Death" deixaram alguns da turminha religiosa hipócrita com o cabelo em pé. Aqui não tem nenhum grindcore, mas em compensação o som é absurdo de rápido e bruto. Até o inusitado cover de "Space Truckin'" aqui funciona muito bem. "Into the Abyss" conta com um Larry Farkas fazendo uma intro usando um arco de violino (!). O vocal de Martinez aqui está ainda mais bruto, incluíndo aí uns guturais marotos em Frontal Lobotomy, a épica Whipping Post e Herod's Violent Death.

A nota triste desse álbum é que a tour dele foi bem atribulada, resultando em dívidas e na saída da formação quase inteira, que formariam a seguir a banda Die Happy (levando com eles inclusive uma faixa que entraria no terceiro álbum chamada "The Wailing", que viraria "Cage", o maior sucesso da Die Happy), deixando Martinez só para reenstruturar a banda como podia. Meio curioso que a faixa final, a divertida "Interruption", meio que prenuncia esse fim abrupto, com os membros vendo os instrumentos pifarem e não conseguindo ajeitar kkkkk

Curiosidade: A primeira tiragem contava com uma faixa chamada K.K.L.A., que nunca realmente saiu no disco - nem nessa prensagem -, provavelmente uma faixa que excluíram de última hora.

Covers: Step Cousin coverizou "Can't Get Out", bem como a Ultimatum no seu álbum de covers "Lex Metallis", Pantokrator mandou uma versão de "Cut Into Pieces" e Extol chegou a cantar em alguns shows a faixa "Warfare". Mas o cover mais curioso é da banda de brutal death metal secular Pustulated pra faixa "Cut into Pieces", uma versão bem bruta e curiosa. Confira AQUI!


It's the Vengeance Rising (It's the Thought that Counts)
Ou No Budget Video (1991). Documentário louco da banda,
as ideias do Roger eram muito loucas!


Auto-censura da banda, sticker feito
pra zombar as censuras anteriores kkkk
Destruction Comes (1991)

01 - You Can't Stop It
02 - The Rising
03 - Before the Time
04 - The Sword
05 - He Don't Own Nothing
06 - Countless Corpses
07 - Thanatos
08 - You Will Bow
09 - Hyde Under Pleasure
10 - Raegoul



Versão do sticker
da Intense Millenium
de 2011.

A difícil reformulação. Com uma banda toda de contratados (Derek Sean nas guitarras e o saudoso Chris Hyde na bateria), Roger Martinez (voz, baixo e guitarra) teve que seguir seu sonho como pôde. O resultado é um disco ainda bruto, na linha do que sempre tinham feito, porém com um sério probleminha: Várias faixas parecem que se repetem. You Can't Stop It por exemplo, o refrão tem o mesmo andamento de Countless Corpses. Sem dúvidas o maior destaque desse disco vai pra faixa Before the Time, a única da banda a ganhar um videoclipe oficial, um verdadeiro som apocalíptico. Raegoul é outra faixa irada aqui, com um som atmosférico. De resto é pura pauleira, zero influências de blues (diferente do que ocorria nos dois anteriores) e, como diria meu amigo Scott Waters, é quase um "grindcore deformado". No fim, a faixa que eu curto por motivos mais zueiros é "Hyde Under Pleasure", uma brincadeirinha de estúdio pra ver o quanto o Hyde consegue tocar mais rápido (muito zueira por sinal "Look man I'm not paying you $3.35 an hour for nothing! Faster!"  kkkkkkkkkkk).

Curiosidade: A banda, já meio invocada com as censuras nas capas anteriores decidiram fazer uma zoeira e criaram um sticker zoando com a própria capa (anos mais tarde a Intense Millenium faria uma nova versão desse sticker). Aliás, vale nota: esse templo na capa é do Jim Jones, um falso profeta de uma seita insana que quando foi desbaratada, acabou levando todos seus seguidores e ele mesmo a praticarem suicídio coletivo. No Brasil o saudoso Chico Anysio chegou inclusive a parodiar esse falso profeta com o personagem Tim Tones.


Released Upon the Earth (1992)

01 - Help Me
02 - The Damnation of Judas and the Salvation of the Thief
03 - Released Upon the Earth
04 - Human Dark Potential
05 - Instruments of Death
06 - Lest You Be Judged
07 - Out of Bounds
08 - Bishop of Souls
09 - -tion
10 - You Will Be Hated

OBS: A versão remasterizada da Roxx de 2014 inclui interviews e mais um segundo CD com o show Burning The Hell Outta Denver de 12/03/1992


O mais brutal dos discos da Vengeance Rising, e infelizmente o último, Released Upon the Earth traz um som mais galgado no death/thrash que seus antecessores: até os vocais do Roger Martinez aqui aparecem mais guturais em boa parte das faixas. Com uma pá de músicos convidados (os back vocais de Gordon Martinez, David Fuentes, Jimmy Brown (Deliverance), David Vasquez, Victor Macias (Tourniquet), Steve Rowe (Mortification), Michael Kramer, David Portillo, a bateria de Johnny Vasquez, o baixo de Victor Macias - aqui chamado de "Manic" Joe Monsobr'nik - e as guitarras de Jimmy Brown - aqui chamado de Simon Dawg - e Jamie Mitchell (Scaterd Few)), o Vengeance produziu seu som mais arrancatoco de todos. Na linha das seculares Death e Possessed, as precursoras do death metal, e também lembrando bastante a banda Incubus/Opprobrium, fizeram esse bruto disco. Difícil dizer também qual música aqui é melhor, porque é muito cabuloso ouvir, pesadão mesmo, mas a que eu mais ouvi desse disco na vida foi "Bishop of Souls", curiosamente uma mais thrash que death, pela qualidade impressionante. Também vale pinçar aqui a atmosférica intro "Help Me" e a curiosa faixa "Tion", que nada mais é que o uso em diversos finais de versos de palavras que terminam com "Tion", como IMPUTATION, ADOPTATION, CONSECRATION (nome que inspiraria uma banda de thrash cristã no futuro), SUBSTITUTION, REDEMPTION, PROPITIATION, JUSTIFICATION, REGENERATION e SANCTIFICATION, o que seria o "ABC do cristão" de acordo com a música, cantada pelo Roger e pelo Steve Rowe.

Roger saiu em turnê com esse disco, inclusive com o George Ochoa (Recon, Deliverance, Mortification, Worldview) junto com ele, mas não demorou pra que ocorresse algumas coisas que acabaram levando Roger a perder a fé - infelizmente.

Anthology (1993)

01 - Warfare
02 - Before the Time
03 - Human Sacrifice
04 - You Will Be Hated
05 - Into the Abyss
06 - You Can't Stop It
07 - White Throne
08 - Can't Get Out
09 - Bishop of Souls
10 - Out of the Will
11 - Countless Corpses
12 - Mulligan's Stew
13 - Instruments of Death

Ótima compilação de músicas dos quatro discos, um bom início para quem ainda não conhece o som da banda.

Bootlegs:

- Live at Cornerstone (1988)
- Live at Cornerstone (1989)
- Live at New Union (1990)
- Show com a The Crucified (1990 acredito eu, só não me recordo o lugar)

Após se desviar do Evangelho, Roger começou a fazer ações bem tolas como ameaçar seus velhos companheiros e até mesmo recentemente fazer alguns vídeos sobre a igreja de satã, dentre outras coisas que saem da vontade do nosso Senhor. Oremos pela vida dele. Ele chegou a anunciar dois discos fakes chamados "Realms of Blasphemy" (2000) e "Smoke Those Motherf***ers" (2001), mas são discos que ninguém nunca viu serem lançados. Martinez mantém por puro orgulho vão o nome Vengeance Rising, chegando a proibir seus antigos companheiros a usar o nome da banda no retorno que fizeram a partir de 2004, o Once Dead, a verdadeira continuação da banda. Futuramente falarei dessa também.

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Vengeance Rising participou de algumas coletâneas, aposteriori falarei delas na seção destas.

Ver também:

Once Dead
Die Happy
Deliverance
Tourniquet
Avenger of Blood
Recon
Sacred Warrior
Mortification
Sircle of Silence
Holy Soldier
Biogenesis
Tortured Consciense
Neon Cross
Viking
D.O.G. (talvez)
Emerald
Holy Right
The Blamed
Worldview
Scaterd Few

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