Entre 1991 e 1992, um grupo surgia com o intuito de supostamente fazer death metal cristão. O nome forte de "Satan on Fire" deve ter animado alguns, mas letras como "Devil in my Lunchbox", "Cat in the Hat", "Mosh for Jesus" e um cover descarado de "Justify my Love" de Madonna logo levaram alguns a desconfiar que seria só uma piada de mau gosto. E era. Os responsáveis? Twiggy Ramirez e Brian Hugh Warner, que futuramente seriam mais conhecidos pela banda Marilyn Manson (aliás, o último dos dois é a persona que usaria o nome da banda como pseudônimo). O Brian mesmo afirmaria pouco mais tarde que a ideia era tentar se infiltrar em clubes cristãos pra causar constrangimento.
Corte seco. Ano de 2001, um split chamado Barad é lançado. Apesar da banda principal ser ninguém mais ninguém menos que a lendária Antidemon, indubitavelmente fantástica, a banda a seu lado passava bem longe disso, mas absurdamente demais longe disso. Se anos mais tarde uma "Mountain UnBlack Metal" seria encarada como uma brincadeira de criança (literalmente, os membros eram mesmo pirralhos kkkk) facilmente esquecível, Zen Garden passaria pra história como um dos piores projetos de gothic/black metal da história, apesar de incrivelmente ainda ter lá seus apoiadores.
Corte seco. Ano de 2000, surge a primeira banda de um certo músico da Bahia. A primeira de uma zilhonada de bandas. Essa era pra ser um black metal com elementos de viking e etc. Depois veio uma de death, uma de symphonic black, uma que lembrava muito uma certa banda de um vocalista com nome de "rei diamante", outra de heavy/speed aos moldes do Judas Priest e no total foram umas dez bandas capitaneadas pelo sujeito em questão. Muito celebradas por supostamente enfatizar temáticas sobre esses temas de teoria da conspiração, "nova ordem mundial", temas apocalípticos, Illuminati e outras paradas que visivelmente nasceram de horas e horas assistindo vídeos do Irmão Rubens com certeza (sim, o link é da Desciclopédia porque qualquer pessoa de bom senso nunca levaria à sério o Irmão Rubens, só sendo um crente bem retardado do cérebro!). Ao que tudo indica, em determinado momento dos anos 2010 esse cara chegou a mandar material de uma das ou de todas suas bandas à época pro Steve Rowe (Mortification, Wonrowe Vision, dono da Rowe Productions), que automaticamente identificou que o material era recheado de PLÁGIOS e cópias de outras bandas seculares (tanto musicalmente como nas capas), um verdadeiro trabalho de Frankenstein. Se essa exposição não fosse o suficiente, o cara acabou exposto por uma ex-namorada dele que ele era machista e agressor de mulheres (!), além de antissemita e que nem sequer ia pra igreja, além de que nenhuma de suas bandas jamais fazia um show sequer. O resultado óbvio deveria ser o repúdio completo a ele e a tudo que ele "produziu", mas incrivelmente dentro da cena até hoje tem quem venere a noite escura, digo, a guerra brutal, digo, o congelamento noturno, digo, o pó imperial, ah, entendedores entenderão...
Corte seco. Ano de 2008. Em Mossoró, surgia uma banda misteriosa chamada White Throne, capitaneada por um tal Carlos Moonlight. Lançando duas demos de qualidade impressionante, a banda chegou a aparecer na revista Extreme Brutal Death (que está voltando inclusive!), a maior publicação cristã de metal extremo no Brasil. Porém, com a incrível facilidade que surgiu, ela também sumiu depois de 2010. Em 2019 surge a tenebrosa verdade: a banda era uma fraude completa. O EP "Armageddon" era uma cópia COMPLETA sem tirar nem por de algumas músicas do disco "Womb of Pestilence" da secular finlandesa Warloghe. A única coisa que o indivíduo fez foi trocar a capa e o nome das músicas e disco, mas as canções são exatamente AS MESMAS. Nem plágio ou cópia foi, foi uma apropriação indébita total de um som que na verdade não fala nada sobre Jesus Cristo e sim louvor a satã.
Corte seco. Ano de 2014. Um projeto de noisegrind tenta se enquadrar na cena cristã. Com um nome sugestivo de F*** the Devil (sim, é um palavrão a primeira palavra!), o líder do projeto supostamente cristão (mas que inclui entre seus projetos coisinhas como "Ejaculator / Gore", "MuthaFucha" e outras belezinhas tais) tentou por várias vezes divulgar sem sucesso o projeto na maioria dos grupos cristãos pela internet, haja vista seu nome exdrúxulo. Passou a até mesmo atacar então o "white" metal como "plágio, apropriação cultural" e mostrar claramente que de cristão ele nunca teve nada.
Esses exemplos, bem como alguns outros, mostram a atitude dúbia da cena cristã, em especial dentro do metal. As vezes rápida em detectar farsantes, noutra tão tolerante com cópias descaradas, projetos de qualidade duvidosa e situações tão constrangedoras quanto um indivíduo o tempo todo aparecer no seu Messenger divulgando sua banda "Savage Thrash Metal" (desculpe até a piada, Júnior Agostini, onde quer que cê ande hoje em dia, mas não deu pra aguentar kkkkk).
Meu blog valoriza projetos cristãos ou feitos por cristãos, mesmo os inativos, até mesmo paródias como ApologetiX e Inpinfess, mas sendo eu um historiador é fácil entender isso, ademais sim, as bandas antigas merecem o destaque devido, porém algumas vezes a cena parece engessada, presa nos mais do mesmo do passado que não fazem nada mais a anos ou simplesmente nem existem mais. As vezes valorizando excessivamente trabalhos de cunho duvidoso e qualidade péssima unicamente por se dizerem cristãos (e ai de quem tiver a coragem de criticar, o risco de ser chamado de "inimigo da cruz de Cristo" por algo tão simplório é enorme). As vezes acolhendo qualquer indivíduo sem analisar adequadamente suas intenções. Ok, não estou aqui pra pregar ultraperfeição, qualidade impecável ou santidade excessiva, longe de mim. Mas o que se espera é um mínimo de compromisso sério com a Palavra.
Eu não me esqueço que a Desinfernality, banda que fiz parte, no início o Wyndson Arruda, que do cristianismo conhecia mais o "mormonismo" (!) quis fazer letras inserindo essa temática, no que os outros membros o repreenderam e deram uma cosmo-visão mais sensata nas músicas (que apesar de ainda conterem aqui e ali umas paradas bem viajadonas da "Verdade Metafísica Pura", ao menos não enfia blasfêmias heréticas no meio do som). É isso que falta, o mínimo de acompanhamento e bom senso. Algo que é martelado a anos, lembro bem que o Cássio Antestor numa publicação antiga do site da Extreme Records falava dessa questão de artistas que vinham do black metal secular pra igreja e ao invés de receberem o devido acompanhamento, eram deixados pra fazer a parada "cristã" quase que instantaneamente, sem nenhum discipulado, nenhum ensinamento e mudança e o resultado normalmente era sempre o mesmo: vergonha pra cena, pra Igreja, pro Evangelho como um todo. Seja por trabalhos de qualidade duvidosa, seja por lírica estranha, as vezes até anticristã, seja por plágio absurdo ou até cópia total e criminosa mesmo, como foi a White Throne.
Enfim, esse texto é uma continuação do primeiro, e a despeito do primeiro ser uma defesa à cena de metal cristão e esse ter um tom mais crítico, acho que os dois pontos e dois pesos devem ser avaliados. Embora eu sei bem - e qualquer pessoa realmente inteligente sabe - que a cena cristã não é e nunca foi um plágio ou uma apropriação cultural, como expus já no primeiro texto dessa série, é necessário tomar cuidado pra que algumas acusações desse tipo não encontrarem argumentos sólidos. O caso da White Throne mesmo eu vi pessoas não-cristãs da cena underground usarem a seu favor pra zombar dos cristãos e mostrar que nossa cena é ridícula e realmente uma "cópia barata" deles. Temos que fazer o melhor, temos que ser ativos, temos que mostrar em quem cremos sem medo (mas não necessariamente transformar as músicas em panfletárias - letras poéticas e metafóricas também podem ser usadas por Deus, obviamente sem ser algo forçado ou apenas pra "disfarçar-se" na cena secular e não ser esculachado por eles), mas temos que ser criativos, ligados, em meio ao caos desse mundo e de seus homens lobos de homens "prudentes como a serpente e simples como pombas" (Mateus 10.16).
Soli Deo Glori /w\
Cada coisa...
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