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segunda-feira, 21 de dezembro de 2020

Quem puxou o plug? (minha vida underground - e minha morte também)

 "Desligue os aparelhos
Deixem-me morrer
Desligue os aparelhos
Não quero viver deste jeito"

Death - Pull the Plug


Tudo começou em 1999, 2000. Um garotinho de 11 anos ouvia pela primeira vez Katsbarnea, Brother Simion, Resgate, Catedral, Troad, Oficina G3, Bride, Petra, banda Tempero e várias outras. Virei fã dessa galerinha. Em 2001 ouvia de vez em quando uma turma mais "da pesada" como Calvário D.C. e Alta Cúpula, mas foi em 2002, com meu brother Diogo Sobral, que ouvi falar do underground cristão, e já de cara as duas mais "casca-grossas" da cena: a australiana Mortification e a brazuca Antidemon. E fui pra eventos locais da igreja Renascer Beberibe, ajudei a divulgar e organizar uns ainda bem novo. E, claro, queria fazer minha banda. Até participei de umas ao longo dos anos, mas nenhuma durou muito. E quase liderei o que seria o CMF de lá (quem acabou herdando essa responsa foi o meu brother e "filho na fé" Alessandro Rodrigues, já que eu saí antes do CMF ser propriamente organizado por lá, muito por conta da falta de apoio a uma banda que organizávamos lá).

Mas meu sonho de ajudar na cena continuou. Como banda tentei de tudo, mas, como aprendi desde cedo, enquanto seu dom ou sonho não se realiza na plenitude, faça outras coisas pra glória de Deus, e assim o fiz, divulgando eventos (ao ponto de em 2013 montar o Christian Underground Pernambuco, grupo do Facebook que também virou blog e grupo do Whats anos mais tarde, para divulgar bandas locais, eventos e etc). Ajudei em diversos elementos e tenho orgulho disso, pois o fazia pra glória de Deus. Veja esse blog, mais um fruto disso.

Enfim, por que "morri" pro underground cristão?

Calma, não vou largar de novo esse blog. Ele faz parte da minha vida e amo esse trampo. Mas não espere muito "compromisso" como outrora. É doloroso, mas a cena tá "morta", e todos que já tentaram a ressuscitar falharam porque caem em diversas armadilhas de diversos tipos. É difícil definir tudo. No fim minha mente cansa com tudo isso. Zilhões de problemas que tentam esconder tal qual tentam tapar sol com peneira.

Eu já cansei de elencar a quantidade de coisas que vejo de errado. Coisas que tantos não veem. Gente que "caga-regras" de como um "cristão underground" só pode se envolver em eventos "gospel" ou cantar "white". Gente que parece só falar de rock e metal, mas não tem compromissos reais sobre igreja, problemas sociais, nada. Gente que se prende a rótulos, de "não curto esse tal de som moderno", "não curto esse show com bandinhas X", "não ando com esses oldschool"... Gente que age como criança pagando de líder, de gênio, de chefe da cena. Gente que vive só do passado, gente que tantas coisas que cansa.

Mas nada me cansa mais que essas gentes que dizem ser cristãos underground, mas vivem prisioneiros do sistema, idolatrando políticos, cuspindo nos seus irmãos só por pensarem diferente, que não caem nas armadilhas do sistema imundo das ideologias, das mídias, das politicagens e o escambau. Nada é tão terrível pra mim. Como sobreviver a isso?

????

Eu não sei. Sinceramente não sei. Porque vejo até os ministérios underground caindo nas armadilhas do sistema. É absurdamente lamentável. Eu me sinto cada dia mais desconectado não só do evangelho "tradicional" e pentecostal, mas também dos undergrounds que de underground não têm nada, não por serem fiéis a liturgia tradicional ou à seriedade adequada do Evangelho, mas por cair no mesmo erro de achar que têm mesmo que viver deslocados da sociedade, exceto na ideologização. Isso ninguém quer largar o queijo.

E o resultado? Veja aí. Um bando de meninos defendendo um monte de coisas ultrapassadas ou até mesmo inadmissíveis por medo de ferir seu orgulho infantil, medo de perder a boquinha da panelinha da crentelhagem, medo de admitir que provavelmente em alguma coisa a cena "secular" tá certa.

Aliás, que medinho de se associar com o secular dessa turminha viu. Reclamam direto que o underground secular "só odeia o white", mas o próprio white causou sua ruína pelo proselitismo cego, por falta de conexão com a realidade e, em diversos casos, terem propositalmente se isolado demais em seus redutos.

Há solução pra essa miséria? Não sei.

Não sei mesmo.

Quando vejo as respostas e falas de uns, e o desprezo de outros a pensamentos como o meu, eu acho que não há solução. Até porque não há remédio que cure quem insiste em achar que não tá doente...

"E disse-lhe Jesus: Eu vim a este mundo para juízo, a fim de que os que não veem vejam, e os que veem sejam cegos. E aqueles dos fariseus, que estavam com ele, ouvindo isto, disseram-lhe: Também nós somos cegos? Disse-lhes Jesus: Se fôsseis cegos, não teríeis pecado; mas como agora dizeis: Vemos; por isso o vosso pecado permanece."

(João 9.39-41)

Soli Deo Glori

sábado, 14 de março de 2020

Rótulos, "clones", imitações e plágios (parte 2)

Entre 1991 e 1992, um grupo surgia com o intuito de supostamente fazer death metal cristão. O nome forte de "Satan on Fire" deve ter animado alguns, mas letras como "Devil in my Lunchbox", "Cat in the Hat", "Mosh for Jesus" e um cover descarado de "Justify my Love" de Madonna logo levaram alguns a desconfiar que seria só uma piada de mau gosto. E era. Os responsáveis? Twiggy Ramirez e Brian Hugh Warner, que futuramente seriam mais conhecidos pela banda Marilyn Manson (aliás, o último dos dois é a persona que usaria o nome da banda como pseudônimo). O Brian mesmo afirmaria pouco mais tarde que a ideia era tentar se infiltrar em clubes cristãos pra causar constrangimento.

Corte seco. Ano de 2001, um split chamado Barad é lançado. Apesar da banda principal ser ninguém mais ninguém menos que a lendária Antidemon, indubitavelmente fantástica, a banda a seu lado passava bem longe disso, mas absurdamente demais longe disso. Se anos mais tarde uma "Mountain UnBlack Metal" seria encarada como uma brincadeira de criança (literalmente, os membros eram mesmo pirralhos kkkk) facilmente esquecível, Zen Garden passaria pra história como um dos piores projetos de gothic/black metal da história, apesar de incrivelmente ainda ter lá seus apoiadores.

Corte seco. Ano de 2000, surge a primeira banda de um certo músico da Bahia. A primeira de uma zilhonada de bandas. Essa era pra ser um black metal com elementos de viking e etc. Depois veio uma de death, uma de symphonic black, uma que lembrava muito uma certa banda de um vocalista com nome de "rei diamante", outra de heavy/speed aos moldes do Judas Priest e no total foram umas dez bandas capitaneadas pelo sujeito em questão. Muito celebradas por supostamente enfatizar temáticas sobre esses temas de teoria da conspiração, "nova ordem mundial", temas apocalípticos, Illuminati e outras paradas que visivelmente nasceram de horas e horas assistindo vídeos do Irmão Rubens com certeza (sim, o link é da Desciclopédia porque qualquer pessoa de bom senso nunca levaria à sério o Irmão Rubens, só sendo um crente bem retardado do cérebro!). Ao que tudo indica, em determinado momento dos anos 2010 esse cara chegou a mandar material de uma das ou de todas suas bandas à época pro Steve Rowe (Mortification, Wonrowe Vision, dono da Rowe Productions), que automaticamente identificou que o material era recheado de PLÁGIOS e cópias de outras bandas seculares (tanto musicalmente como nas capas), um verdadeiro trabalho de Frankenstein. Se essa exposição não fosse o suficiente, o cara acabou exposto por uma ex-namorada dele que ele era machista e agressor de mulheres (!), além de antissemita e que nem sequer ia pra igreja, além de que nenhuma de suas bandas jamais fazia um show sequer. O resultado óbvio deveria ser o repúdio completo a ele e a tudo que ele "produziu", mas incrivelmente dentro da cena até hoje tem quem venere a noite escura, digo, a guerra brutal, digo, o congelamento noturno, digo, o pó imperial, ah, entendedores entenderão...

Corte seco. Ano de 2008. Em Mossoró, surgia uma banda misteriosa chamada White Throne, capitaneada por um tal Carlos Moonlight. Lançando duas demos de qualidade impressionante, a banda chegou a aparecer na revista Extreme Brutal Death (que está voltando inclusive!), a maior publicação cristã de metal extremo no Brasil. Porém, com a incrível facilidade que surgiu, ela também sumiu depois de 2010. Em 2019 surge a tenebrosa verdade: a banda era uma fraude completa. O EP "Armageddon" era uma cópia COMPLETA sem tirar nem por de algumas músicas do disco "Womb of Pestilence" da secular finlandesa Warloghe. A única coisa que o indivíduo fez foi trocar a capa e o nome das músicas e disco, mas as canções são exatamente AS MESMAS. Nem plágio ou cópia foi, foi uma apropriação indébita total de um som que na verdade não fala nada sobre Jesus Cristo e sim louvor a satã.

Corte seco. Ano de 2014. Um projeto de noisegrind tenta se enquadrar na cena cristã. Com um nome sugestivo de F*** the Devil (sim, é um palavrão a primeira palavra!), o líder do projeto supostamente cristão (mas que inclui entre seus projetos coisinhas como "Ejaculator / Gore", "MuthaFucha" e outras belezinhas tais) tentou por várias vezes divulgar sem sucesso o projeto na maioria dos grupos cristãos pela internet, haja vista seu nome exdrúxulo. Passou a até mesmo atacar então o "white" metal como "plágio, apropriação cultural" e mostrar claramente que de cristão ele nunca teve nada.

Esses exemplos, bem como alguns outros, mostram a atitude dúbia da cena cristã, em especial dentro do metal. As vezes rápida em detectar farsantes, noutra tão tolerante com cópias descaradas, projetos de qualidade duvidosa e situações tão constrangedoras quanto um indivíduo o tempo todo aparecer no seu Messenger divulgando sua banda "Savage Thrash Metal" (desculpe até a piada, Júnior Agostini, onde quer que cê ande hoje em dia, mas não deu pra aguentar kkkkk).

Meu blog valoriza projetos cristãos ou feitos por cristãos, mesmo os inativos, até mesmo paródias como ApologetiX e Inpinfess, mas sendo eu um historiador é fácil entender isso, ademais sim, as bandas antigas merecem o destaque devido, porém algumas vezes a cena parece engessada, presa nos mais do mesmo do passado que não fazem nada mais a anos ou simplesmente nem existem mais. As vezes valorizando excessivamente trabalhos de cunho duvidoso e qualidade péssima unicamente por se dizerem cristãos (e ai de quem tiver a coragem de criticar, o risco de ser chamado de "inimigo da cruz de Cristo" por algo tão simplório é enorme). As vezes acolhendo qualquer indivíduo sem analisar adequadamente suas intenções. Ok, não estou aqui pra pregar ultraperfeição, qualidade impecável ou santidade excessiva, longe de mim. Mas o que se espera é um mínimo de compromisso sério com a Palavra.

Eu não me esqueço que a Desinfernality, banda que fiz parte, no início o Wyndson Arruda, que do cristianismo conhecia mais o "mormonismo" (!) quis fazer letras inserindo essa temática, no que os outros membros o repreenderam e deram uma cosmo-visão mais sensata nas músicas (que apesar de ainda conterem aqui e ali umas paradas bem viajadonas da "Verdade Metafísica Pura", ao menos não enfia blasfêmias heréticas no meio do som). É isso que falta, o mínimo de acompanhamento e bom senso. Algo que é martelado a anos, lembro bem que o Cássio Antestor numa publicação antiga do site da Extreme Records falava dessa questão de artistas que vinham do black metal secular pra igreja e ao invés de receberem o devido acompanhamento, eram deixados pra fazer a parada "cristã" quase que instantaneamente, sem nenhum discipulado, nenhum ensinamento e mudança e o resultado normalmente era sempre o mesmo: vergonha pra cena, pra Igreja, pro Evangelho como um todo. Seja por trabalhos de qualidade duvidosa, seja por lírica estranha, as vezes até anticristã, seja por plágio absurdo ou até cópia total e criminosa mesmo, como foi a White Throne.

Enfim, esse texto é uma continuação do primeiro, e a despeito do primeiro ser uma defesa à cena de metal cristão e esse ter um tom mais crítico, acho que os dois pontos e dois pesos devem ser avaliados. Embora eu sei bem - e qualquer pessoa realmente inteligente sabe - que a cena cristã não é e nunca foi um plágio ou uma apropriação cultural, como expus já no primeiro texto dessa série, é necessário tomar cuidado pra que algumas acusações desse tipo não encontrarem argumentos sólidos. O caso da White Throne mesmo eu vi pessoas não-cristãs da cena underground usarem a seu favor pra zombar dos cristãos e mostrar que nossa cena é ridícula e realmente uma "cópia barata" deles. Temos que fazer o melhor, temos que ser ativos, temos que mostrar em quem cremos sem medo (mas não necessariamente transformar as músicas em panfletárias - letras poéticas e metafóricas também podem ser usadas por Deus, obviamente sem ser algo forçado ou apenas pra "disfarçar-se" na cena secular e não ser esculachado por eles), mas temos que ser criativos, ligados, em meio ao caos desse mundo e de seus homens lobos de homens "prudentes como a serpente e simples como pombas" (Mateus 10.16).

Soli Deo Glori /w\

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2020

Radicalismo tr00 e outras babaquices colonialistas brasileiras


Ah, Brasil. Somos colonizados culturalmente pra sempre. Brasil e países da América Latina estão entre os lugares onde os ditos "headbangers", "metaleiros", "metalheads", ou seja lá o termo que você usa e bate no peito pra se dizer como tal, são, em sua grande maioria, os mais estúpidos, exclusivistas, "caga-regras" e metidos a radicais. Grande parte são adultos barbados mal crescidos que se iludem com o visual e querem o tempo todo pagar de "pertencentes ao movimento", se recusando a admitir sua relação com quaisquer elementos "estranhos" à ceninha. Apregoam a superioridade do metal, xingando outros estilos, até mesmo os de natureza popular como samba, MPB, pagode, sertanejo e axé (ok, sei que a mídia em alguns casos exagera na exposição dada a esses últimos e muitas vezes promovendo em excesso os piores elementos nesses meios, mas isso não dá direito a ninguém desfazer de estilos e seus fãs). Vários gostam de pagar de defensores do underground, xingando as bandas "mainstream" (mas escondidinhos "pagam pau" às últimas, gastando até o último centavo da poupança pra ver elas, mas nem de casa saem pra ver as locais). Pagam de grandes fãs do metal extremo, mas não conhecem nem três músicas direito das bandas que compram as camisas pra pagar de malvadões. E, claro, boa parte tem que pagar de "inimigos dos cristãos", em especial nos tempos atuais, em que enfiaram uma motivação nova, considerar os "white metals" e todos cristãos como os promotores de toda politicagem conservadora de direita retrógrada e mimimis similares que no fundo no fundo só revelam o lado bobo dessas pessoas.

Em meus anos de underground tive contato com muita gente, inclusive ditas de black metal. Algumas me respeitam e dão espaço pras minhas crenças, sabem que não é porque sou cristão que vou tentar enfiar a Bíblia goela abaixo deles ou os mandar pro inferno por em diversos momentos soltar declarações anticristãs e blasfêmicas. Eles ouvem o que acredito e cabe a Deus, conhecedor dos corações e destinos, os julgarem. Mas o fato de ao menos darem atenção, darem espaço, não censurarem, não sair apagando ou bloqueando por eu ser cristão já é algo positivo. Entenda, e sei que toda vez que confesso isso sempre há o risco de tretas, mas eu não tenho frescura nenhuma em ouvir música secular. Tava ouvindo até a pouco Venom, Metallica e agora nesse exato instante tô ouvindo Dire Straits (eclético demais eu sei kkkk) - e no meio disso tudo, tava ouvindo Chrystyne, banda declaradamente cristã. Nem sei o que ouvirei depois - até porque tenho uma coleção enorme de discos, de vários estilos e crenças aqui. Tenho camisetas de bandas cristãs e seculares. Tenho material de shows de bandas cristãs e seculares também - inclusive um acervo enorme de flyers, releases, cartões e uma pá de outras coisas de bandas de black metal de várias partes do Brasil. Se isso é um defeito meu? Não considero - tenho outros, como beber de vez em quando, soltar as vezes uns palavrões, ter desejos de lascívia, ser um tanto grosso e estúpido, precipitado, por vezes desisto fácil das coisas quando dão errado, teimoso, falo alto demais (e falo demais também kkkk), dentre outros problemas, alguns menos sérios, outros seriíssimos. Não vou expor nenhum deles com orgulho (como alguns ditos músicos cristãos andam fazendo por aí afora), mas também passo longe da hipocrisia estúpida de apontar o dedo pra esses ou tentar apagar minhas "cagadas" homéricas. Ainda assim, tento ser conciliatório, respeitar todas as opiniões, contrárias ou não. Infelizmente o bagulho é difícil nesse nosso mundinho de extremos estúpidos, grande parte deles por puro espírito de vira-lata que essa nação parece ter até o dia que o meteoro cair e explodir tudo (risos) ou Jesus voltar antes.

Quando eu escrevo esse texto, soube que meu brother Edy republicou no seu blog Cristianismo & Underground um post referente a treta do termo White Metal. Por muito tempo eu odiei muito esse termo, principalmente por ver nele a origem já preconceituosa e separatismo velado existente desde que a Metal Blade deu a liberdade pra tacharem Slayer de Black Metal e Trouble de White Metal, além de que realmente em geral na boca dos "antis" o termo tem conotação pejorativa total. Hoje em dia eu meio que ignoro essa questão toda, só acho ainda uma demonstração de atraso cultural e colonialismo retardado da cena nacional continuar a hostilizar a cena cristã. Em diversos países afora bandas cristãs tocam sem problemas em festivais seculares, são admiradas pela cena e são ouvidas por todos. Não é difícil ver elogios a bandas como Stryper, P.O.D., Paramaecium, As I Lay Dying, Mortification, Narnia, Impellitteri, dentre outras, por parte da cena especializada do metal no exterior. Sites como o Encyclopaedia Metallum e Spirit of Metal dão espaço a essas bandas sem problemas, raros são os momentos de agressões gratuitas por parte de quem não curte a fé cristã nesses locais. Numa oposição completa, já vi uma pá de casos de notícias no Whiplash referentes à bandas cristãs ou participação delas em eventos seculares com um festival de comentários imbecis de puro ódio gratuito e as mesmas ladainhas, o mesmo blábláblá de "metal é liberdade, cristianismo é prisão, morte ao white metal, mimimi". Curioso é alguns ataques imbuídos de reducionismos históricos e conversa fiada, como "cristianismo é a causa de todos os males da sociedade ocidental" (ignorando por exemplo que sem o cristianismo talvez até hoje jogar crianças no lixão seria algo normal pra mães que rejeitam as mesmas, penas de tortura e morte sem provas continuariam sendo coisa normal, escravidão continuaria sendo um ato normal, bem como a existência dos direitos humanos seria coisa só de sonhadores, dentre diversos avanços sociais que só existem a quase dois séculos graças ao Homem de Nazaré e seus seguidores!). Verdade que houve maus exemplos às tulhas na fé cristã, pessoas que usaram e abusaram (e muitos ainda usam e abusam) da Palavra Santa pra justificar as maiores atrocidades, mas tentar usar tais casos pra anular as inumeráveis e muito mais marcantes conquistas é quase a mesma coisa que - como alguns ignorantes fazem por aí afora - dizer que o cristianismo é um nazismo religioso (ou dizer que Hitler era cristão - sendo que não só seus atos contradiziam o que ele dizia, e como sabemos se declarar algo não significa ser [você pode até dizer que é um rei, mas isso não te fará de fato um rei], como tentou inserir elementos estranhos à fé cristã e tentou regulamentar a igreja alemã, algo típico de um usurpador barato e blasfêmico. Com isso, chamar Hitler de cristão é uma atitude típica de quem quer só causar polêmica barata e desqualificação de culpa por associação mais fraca da história). Toda generalização - a exceção dessa de toda generalização - é burra.

Mas é lamentável ver que muitos elementos da cena continuam com um cérebro de uma ameba paralítica. Na internet já sofri ameaças de alguns, já fui xingado por outros, já me baniram de um grupo de Facebook por eu ser um "lixo White". Já apagaram um post meu num grupo que anteriormente aceitava sem problemas todo e qualquer conteúdo, pra depois dizer que "posts de white metal estão proibidos terminantemente aqui" - e eu logo a seguir me retirei educadamente daquele recinto, só lamentando o atraso mental e cultural dos pares meus ali constando. Uma ex-amiga que costumava elogiar até meus posts no Facebook de músicas gospel (nem de rock era, era pop gospel mesmo) um dia em público soltou um impropério ante um convite meu a ir pra uma edição do Underblood Fest (evento da Comunidade Extrema Unção do Recife) "não me chame pra esse tipo de lixo!". Mais recentemente fui banido de um grupo de Whatsapp (esse vou dar "nome ao boi": o "Headbanger's Force", dito pelo chefinho dele como "o maior grupo de metal do Brasil", grupo esse que administrei por mais de cinco anos, ajudei a organizar, a reerguer quando o grupo foi roubado por duas pessoas, enfim, ajudei em diversos aspectos, ainda assim fui banido e esfaqueado por um Brutos, beijado por um Judas qualquer, que Deus tenha misericórdia dele) por supostamente estar... bem, a história do ban é complicada: primeiro disseram que fui banido por dar opiniões que ninguém pediu (sendo que eu no momento estava numa discussão com a própria galera do grupo) e que eu era intolerante e portanto não se poderia tolerar os intolerantes (o uso mais estúpido do "paradoxo da intolerância" de Karl Popper, que gemeria de desespero ouvindo o áudio estapafúrdio que o carinha me mandou dando isso como justificativa). Pouco depois outro adm de lá disse que eu andava mandando muita coisa sobre rock cristão (inclusive posts desse blog aqui que você está lendo) e segundo ele isso estaria incomodando o pessoal do black metal, que se sentia "ofendido" e baboseiras similares a essa. Depois vim saber que o mesmo relatou por aí afora que eu tava mandando mensagens tentando evangelizar a turma (de fato por um bom tempo eu fiz isso, mas lia e acreditava quem queria, não havia e nunca houve proibição a manifestação de crenças por lá - havia sim era uma regra impedindo agressão a quaisquer crenças ou descrenças, coisa que alguns lá dentro, inclusive o chefinho de lá, não costumavam respeitar) e que até vírus eu estava mandando (daqui a pouco vai aparecer alegação de que eu mandei imagem de gente morta, que eu mandei vídeo pornográfico, nudes, que eu surtei no grupo e xinguei a mãe do adm, etc etc etc - gente mentirosa, falsa, fingida, hipócrita e traíra só tente a aumentar mais e mais as mentiras contra quem querem agredir). Eu lamento muito sabe, porque não é só mais uma porta que se fecha aparentemente por puro preconceito e radicalismo babaca de criancinha mimadinha, pra agradar um bando de palhaço que as vezes nem a bunda levantam da cadeira pra ir pra show e ficam só feito um bando de sanguessugas pedindo no grupo MP3 de bandas de maneira completamente ilegal invés de investir um pouco na própria cena falida deles comprando material e tudo o mais. Cara, se você ver o que tenho eu de coleção em todos os níveis, vai ver que eu faço inveja facinho a quaisquer desses palermas chorões que não sabem nem a diferença de Mayhem pra Burzum. E não, não tô dizendo isso pra pagar de "rei do metal", de "Johnnÿ Underground" ou seja lá o que, é apenas pra mostrar que eu, um "white metal", um renegado, ajudo muito mais a cena que me renega do que muitos dos que dizem defendê-la com unhas e dentes, segundo eles, de gente como eu.

A verdade é que o povo brasileiro é um eterno "povo cordial". Não no sentido que os analfabetos pensam que essa expressão cunhada por Ribeiro Couto e popularizada por Sérgio Buarque de Holanda queira dizer, e sim a verdade, que é um povo movido em excesso pelo "cardio", pelo sentimentalismo barato, pela impulsividade, pela falsa polidez, pelo preconceito velado que redunda em atitudes de cunho descarado de estupidez. Somos uma "geração coca-cola" que continua regida por ideais do passado, ideais que as vezes nenhum outro lugar do mundo os tem, mas nos apegamos a eles como verdade imutável, não por de fato serem verdade, mas porque ser confrontados com a possibilidade de isso ser engodo ou exagero é algo que preferimos fingir que não, preferimos deixar a polidez fingida ser a verdade. O brasileiro em geral se dói fácil com quem pensa diferente dele. Em diversos aspectos isso é verdade. Tem horas que quando exponho meu pensamento pra alguns eu me derreto de medo ao ver no outro uma expressão quase psicopata de quem deseja me matar por eu pensar diferente dele. O "crime" de pensar diferente causa pena de morte. Se não morte literal, morte social. E é isso que os retrógrados dessa ceninha tola são, com suas cartinhas anuais de "morte ao white", suas ameaças tolas à bandas seculares que "se atrevem" a tocar com bandas cristãs ou a produtores que convidam cristãos pra tocarem em seus eventos (soube de uns que anos atrás atacaram o lendário João da Blackout, um dos produtores e donos de loja de material de rock e metal mais respeitados de Pernambuco e do Nordeste, uma lenda viva e amigo pessoal meu; simplesmente por ele ter ajudado um evento com participação de bandas cristãs e vender material de bandas assim). Sei o quanto minhas opiniões aqui expostas parecem intolerantes, mas eu sinto muito, não é intolerância, é a VERDADE. E se há intolerância aqui, agora sim é relacionada ao conceito de Karl Popper, é a esses intolerantes estrupícios que continuam como vírus maldito matando, sufocando e destruindo o metal brasileiro. São idiotas como esses que só atrasam mais e mais a cena, que fazem que ela seja sempre abjeta e desprezada pela grande mídia, que se nem precisam de motivo pra meter o pau em nós, imagina dando motivo? <ironia>Parabéns a todos vocês! Graças a vocês o metal brasileiro só fará sucesso lá fora e olhe lá, porque aqui dentro vai ser sempre um movimento de resistência, resistência essa infelizmente infectada por uma virose chamada tr00ísmo que faz tal resistência dia após dia definhar até o estado terminal que se encontra hoje!</ironia>.

É isso, desabafei demais e com certeza vão me xingar pra cacique aqui, mas "tô me lixando". Quem gostou gostou, quem não gostou que vá procurar o caminhão de onde caiu e continue em sua imbecilidade abjeta até morrer na "merda" que está! E desculpem àqueles que não estão acostumados a um post tão pesado (não no estilo musical e sim no conteúdo mesmo kkkk) aqui no blog, mas é isso. Soli Deo Glori.

ATUALIZAÇÃO 22/03/2020: A quase um mês atrás um antigo fã declarado do meu projeto solo Desolate Death simplesmente me atacou do nada por eu discordar da opinião preconceituosa e vazia dele sobre o metal cristão. Mais uma pra minha coleção, eba! kkkkk

sexta-feira, 31 de janeiro de 2020

Rótulos, "clones", imitações e plágios...


Ah, os rótulos! Se há uma coisa ingrata para todo revisionista de música (e acho que na arte em geral) é a necessidade (embora não tão necessária realmente assim) de tachar. De encontrar similitudes entre bandas e artistas, chegando ao extremo em muitos casos de fazer listas do gênero "artista tal é semelhante ou igual a tal". E no mundo cristão é uma parada que me incomoda sobremaneira, essa mania bizarra que alguns têm de querer desesperadamente encontrar uma banda cristã que seja parecida ou idêntica a um grupo não-cristão que ele curte, supostamente com o intuito de "deixar de curtir" (mais uma consequência da hipocrisia do "ouvir música mundana faz mal pra vida espiritual bla bla bla mimimi hurdur texto fora do contexto pretexto pra heresia capítulo 6 versículo 66").

Quando comecei a me especializar no rock cristão, confesso que foi um alento pra mim ver listas como as dos sites Metal for Jesus, Rad Rockers e o saudoso Metal for the King daqui do Brasil mesmo. Foram ótimos guias de comparação de bandas, que de certo modo deu uma ajuda pra identificar um pouco influências musicais de cada uma. Até hoje ainda uso um pouco essas listas, até por uma questão de saudosismo, e porque quer queira quer não são um bom guia - até as usei por um tempo quando era um dos administradores do saudoso fórum CMFreak, quando estávamos tentando fazer uma lista definitiva de bandas cristãs e similares seculares (ou foi no grupo Christian Oldschool do Face? Enfim...). Porém... não te parece algo limitante demais ficar o tempo todo tentando achar a "Dire Straits cristã"? (Aliás, vale a nota, até hoje nunca vi!)

Também nunca vi uma Jethro Tull gospel, uma Genesis cristã, uma Alice in Chains cristã, uma Kiss cristã... então né. Isso significa que a música cristã não é capaz de fazer um som como o dessas bandas? Não exatamente. Apenas Deus dá os dons dele a cada um como Ele quer. Sendo assim, sim, Mark Knopfler, Ian Anderson, Peter Gabriel, Phil Collins, Jerry Cantrell e Gene Simmons, cada um deles têm seus dons musicais por uma dádiva divina (a forma e motivação que usam é problema deles) e não é algo genuinamente adequado para os cristãos insistirem nessa mania de imitar eles ou procurar bandas similares, com medo de se não tiver acabar por continuar a ouvir tais bandas e assim "não vou me converter de verdade" blá blá blá.

Você sabe o quão esse lance de ficar atrás de banda parecida é perniciosa e criadora de rótulos e acusações de "plágio" quando vê o caso do Catedral. É óbvio que a banda se inspirou em, entre outras bandas, no Legião Urbana (e a voz de Kim se assemelhar absurdamente com a do saudoso Renato Russo ajuda nessa conclusão). Mas procurar a banda unicamente por essa particularidade é uma tremenda furada. Aliás foi com pensamentos assim que Ricardo Alexandre, então repórter do finado site Usina do Som em 2001 sabotou deliberadamente (e confessadamente inclusive em seu livro Cheguei Bem a Tempo de Ver o Palco Desabar) uma entrevista com a banda Catedral, no intuito de os rotular de meras cópias do Legião Urbana e também sujar a carreira deles ante o público cristão. Foi também assim que forçaram até o extremo a imagem da banda Yunick como o "Restart gospel" (e em entrevistas a banda jamais endossou esse rótulo, embora obviamente o visual da banda nos primórdios evocasse essa influência da cena happy rock). Até hoje a única banda que conheço que nunca fez questão em negar suas influências claras e até mesmo em se dizer como o "AC/DC cristão" foi a X-Sinner, que dizia isso até no próprio site da banda (e pelo que eu soube por alto, o Rex Scott não curtia nada essa comparação kkkkk). Mas até eles eram bem superiores musicalmente ao AC/DC. Com o passar dos anos e audições passei a repudiar falas como "Barren Cross é o Iron Maiden cristão" ou "Sacred Warrior é o Queensrÿche cristão". E o Bloodgood é o que? Afinal, taí uma banda de metal que nunca vi nenhuma "secular" sequer parecida. O Oficina G3 mudou tanto sua sonoridade ao longo dos anos, seriam o que? O Rebanhão então, quem no secular fazia um som igual ao deles? Vamos descartar talentos assim por não se parecerem com banda nenhuma secular? Ou vamos só continuar procurando a versão cristã do Cradle of Filth?

A verdade é que dá pra entender quando novos convertidos ficam nessa paranoia de procurar uma banda cristã similar ao som da sua banda secular predileta. Mas chega a ser infantil quando um marmanjo velho na fé continua nesse tipo de enumeração por medinho do contato com a "terrível música secular". Enquanto não evoluirmos nesse aspecto, seremos meninos pra sempre, quando já devíamos ser adultos no entendimento e largar as meninices tolas que ainda aprisionam muitos de nós (I Coríntios 13.11).

Soli Deo Glori.

sábado, 5 de outubro de 2019

Rock "cristão" ou "feito por cristãos"?


A alguns anos atrás a CCM americana (e posteriormente na versão BR, a saudosa CCM Brasil, na edição 09 de janeiro de 2000) saiu uma matéria interessantíssima a respeito de artistas cristãos como Sam Phillips, The Alpha Band, U2, Steve Taylor, King's X, Jars of Clay, The Call e outros que por muitas vezes não seguem as "regras" do "gospel" ou largavam a carreira religiosa, bem como artistas supostamente "não-cristãos" como Joan Osbourne e Prince que por vezes trilhavam os caminhos da música religiosa. Algum tempo antes a mesma CCM (matéria que sairia na edição 08 de dezembro de 1999 da CCM Brasil) falava da dificuldade de rádios "cristãs" passarem músicas, mesmo de artistas declaradamente cristãos, mas que porventura tivessem enveredado pra outras temáticas que não a fé cristã, por exemplo a explosiva "Baby Baby" de Amy Grant ou "Kiss Me" de Sixpence None the Richer. Em 2001 fãs de "rock gospel" ficaram atônitos com supostas declarações da banda Catedral acerca da igreja e do público "gospel" - declarações essa diga-se de passagem já comprovadamente falsas, manipuladas ou inventadas pelo então repórter do site Usina do Som responsável pela desastrosa entrevista -, e muitos abandonaram a banda, já contrariados desde que eles assumiram em 1999 que iriam tocar "para todo mundo" e não só para o público cristão. Curiosamente no mesmo ano um cantor cristão por nome Robinson Monteiro explodia no Programa Raul Gil, à época na Rede Record, com versões de cantores seculares como Whitney Houston e Crowded Horse, lançando um disco de grande sucesso nacional, "Anjo" (música do Roupa Nova que acabou virando o apelido do cantor), com a grande maioria de suas canções de autoria secular. Desde meados dos anos 2000 bandas como Palavrantiga, Aeroilis, Tanlan e Crombie, debaixo de um manto chamado de "Novo Movimento" (ou "Crossover") vem desafiando os limites do que é música e lírica cristã.

Essa discussão sobre os limites do que um cantor cristão pode fazer é tão antigo que muitos creem vir de bem antes do cristianismo. Como falei no texto que também dá pra encontrar aqui no Blog acerca da linha do tempo da história da música cristã, acredita-se que o Rei Davi chegou a usar canções da época como base instrumental para alguns de seus salmos. Salomão fez uma canção de amor para uma de suas esposas fantástica que todos conhecemos como Cantares (ou Cântico dos Cânticos) de Salomão e que está presente tanto na bíblia hebraica (só o antigo testamento) como nas de qualquer vertente do cristianismo. Martinho Lutero, o reformador da igreja, usou canções usadas em campos de cevada para criar cânticos que levaram diversas pessoas a se arrependerem verdadeiramente ao Evangelho, para desespero de muitos de seus opositores que diziam que "as canções de Lutero 'destruíram' (crivo meu) mais corações que suas pregações e livros". O "Saltério de Genebra", primeiro hinário oficial da igreja calvinista, foi encomendado pelo Jean Calvino em pessoa para Louis Bourgeois, que pediu ajuda a Clement Marot, poeta francês que usou canções francesas populares para fazer a métrica dos cânticos, muitas dessas para entretenimento do rei francês Francisco I, uma situação que levou Marot a fugir dos católicos franceses furiosos e se abrigar em Genebra pra não ser morto (!). Séculos mais tarde os irmãos Wesley (John e Charles), fundadores do metodismo, criaram as canções evangelísticas, feitas com o intuito direto de trazer pessoas a Cristo, mas usando canções populares e folclóricas de origem germânicas, como a famosa "O Dia de Descanso e Júbilo", que originalmente chamava-se Mendebras e é cantarolada até hoje por qualquer um que trabalhe nos campos de cevada alemães. William Booth, criador do Exército da Salvação, foi o maior criador dos hinos de marcha, usando marchas populares de exércitos e hinos como o "Battle Hymn of Republic" para fins evangelísticos (esse último no Brasil é conhecido como "Vencendo Vem Jesus" ou "Glória Glória Aleluia"). Na primeira metade do século XX o famoso evangelista Billy Sunday usou de expedientes similares aos de D.L. Moody e outros já citados, e vários cantores como Joshua White, Blind Willie Johnson, Rosetta Tharpe, Mahalia Jackson e Gary Davis fizeram carreiras paralelas cristãs e seculares, encontrando pouca ou nenhuma oposição em alguns momentos dentro da igreja, algo bem diferente do ocorrido com os primeiros roqueiros, como Elvis Presley, Chuck Berry, Sly Stone, Carl Perkins, Jerry Lee Lewis, B.B. King e Johnny Cash, que enfrentaram severa repressão por parte do mundo cristão. No final dos anos 1960 o Jesus Movement tentou levar ao público jovem de seu tempo uma música mais contemporânea, o que levou à fúria de muitas igrejas conservadoras. Aqui no Brasil a oposição ao "rock cristão" (quem nunca ouviu Lourival Freitas tocando seu country - olha que ironia - "Tem Roqueiro na Igreja" dizendo que "se você não for bem crente dar vontade de dançar", que "seus barulhos não têm nada de Evangelho" e que os pastores deixam tocar na igreja com medo de "logo se desviarem e virarem vagabundos") já provinha desde os precursores dos anos 1970, piorou quando o Janires e o Rebanhão com suas letras geniais e sonoridade bem variada levou eles a acusações de conter "mensagens subliminares" em seu disco de estreia "Mais Doce que o Mel" de 1981, entre outros; e piorou ainda mais com o "movimento gospel" do final dos anos 1980 até o final dos anos 1990. Bem, esse último até quebrou no fim de sua jornada como movimento muitos preconceitos acerca do rock, porém acabou gerando um efeito colateral bem curioso: a rejeição a toda música "secular".

A aversão à "música do mundo" obviamente precede o movimento gospel, e já era famosa a muito uma frase: "queria que meu vizinho virasse crente pra me dar todos os discos dele!", já que não era incomum esse ato (minha mãe mesmo fez isso - e se arrepende amargamente faz tempo haha). Porém o gospel sem querer acabou criando uma barreira de separação: agora existe a música "gospel", cristã, boa, adequada (apesar de muitas terem heresias terríveis) e a música "secular", "mundana", corrupta, feita por "servos do diabo" e que não trazem nada de bom, cantar essas músicas feitas por eles, mesmo as que supostamente falam bem de Deus ou ouvir versões que eles porventura façam de canções cristãs vai enfiar na sua cabeça e na sua vida demônios e etc e tal. Colocaram que se o movimento gospel trouxe a abertura para outros ritmos, agora tornava-se desnecessário completamente ouvir, comprar, assistir ou ter quaisquer coisas "seculares", sob pena de estar sustentando "adoradores do demônio". Alguns pastores chegam até a afirmar aquela velha teoria que muitos teólogos mais atenciosos já descartam completamente de que satã quando ainda era um querubim era regente dos corais celestes e que levou todos os instrumentos e ritmos com ele pro inferno (esse é "o bichão" mesmo hein cara! Roubou o que é de Deus na cara dura). Com isso, artistas cristãos que fazem covers de bandas seculares ou que decidem se aventurar numa carreira mais "mainstream" ou similar são chamados de traidores, vendidos, mundanos ou falsos cristãos. A situação é tão ridícula que já vi cantores e bandas como Novo Som e João Alexandre serem xingados por cantar canções românticas. Esse último chegou a declarar que não fazia "música gospel", o que causou certo celeuma no cenário. Algo parecido pode ser dito sobre o termo "white metal" (inventado pela gravadora Metal Blade unicamente pra banda Trouble - formada por cristãos, mas nunca declaradamente "gospel" e que odiava o rótulo "white metal" - pra separar de bandas que cantavam sobre o demo, as "black metal" antes do termo designar um estilo), termo inventado por uma gravadora não cristã e que acabou por rotular, segregar e virar chacota no meio "secular" - principalmente no Brasil, onde o nível de intolerância chega a estados alarmantes, em especial quando enfiam ideologia no meio da parada (o termo "unBlack metal" acabou caindo na mesma situação inclusive). Rebelando-se contra esse termo, Claudio Tiberius e cia, fundadores do C.M.F. (Christian Metal Force) e da DevilCrusher, acabaram encerrando a banda e criando a Berith, uma das mais polêmicas bandas cristãs brasileiras por justamente em meio aos anos 1990 se recusar a se identificar como "white metal" e tocar em todos lugares e com as mais diversas bandas, chegando a tornar-se amigos íntimos da banda secular Torture Squad.

Nesse retrospecto todo, fica ainda aquela situação, em que muitos contestam bandas como Stryper e Ultimatum, que não têm nenhum problema em fazer covers de bandas seculares - chegando a deixar claro, como no caso da Stryper, que não são uma banda "cristã" e sim feita por cristãos. Contestam bandas como Midnight Oil, Rodox, Moby, Aunt Beans, Alice Cooper, Bruce Cockburn, Tonio K., P.O.D., As I Lay Dying, Pat Boone, Mark Heard, Megadeth, Bob Dylan, Catedral e U2, formadas por cristãos, mas que não se comprometem diretamente com a música cristã. Contestam cristãos como Nicko McBrain (Iron Maiden), Tom Araya (Slayer), Cleberson Horsth e Serginho Herval (Roupa Nova) e o saudoso Serginho Knust (Yahoo) por tocarem em bandas seculares. Contestam bandas como Palavrantiga, Circle of Dust, Argyle Park, Pimentas do Reino, Crombie, Marcela Taís, Resgate e Lorena Chaves por letras "pouco claras" acerca da sua fé. Exigem um padrão de lírica sempre "gospel", querem que se fale o tempo todo de "Jesus Cristo te ama, te salva" ou "Glória a Deus" o tempo inteiro. A questão é que mesmo a Bíblia - que tem como centro e âmago Jesus Cristo, indubitavelmente - não se basta nos temas relacionados à louvor e adoração a Deus ou proclamação do Evangelho da Salvação. Até mesmo dentro da Palavra de Deus é possível ver cânticos com temáticas e motivos variados, que no fim todos são pra glória de Deus. O exemplo do livro de Cantares é bem importante pra mostrar que é possível cantar sobre as belezas da criação e do amor entre um homem e uma mulher pra adorar a Deus, mas além disso, há outros exemplos, como todo o livro de Lamentações de Jeremias, cânticos feitos como lamento pelo estado de Jerusalém antes e depois de sua queda pelas mãos da Babilônia, mas não se restringe a este: o salmo 88 de Hemã é sem dúvidas o salmo mais "gótico" da Bíblia, terminando de maneira bem críptica e dura. Jeremias mesmo fez lamentação sobre o rei Josias por ocasião de sua morte (2 Crônicas 35.25). O salmo 73 é mais um hino de denúncia das injustiças sociais do que um simples louvor a Deus. Em Josué 6 foi mandado o povo tocar trombetas não em louvor a Deus, mas como um clamor de guerra, e o mesmo pode ser visto em Juízes 7.8, 16-22 e em 2 Crônicas 20.21-22. Cânticos na Bíblia aparecem para os mais diversos motivos, mas na história da música cristã também foi assim, como por exemplo "Quão Grande És Tu", de Stuart Hine, que nasceu enquanto ele andava por um bosque e via a grandiosidade da criação divina. Sim, cantar sobre as belezas criadas por Deus é uma forma de louvar ao Criador. Então é algo bem complicado persistir em xingar pessoas cristãs que escutam secular ou que cantam letras "pouco religiosas". Primeiro porque não se pode julgar temerariamente pra não sermos julgados, pois a medida que julgamos indevidamente voltará contra nós (Mateus 7.1-2), quem somos nós pra definir se as pessoas são ou não de Deus baseados em aparências e regrinhas tolas da nossa "cultura cristã" (termo ridículo inclusive, já que o cristianismo não é uma cultura e sim uma fé transcultural que pode muito bem se manter dentro de qualquer cultura, obviamente removendo aquilo dentro da cultura que desagrada a Deus). Além disso, a Bíblia não estabelece regras realmente sobre o serviço ou o louvor a Deus, exceto uma: deve ser "em Espírito verdadeiro" (João 4.23-24). Como diria Lutero a um sapateiro que lhe perguntou como faria pra servir bem a Deus: "faça um bom sapato e venda-o por um preço justo". Todas nossas atividades devem ser pra glória de Deus, devem ser atos de louvor e adoração a Deus, e isso não só em cânticos "gospel". Será que estamos tentando fazer o papel de juízes na Terra de maneira indevida? Pois é, pensemos nisso.

Deixo pra finalizar o cântico "Falso Véu" de João Alexandre que ele fez pro Vencedores por Cristo que representa muito essa piração toda por parte de alguns hipócritas que precisam ser mais adeptos do "misericórdia quero e não sacrifícios" (Oséias 6.6 e Mateus 9.13).

Quem é que pode te garantir
Que este teu jeito
De servir a Deus
Seja o melhor
Seja o mais leal
Um padrão acima do normal?

De onde vem tanta presunção
De ser mais santo
De ser capaz
De agradar a Deus
Crente nota dez
Superior acima dos fiéis

Pobre este entendimento
Que não vem de céu
Fraco discernimento
Frágil, falso véu
Tenta encobrir em vão
Teu lado animal
Luta, perseguição
Tanto desejo mau
Confusão
Divisão

Se alguém quer mesmo
Agradar a Deus
Saber das coisas
Compreender
Mostre em mansidão
De seu caminhar
Ser gentil no gesto e no olhar
E a diferença que existe em nós
Poeira vinda do mesmo chão
É somente o amor
Que nos alcançou
Graça imensa
Imenso perdão
É somente o amor
Que nos alcançou
Graça imensa
Imenso favor


Que Deus nos abençoe e esse texto foi mais uma reflexão e não um "faça exatamente igual a mim". Ninguém é obrigado a seguir o que seu irmão segue, mas deve-se haver respeito, não o ataque às diferenças tão singelas. Sei que existem casos reais de cristãos que vendem seu chamado pro pecado, mas muitos desses curiosamente persistem a estar no mercado "gospel". Curioso não? Pensemos e oremos uns pelos outros e deixemos o dedo pra "furar bolo" invés de apontar!