sexta-feira, 24 de janeiro de 2020

"Nem só de rock vivo eu, mas de todo som que glorifica a Deus"



Rock é sem dúvida um estilo fantástico (se eu dissesse o contrário seria uma contradição com o blog kkkkk), e seus pais negros (spiritual, gospel, jazz, blues, R&B, soul) e brancos (country, southern gospel, pop) e suas muitas vertentes e subvertentes do punk, hardcore, metal, gótico, alternativo, indie; fusões e filhotes como funk, rap, reggae, eletrônica e outros; todos são verdadeiros gêneros fantásticos, muito embora em alguns casos sejam mal vistos, mal quistos e interpretados pela sociedade, ou mal executados por seus amantes. Sempre vou amar o som criado pelos riffs de uma guitarra, uma bateria forte e arranjos criativos. As vezes uns anárquicos também, como a turma do grindcore, noise, raw black metal, post-rock, post-metal, avantgarde e similares, mas em geral a harmonia mais direta de estilos que são sim cultura, arte e criação divina - ao contrário do que uns elitistas tolos, religiosos hipócritas e conspiracionistas psicóticos andam falando por aí afora.

Mas é necessário abrir um parêntesis aqui, pois que Deus é autor de tudo e de todas as coisas, portanto todas as criações divinas, e tudo o que elas produzem (em especial o que nós, coroa da criação divina, produzimos) podem ser usadas pra Sua Soberana Glória, eu acho lamentável quando escuto ou leio declarações de pessoas que se dizem "roqueiros cristãos" dizendo que "ah, samba e pagode é um lixo", "brega é ritmo ridículo", "funk é coisa de marginal", "música clássica e música da harpa é música de funeral", dentre outras declarações que até eu mesmo já me peguei falando. É verdade que muitos estilos "da mídia" por exemplo possuem letras "depravadas" e que incitam diversas coisas ruins e pecaminosas, mas isso não é algo inerente ou exclusivo de um estilo, tal como isso não impede o uso de quaisquer estilos pra glória de Deus (como disse acima, Deus pode usar toda forja humana pra sua soberania, já que somos sua criação, e nossa inteligência também é uma dádiva dele mesmo, bem como nossa criatividade). Veja o rock por exemplo, ele é acusado pela ignorância de muitos como incitador ao aborto, drogas e satanismo, isso porque a própria mídia gosta de enfatizar esses elementos no rock por puro preconceito e interesses midiáticos (já que em períodos em que o estilo esteve em alta no Brasil, como na jovem guarda e no BRock oitentista, os artistas muitas vezes eram blindados pela mesma mídia que posteriormente os regariam à obscuridade e ao desprezo). Então, se nós usarmos esse tipo de arma, a de expor os supostos defeitos dos outros estilos (que na verdade não são dos estilos e sim de muitos de seus intérpretes), que moral teremos nós pra tentar nos defendermos quando pessoas como Dante Mantovani e "puritanos da moral e bons costumes" como ele se levantam contra nosso estilo?

Certa feita estava eu ouvindo "Voz e Violão" (1996) de João Alexandre quando eu morava ainda no Arruda, Recife, a mais de dez anos atrás, quando meu líder de células (Pedrito) da igreja que eu fazia parte chegou e ficou "abestalhado" em ver que estava eu ouvindo MPB cristã. Daí soltei uma versão da frase que dá título a esse post, parafraseando a declaração bíblica usada por Jesus contra satã "nem só de rock vive João Dias, mas de todo som que glorifica a Deus!" Ele curtiu muito a frase, pois percebeu bem que eu não era desses "roqueiros radicais". Pena que eu vez por outra cairia nesse conceito com alguns estilos, sem perceber que na verdade o mal não está num estilo ou outro, ainda que não seja o estilo do meu agrado ou que mexa comigo, não tenho direito de "cagar-regra" e definir tolamente que "quem ouve esse estilo é idiota". Na existência humana temos um costume travesso de manter argumentações de criança o resto da vida. Argumentos como "fulano quem mandou", "mas sicrano faz também", "beltrano fez primeiro e ninguém disse nada" são tão infantis e tolos quanto os xingamentos e "apelidos" que por vezes quando crianças usamos com a intenção de se achar melhor por agredir o outro (bullying em geral é praticado por pessoas tão ou mais inseguras que as que sofrem o bullying, e fazem tal prática no intuito de esconder seus defeitos e inseguranças). Então, esse bullying infantil persiste inerente no interior de muitos de nós, ao ponto de usarmos isso em discussões de internet, em debates e propagandas políticas (aliás pense num lugar onde são especialistas nisso e parecem não mudar nunca, esse ano vem uma chuva de debates onde propostas serão o que menos veremos, entretanto o "apelo ao ridículo" e ao ridicularizar pra tentar diminuir o adversário baseados nos defeitos dele invés de se fiar nas próprias qualidades - que normalmente inexistem ou são inválidas/inúteis/não importam na ocasião - pra tentar superar o adversário; ah, pode ter certeza que esse tipo de "debate" é garantido!) e até mesmo pra justificar seus gostos ou suas crenças pessoais.

Jesus jamais na Bíblia vemos utilizar-se de argumentos no intuito de enfatizar os erros dos adversários, fazendo mais por mostrar suas próprias qualidades, a validade de suas palavras, a coerência com o que a Lei e os Profetas - Primeiro Testamento - diziam, dentre outros (só em casos muito pontuais Jesus enfatizou os defeitos dos adversários, quando realmente foi preciso os expor). No livro de Jó vemos um exemplo inverso, os amigos de Jó tentando usar exemplos pontuais de pessoas que pecavam e por isso sempre que alguém sofria automaticamente era consequência do pecado, já Jó percebia claramente que nessa vida em que vivemos tentar determinar a justiça ou impiedade de alguém por existência ou falta do sofrimento é uma redução ao absurdo, pois não só ele sofria sem uma motivação pecaminosa, como sabia bem que muitos injustos nessa vida aparentemente triunfam. Asafe chegou a questionar Deus sobre a aparente manutenção firme de vida feliz dos ímpios (Salmos 73), ao passo que Jesus alertou que os seus discípulos sofreriam nesse mundo sim (João 16.33).

Denegrir a imagem de algo utilizando erros ou falhas desse algo não tornarão nunca outra coisa melhor de verdade enquanto tal coisa não mostrar suas qualidades. E no quesito musical, bem como em toda forma artística, isso vai mais além, já que arte por si só é neutra, guiada pelo gosto pessoal (que não faz algo melhor porque é ouvido ou gostado pela elite, por pessoas intelectuais, pelo "povão", pela "maioria", muito menos por você ou eu) e pela vida e experiência do artista - e aí sim talvez possamos dar uma qualificação dependendo da mensagem passada (se é que há alguma realmente) e sempre cuidando de não generalizar nem o estilo que tal artista desempenha ou faz parte, nem sua obra completa, já que não é por trazer erros ou coisas inaceitáveis em algumas peças ou obras dele que tudo que ele faz é inútil, ruim ou inadequado. Um bom exemplo: há um certo grupo de louvor conhecido como Diante do Trono, que já fez uma música chamada "Vitória de Cristo" que contém um relato muito famoso de que após a morte de Cristo o diabo e o inferno teriam feito uma festança, algo que não faz realmente sentido, haja vista que Cristo no instante seguinte ao de sua morte já esmagou o diabo e tomou dele as chaves da morte e do inferno. Ok, essa letra é herética portanto? Sim, não há como defendê-la, bem como algumas outras. Mas isso torna tudo do Diante do Trono inútil? Não, ou você vai dizer pra mim que canções como "Manancial", "Aclame ao Senhor", "Ao Cheiro das Águas" e "A Ele a Glória" (essas duas diretamente tiradas de passagens bíblicas) são ruins ou heréticas também? Só se você for desses chatolas que dizem "eca, é worship, é ruim!" Outro exemplo: sim, tem muita música "pentecostal" que irrita muito não só pelas letras como pelo ritmo de marcha e forró, mas isso significa que o mal tá no forró, no estilo? Não! Pode estar em algumas letras que forçam "movimento" e coisas do gênero, mas definitivamente se há uma música que eu curto muito é "A Fornalha" de Sandra Lima, e olha que é um forró pentecostal daqueles, mas a letra é animadora pra nos mantermos firmes na fé, ao falar do exemplo de Hananias (Sadraque), Mizael (Mesaque) e Azarias (Abedenego), que sem saber se sobreviveriam ou não à punição do rei Nabucodonozor, mantiveram-se firmes em só adorar ao Senhor e foram pra fornalha sem medo. Também curto muito "Seu Nome é Já" de Raquel Silva, outra ótima cantora pentecostal, com uma letra que realmente atinge e fortalece a fé em saber que o Senhor está conosco em todo lugar e situação (inclusive falando também da passagem de Daniel 3).

Sendo assim, dá pra perceber que devemos entender que não é porque não gostamos de um estilo ou outro, ou por curtimos mais um estilo ou outro que devemos desprezar todo o resto, considerar mau, ruim ou até mesmo diabólico, ou desprezar quem goste de tais estilos. Eu mesmo já tive minha fase "Johnnÿ Underground" inimigo de tudo que era "modinha" e que não fosse metal, mas a vida faz a gente mudar, e mesmo que continue não gostando de certos estilos - não, não dá pra eu virar eclético, não é meu perfil kkkkk - eu respeito bastante o gosto das pessoas (claro que isso não me impede de criticar certas músicas e artistas por aí afora, mas mantendo em mente que o gosto de cada um é de cada um). Eu mesmo amo ouvir música clássica, um bom reggae, alguns raps, muita MPB e música nordestina, alguma coisa de funk - mesmo o carioca inclusive - e até mesmo uns sambas e bregas. E isso independente de ser de lírica cristã ou não. Logo, devemos sim manter o respeito e nunca agredir estilos ou tentar ditar normas de radicalistas que acham que esse ou aquele estilo é inválido para um cristão. Quem fala esse tipo de asneira, principalmente se for um dito "roqueiro cristão" ou algo do tipo, não tem moral NENHUMA quando chegar algum irmão e dizer "teu som é do diabo, rock não pode ser usado em igreja" e coisas do tipo. Amemos uns aos outros, independente de nossas diferenças, Deus não fez todos iguais, pelo contrário, Ele nos fez diferentes para percebermos que sempre precisaremos de alguém para sermos completos, sempre precisamos uns dos outros e ao ver a complexidade de nossas ideias, percebermos que isso é só uma fagulha ante a infinitude do nosso Eterno Deus.

Soli Deo Glori e até a próxima matéria!


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Adendo: Pra quem quer umas recomendações cristãs de outros estilos, vamo lá:

- Funk BR: Kyriostron, Cesarel o Pregador, Yehoshua, Yerusalém
- Disco music: Eliã, Disco Praise, Deliverance (Canadá)
- Rap: DJ Alpiste, Gospel Gangstaz, Se7e, Apocalipse 16, Juízo Final, Relato Bíblico, Perbony, Biorki, dentre muitos outros
- Reggae: Christafari, Salomão do Reggae, La Petra, Nengo Vieira, Sarepta e mais um monte
- Brega: Fornalha
- Axé: Banda Nova, Banda Canal
- Música Clássica: Handel e Bach são os principais, mas a maioria dos compositores clássicos faziam peças cristãs.
- Samba e pagode: Maurão, F.O., Razão Gospel, Radicais na Fé/Divina Inspiração, Bezerra da Silva (sim, no último disco do mestre).
- MPB e Bossa Nova: Vencedores por Cristo, MILAD, João Alexandre, Grupo Logos, Guilherme Kerr Neto, João Inácio & Ranúzia, Quarteto Vida, Edson & Tita Lobo, Expresso Luz, Baixo & Voz, Josué Rodrigues e muitos outros.
- Sertanejo & Country: Canário & Canarinho, Alma & Lua, Zé Marco e Adriano, Irmãos Levitas, Os Peregrinos, Marcelo Aguiar, dentre outros.
- Sacra: Creuza de Oliveira, Luiz de Carvalho, Feliciano Amaral, Ozéias de Paula, Leonor, Cecília de Souza, Denise Carvalho e uma infinitude de outros.
- Pentecostal: Shirley Carvalhaes, Armando Filho, Waldeci Aguiar, Sandra Lima, Raquel Silva, Mattos Nascimento, Tuca Nascimento, Marcelo Nascimento e uma pá de outros.
- Louvor & Adoração (ou Worship and Praise): Comunidade da Graça SP (Adhemar de Campos), Ronaldo Bezerra, Renascer Praise, Diante do Trono, Comunidade da Graça de Uberaba, Koinonya, Altos Louvores, Comunidade de Nilópolis, Comunidade Zona Sul, Igreja Bíblica da Paz, Comunidade Carisma, Daniel de Souza, Ministério Life (Asaph Borba), Igreja Batista do Morumbi, Asas da Profecia, Asas da Adoração, dentre muitos outros.

Tá bom de dica, façam suas próprias pesquisas e sempre guiados pela Bíblia e bom senso, pois variar os ouvidos não faz mal pra seu ninguém nem arranca orelha ou fura tímpano de ninguém (kkkkk)!

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