sexta-feira, 7 de junho de 2019

Embaixadores de Sião


Na mesma época em que no sudeste e sul do país bandas como Êxodus, Jovens da Verdade, Vencedores por Cristo, Comunidade S8 e Cantores de Cristo já faziam um som revolucionário pra época, um grupo decidiu fazer o mesmo em Pernambuco. Egressos da igreja O Brasil para Cristo de Beberibe, Recife, os Embaixadores de Sião surgiram em meados dos anos 1970 e fizeram um som que fundia influências da Jovem Guarda, rock progressivo e até seresta. O apoio de sua igreja e de seu pastor, Aurílio Carneiro de Souza, foi fundamental para a continuidade e sucesso do conjunto. Embora pelo grupo tenham passado artistas clássicos da música cristã pernambucana e nacional como José Carlos e Afonso Augusto (in memoriam) e o pastor Gilson Nery (atualmente pastoreando a igreja O Brasil para Cristo de Dois Unidos, Recife), a formação mais clássica do grupo consiste em Issac Oliveira (voz, órgão e outros instrumentos), Marcos Santos (guitarras), Givaldo Gomes (baixo) e Luiz "Luizinho" Gonzaga Pereira (bateria). O grupo lançou três LPs apenas em sua carreira, mas continuam em atividade até aos dias atuais!


Jesus, o Amigo da Hora (1977)

01 - Onipresente e Excelso Deus
02 - Jesus é o Amigo da Hora
03 - Amor tão Profundo
04 - Castelos de Areia
05 - Vida Nova
06 - Outros Dizem... Outros Vivem
07 - O Rosto de Cristo
08 - A Ascensão de Cristo
09 - A Raiz da Salvação
10 - O Discurso do Rabi
11 - Preciso


Quando ouvi pela primeira vez esse disco, ainda na minha adolescência, eu pirei. Um som tão diferente pra época em que foi feito, em especial pra Pernambuco. Pra ouvidos menos apurados ou pessoas que costumam ouvir rocks mais pesados pode parecer um som banal e até meio "música sacra", mas o fato é que as faixas, que muito embora boa parte fossem versões de cantores estrangeiros como Sammy Hall, Benny Goodman e o roqueiro cristão Gary S. Paxton, são revolucionárias pr'aqueles tempos no local em que os Embaixadores de Sião surgiram. Se até hoje o rock é visto com reservas por grandíssima parte dos cristãos do nordeste brasileiro, imagina naqueles tempos! Mas é bom demais ouvir o rock progressivo de "Onipresente e Excelso Deus" e "A Ascensão de Cristo", o jazz de "Vida Nova", o country de "O Discurso do Rabi" e a jovem guarda/twist de "Jesus o Amigo da Hora" e "Outros Dizem... Outros Vivem". Mas sem dúvidas a faixa mais afamada desse disco é a versão de "O Rosto de Cristo", uma letra inesquecível que já havia sido cantada inclusive pelo saudoso pastor Feliciano Amaral (um dos pais da música cristã em disco compacto - single - no país). Essa versão dos Embaixadores de Sião se tornou a mais popular de todas, tornando a Embaixadores de Sião um dos raros casos de cantores e grupos de rock cristão a aparecer com certa regularidade no clássico programa "Cantinho da Saudade" da Rádio Maranata FM.



Capa da versão LP
A Expansão do Evangelho (1981)
Capa da versão CD

01 - Passageiro
02 - Eu Preciso de Deus
03 - O Pão da Vida
04 - Vivo a Procurar
05 - Rio Divino
06 - A Luz do Mundo
07 - Panorama
08 - A Expansão do Evangelho
09 - O Mar do Alívio
10 - Geração Florida
11 - Firme


Nos anos 1980 vários grupos e cantores dos anos 1970 que traziam um som mais roqueiro deram uma "maneirada" no som, ficando mais pop ou indo para a adoração. Assim foi com Os Cantores de Cristo, Os Atuantes, Wolô e Nicoleti, dentre outros. Os Embaixadores de Sião entretanto continuaram trazendo uma pegada de rock progressivo, flertando com estilos dentro da MPB, como fica notável em "Passageiro", a faixa de abertura, cantada pelo saudoso Afonso Augusto, ou em "O Pão da Vida". Suas influências maiores eram sem dúvidas Agnaldo Timóteo e Altemar Dutra (esse último aliás tinha a voz muito parecida com a do Afonso Augusto), o que dava um clima mais seresteiro às músicas compostas e cantadas por ele. Já Isaac continua cantando os sons mais rock da banda, como "Eu Preciso de Deus" e "Firme". "Geração Florida", que cita a geração hippie, é uma das canções de temática mais contemporâneas ao disco, uma ligação direta com a geração jovem da época. "Firme" é uma das faixas mais belas da história da banda. Após o disco, pouco depois Afonso Augusto lançaria o seu primeiro solo, "Palavra Verdadeira" (1982), ainda identificado como membro do grupo, e com a ajuda da banda, mas não demoraria a se desligar por completo do grupo e seguir sua brilhante, embora curta, carreira solo.

"Geração Florida" ganhou uma versão anos depois do cantor sacro/pentecostal Marcos Antônio.


Afonso Augusto - Palavra Verdadeira (1982)

01 - Palavra Verdadeira
02 - A Igreja
03 - A Rosa Vermelha
04 - Oração Permanente
05 - Venha a Cristo
06 - Filho Pródigo
07 - Tudo em Mim Mudou
08 - Teu Deus Ainda Sou
09 - O Publicano
10 - Jesus Breve Virá


Esse disco só inclui pelo fato de que o Afonso à época ainda fazia parte dos Embaixadores de Sião e a sonoridade lembrava bastante a do grupo. Aliás, a bateria é toda do Luiz Pereira e parte da produção do disco foi do Isaac Oliveira, o que deu esse tom mais jovial ao disco. Os álbuns seguintes do Afonso Augusto seriam mais simples, mais sacros, mas sem perder um pouco de seu tempo clássico (tanto que "Palavra Verdadeira" e "Passageiro" - faixa que ele gravou originalmente nos Embaixadores de Sião - iriam ser músicas recorrentes em sua carreira).

"A Igreja" também foi regravada por Marcos Antônio, já Palavra Verdadeira teve uma regravação que eu não tenho certeza do autor.


Refúgio e Fortaleza (1983)

01 - Refúgio e Fortaleza
02 - Trombetas e Anjos
03 - Quebranta-me
04 - Eu Seja uma Bênção
05 - Deus me Escolheu
06 - Cristo é a Ponte
07 - Momento na Vida
08 - Se Não Fosse Teu Amor
09 - No Novo Caminho
10 - O Rosto de Cristo



Na época em que esse disco saiu, a igreja em Pernambuco já estava lentamente se abrindo a alguns corajosos artistas, como Eliã, José Carlos, Pacto, Artecristã e Novo Reino. Nesse meio, os precursores da Embaixadores de Sião seguiram numa linha mais pop, mas ainda mantendo elementos de rock progressivo, como na faixa "Trombetas e Anjos" e os efeitos geniais no meio da faixa, e também a belíssima "Eu Seja uma Bênção". Nesse disco a banda foi toda reformulada, só mantendo-se Isaac e Luiz. Harry Marcos assumiu o baixo, Jorge Lira a guitarra solo e Rildomar Nascimento a guitarra base e vocais em faixas como Refúgio e Fortaleza, Trombetas e Anjos e Quebranta-me, além disso o disco trouxe um grupo de back-vocais com quatro moças e dois homens. A sonoridade mais leve e suave do disco fez o grupo continuar firme nessa fase, com letras que até hoje fazem a diferença. O sucesso "O Rosto de Cristo" está aqui presente numa nova versão menos memorável, bem como outro grande sucesso do grupo, "Cristo é a Ponte", talvez a melhor faixa desse disco. Depois desse, Rildomar seguiu em carreira solo e o grupo se desfez algum tempo depois.

Apesar da partida para os céus de Isaac, Givaldo e Afonso, além da carreira solo sem retorno de Marcos Santos, Rildomar e José Carlos, a alguns anos Luizinho reformulou a banda, assumindo os vocais e mantendo-se na bateria, juntamente com Jorge Lira nas guitarras, Orlando no contrabaixo e vocal e Wellington no teclado e vocal. De vez em quando eles se reúnem para apresentações.


Da esquerda pra direita: Luiz, Jorge, Orlando e Wellington,
em uma apresentação do grupo na extinta loja Betsalém,
na avenida Dantas Barreto, bairro de São José, Recife, em 2010.


Para mais informações sobre o grupo acesse o blog do Marcos Santos.


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