sábado, 1 de junho de 2019

Zé do Mangue




José Edson Ferreira, também conhecido como Zé do Mangue, é um cantor pernambucano e também pastor. O projeto Zé do Mangue traz uma sonoridade bem na linha do mangue bit das seculares Chico Science e Nação Zumbi, Mundo Livre S/A e a cristã Arrede (A Rede). Tudo começou no início dos anos 1990, quando o grupo Bom Pastor dos irmãos olindenses Ferreira (Josildo, Edilson e Edson) se dividiu em duas bandas: a regionalista Banda Nova e a mais hard rock Cavaleiros do Rei. Essa já trazia no DNA um pouco de mangue bit, que foi aprofundado na sua continuação, a Banda Tempero. No início dos anos 2000 a banda Tempero virou somente Zé do Mangue, e segue nessa formação até os dias de hoje, fazendo um som muito regional e irado, sendo sem dúvidas os precursores do gênero no país, anos antes das bandas Heaven de Pernambuco, Sarepta, A Rede e Acesso Livre, honrando sua origem do bairro de Rio Doce, o mesmo bairro onde nasceu Francisco França, o saudoso Chico Science.


Cavaleiros do Rei - Cavaleiros do Rei (1993)

01 - Sepultura Vazia
02 - Cristo Reina
03 - Jesus
04 - Pra que viver assim?
05 - Sai Dessa Droga
06 - Cavaleiros do Rei
07 - Nação



Hard'n'heavy bem na linha da também pernambucana banda Candelabro, mas com alguns momentos bem próximos de bandas como Bride e Whitecross, Cavaleiros do Rei já trazia o talentoso guitarrista Oseas Albuquerque, fazendo riffs muito bons. Edson consegue mandar bem até nos arranjos agudos da faixa título, mostrando que realmente estavam com sede de rock. Sendo uma das precursoras do rock cristão em Pernambuco, Cavaleiros do Rei também trouxe uma outra novidade na faixa que fecha esse pequeno disco, "Nação", um mangue bit, o primeiro som do gênero na música cristã, saindo inclusive antes de "Da Lama ao Caos" de CSNZ (que só sairia em 1994).


Tempero - ...Mangue... (1994)

01 - Vale de Ossos
02 - O Bloco mais Bonito
03 - Brasil
04 - Geração Perdida
05 - Energia
06 - Linda
07 - Nação
08 - O Nordeste é do Senhor
09 - Não Cai, Não Cai
10 - Mangue
11 - Abalando a Avenida
12 - Não Sou Louco
13 - Natureza

Apesar do nome, é curioso pensar que esse disco tem muitas faixas mais próximas do que se esperava encontrar num disco da Banda Nova (que naquele mesmo ano de 1994 lançaria seu disco de estreia, Olinda). Como esse blog é de rock, não vou analisar profundamente faixas como "Brasil" (apesar do ótimo solo de guitarra) e "O Nordeste é do Senhor". Já faixas como Vale de Ossos, Geração Perdida, Nação (regravada), Mangue e Não Sou Louco são fantásticas sonoridades de mangue (a última é mais rock, meio relembrando a banda original). Uma curiosidade é que as faixas "Linda", "Abalando a Avenida" e "Natureza" depois foram reutilizadas pela banda dos irmãos de Edson, a Banda Nova, em seus discos seguintes, "Ao Vivo" (1998) e Dia de Festa (2001). Mas de resto, o ponto alto do disco são as quatro faixas mais voltadas pro mangue e "Não Sou Louco". "Geração Perdida" e "Nação" possuem uma mensagem extremamente atual, a primeira sobre a juventude em busca de aventuras insanas em drogas, já Nação trazendo uma resposta para aqueles que vão em busca de respostas em políticos e na idolatria. "Mangue" é a que mais lembra o som insano de CSNZ, afora a temática que insere a todos dentro do manguezal, com referências aos animais da região (aratu, gabiru, chié, siri e urubu). Embora com uma pegada mais frevo, "Não Sou Louco" tem umas pegadas mais rock que as músicas similares do disco.


Outros Vales (DVD, 2004)

01 - Outros Vales









Videoclipe, de quando o projeto assumiu de vez o nome "Zé do Mangue". A faixa "Outros Vales" é uma das mais bem trabalhadas em anos do grupo. Além dessa, não é difícil encontrar no Youtube outras faixas, como "Sapiranga" e "O Fora da Lei". Pode procurar, vai valer com certeza a pesquisa.

Zé do Mangue continua na ativa, sendo inclusive um caso curioso de grupo cristão que consegue tocar até mesmo no concorridíssimo e demonizado Carnaval de Olinda. Quem gosta de boa cultura nordestina com letras cristãs, o Zé do Mangue, juntamente com Arrede fazem um som que não é pra botar defeito algum!

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