quarta-feira, 3 de abril de 2019

Rebanhão



Rebanhão é uma banda que sua história se confunde em seus primórdios com a do seu fundador, Janires Magalhães Manso. O saudoso músico que nos deixou em 1988 converteu-se em meados dos anos 70 e passou a viver uma vida bem simples, mas decidiu dedicar seu talento musical a Deus, com toda a criatividade possível. Muitos grupos naquela década no Brasil vinham tentando romper as fronteiras musicais, como Os Cantores de Cristo, Jovens da Verdade, Embaixadores de Sião, Cades-Barneia e Êxodus, entre outros, e sem dúvidas o Rebanhão foi o primeiro a fazer isso com maestria, mas também sofrendo bastante oposição por parte das igrejas desde sua primeira encarnação, ainda em São Paulo, posteriormente com uma versão em Rio de Janeiro que ficou muito mais famosa e que seguiu em frente após a saída de seu líder em 1985 para participar do MPC de Minas Gerais e montar a Banda Azul. Tornando-se os precursores da cena do movimento gospel no Brasil, foram também os primeiros a alcançarem as rádios não-cristãs, espalhando sua fé e sua música de altíssima qualidade e letras geniais. Em 1999, após 20 anos, a banda teve seu fim, mas para a alegria de muitos, em 2014 voltaram a ativa com três integrantes de sua formação mais clássica: Carlinhos Félix (guitarra e vocais), Pedro Braconnot (teclados e vocais) e Paulinho Marotta (baixo e vocais).


Janires - Rebanhão K7 (1979)

01 - Castelo de Areia
02 - Tributo (Aleluia)
03 - General
04 - Disco Voador (Bebê de Proveta)
05 - Taças de Cristais
06 - Para Dançar (Discoteca)
07 - Eu Tenho Uma Casa no Céu
08 - Etc e Tal (Ponte)
09 - Pai Herói (Cara a Cara)
10 - O Espetáculo Mais Lindo da Terra (Arco-Íris)

(OBS: Alguns títulos de música são incertos, e a ordem apresentada é a comumente encontrada em MP3 na internet)

Raríssimo K7, gravado ainda com a primeira encarnação do Rebanhão (Janires, Lurdinha, Mike - futuramente famoso por canções tocadas no Oficina G3 e Metanoya - e Carrá) em SP, quando faziam parte da Igreja Cristo Salva, muitos não consideram ainda um disco oficial da banda e sim um solo do Janires. A pegada lembra uma fusão de tropicália, rock progressivo e o projeto bizarro do Raul Seixas nomeado "Sociedade da Ordem Grã-Kavernista". Essa fusão de estilos trouxe uma sonoridade fora de série, admirável até hoje, pois rock progressivo e samba dividem espaço magistralmente aqui.

Liricamente Janires já mostra sua poética fascinante em "Castelo de Areia" e em "Taças de Cristais", além de um estilo bastante curioso de falar de temas da época, como danceterias (e a possibilidade de cristãos dançarem pra adorar a Deus sem precisar de discoteca - que curioso em uma época em que temos até "rave gospel" como a atual), bebê de proveta, máquina "xeróx", prancha de surfe, Flash Gordon, King Kong, novelas e programas da Globo - Cara a Cara, Pai Herói, Direito de Nascer, Os Trapalhões, Planeta dos Homens e Fantástico (sim, na época em que até bandas cristãs de rock como a Vida Abundante cantavam músicas dizendo que TV era do diabo, "TiraVisão" - música da dupla Ageu e Mauro kkkk) -, comerciais ("Casa no Céu" remete um pouco a esse estilo) e até mesmo uma canção que já ilustrava uma certa indiferença de alguns cristãos ante a sociedade, anos antes da maldita teologia da prosperidade dar às caras ("Etc e Tal"). Sem dúvidas essa K7 é atemporal demais, mesmo tendo tantas citações de elementos daqueles anos 1970 no Brasil.

Versão original e a censurada
Mais Doce que o Mel (1981)

01 - Tudo Passa
02 - Monte
03 - Mel
04 - Salas de Jantar (Pot-Pourri: Jesus Cristo Pode te Dar/Glória a Jesus/Jesus, Filho do Homem/Glória ao Pai, ao Filho, ao Espírito Santo)
05 - Passageiro
06 - Baião
07 - Refúgio
08 - Amizade
09 - Casinha
10 - Tudo é Meu

Após se mudar pra Rio de Janeiro, Janires montou uma nova versão do Rebanhão: Ele nos vocais principais e seu violão Ovation, Carlinhos Félix, recém saído do grupo Sinal Verde, nas guitarras e segundo vocal, Paulinho Marotta no baixo (e posteriormente segundo vocal também), Pedro Braconnot (teclado e back vocais), Kandel (bateria) e Zé Alberto (percussão). O disco já chegou muito bem pela gravadora Doce Harmonia/Donai, apesar da polêmica instantânea que o mesmo gerou já na capa, com um Janires de camisa aberta mostrando o peito cabeludo "bem sensual" kkkkk e um Carlinhos Félix barbudo pra desespero dos pentecostais da época (vide acima a versão original e rara da capa e a versão já censurada).

A sonoridade pop rock, com visíveis influências de Jovem Guarda, Raul Seixas e Secos e Molhados, dentre outros, também causou muita controvérsia. Até acusações de mensagens subliminares no disco rolaram, com vários religiosos bobos rodando o disco de trás pra frente tentando encontrar palavras diabólicas (kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk). A religiosidade à época realmente era terrível, infelizmente.

O disco traz o Carlinhos Félix cantando 6 das dez músicas, trazendo nelas sonoridades mais suaves, apesar de uma em especial, "Passageiro", ter uma pegada mais blues/jazzística. "Monte" tem uma letra bem séria e curiosamente crítica - pr'aqueles irmãos que vivem subindo em monte pra orar (algo que não é necessariamente errado, frise-se), e ignoram os irmãos que não fazem isso - e o sax de Paulinho Araújo. "Refúgio", primeira composição da vida de Pedro Braconnot, virou uma balada épica. "Tudo é Meu" trouxe uma harmônica, e é bem pop/rock, tal qual "Amizade".

Já as outras quatro faixas são puramente Janires, com sua genialidade sublime, como a balada genial "Mel" (regravada por Marcos Góes e Kim anos mais tarde), o "Pot-Pourri" bem progressivo, que já ganhou uma versão atualizada pelo próprio Rebanhão e pelo grupo de grindcore pernambucano NxOxS. As mais épicas sem dúvidas foram o chorinho "Casinha", com sua visão dúplice de uma cidade do interior e a seguinte visão futurista da cidade celestial; e a mais épica canção, "Baião", uma música que o ritmo é o que o próprio nome diz, com uma letra genial e crítica ao abandono do governo à sociedade, bem corajosa em meio à Ditadura Militar que governava o país. Ambas ganharam versões do próprio Rebanhão e diversos outros cantores e bandas, como Carlinhos Félix, Paulo César Baruk. F.O., dentre outras. Tudo isso torna esse um álbum excepcional, provavelmente o mais importante dos anos 1980 no Brasil e eleito o segundo maior disco da música cristã do site Supergospel por vários críticos, dentre eles este que vos fala (só atrás de "De Vento em Popa" do Vencedores por Cristo).


Luz do Mundo (1983)

01 - Luz do Mundo
02 - Hoje Sou Feliz
03 - UAI (Unidos no Arrebatamento da Igreja)
04 - Com Cristo em Mim
05 - Casa no Céu
06 - Sinal Verde
07 - Ano 2000
08 - Jesus Meu Refúgio
09 - Taças de Cristal
10 - De que Adianta?


Contracapa

Ainda mais bem produzido que o antecessor, gravado nos estúdios da Rádio Transamérica e conseguiu ser tocado em rádios não-cristãs. As faixas "Casa no Céu" e "Taças de Cristais" voltam com versões ainda mais fantásticas do que as originais da fita K7 de 1979, e as faixas de Janires seguintes mantém a genialidade do saudoso líder. "UAI" me remete, pelo título completo, a uma escola de samba, apesar de não ter nada a ver com samba e sim um belo rock progressivo. "Hoje Sou Feliz" é uma homenagem ao piloto e amigo de Janires, Alex Dias Ribeiro, um dos líderes do projeto "Atletas de Cristo" e é uma das canções mais belas de toda a minha vida, amo ouvir e reouvir diversas vezes, por me remeter a sonhos de infância, quando eu também queria ser o Super-Homem. Foi também a faixa de estreia de Paulinho Marotta dividindo vocais com Janires. "Ano 2000" pode não ter se concretizado (kkkkkkkkk), mas virou uma faixa de rock bem forte e fantástica. As faixas de Carlinhos Félix são fantásticas também, como a genial samba-rock "De Que Adianta?", a faixa em homenagem à antiga banda dele, "Sinal Verde", e a faixa título.

O disco chegou a ser relançado pela Arca Musical em 1998 com uma capa azul e a imagem do pastor com a ovelha (não achei para postar aqui, mas se encontrar com certeza postarei - Nota do Redator), e em 2018 voltou a venda com a capa original.

Paz pra Cidade (Single, 1984/5?)

01 - Paz pra Cidade
02 - Menino Passarinho
03 - Natal é Boas Novas

Compacto lançado em comemoração do natal, raríssimo. A faixa "Paz pra Cidade" foi posteriormente republicada na coletânea Ponto de Encontro da MPC, junto com uma versão solo de Janires pra "Casinha" e vários outros artistas como Jovens da Verdade, Vencedores por Cristo, Quarteto Vida, Grupo Águas, Grupo Pescador, Grupo Semente e Sinal Verde. "Paz pra Cidade" foi a última gravação oficial de Janires pra sua banda Rebanhão, já que em 1985 ele se mudaria pra Minas Gerais para formar a Banda Azul.

Janires - Janires e Amigos (1985)

01 - Baião
02 - Jesus Cristo Mudou Meu Viver
03 - Baltazar, o Artilheiro de Deus
04 - Helena (todo pecado será perdoado)
05 - Mamãe
06 - Jesus Super-Herói
07 - Casinha
08 - Alex, o Baixinho Voador
09 - Alfa & Ômega (ministração)
10 - Arca (Festa de Arromba Evangélica)
11 - À Amiga RBN (Rádio Boas Novas) (Lindas Canções)

Versão em CD:

12 - Mel (versão original)
13 - Baião (versão original)

(OBS: A ordem em LP é diferente dessa apresentada aqui).

Relançamento de 1994
Oficialmente é um disco solo do Janires gravado ao vivo no auditório da Rádio Boas Novas em 14 de dezembro de 1984 (tornando-se o primeiro disco cristão ao vivo do Brasil) comemorando seus 10 anos de conversão com vários amigos, como a Banda Fé (com os futuros Banda & Voz Natan Brito e Beno César), que fez o acompanhamento, junto a vários amigos como o também já saudoso pastor Paulo César Graça e Paz, Marcos Góes em seu primeiro trabalho musical antes do Grupo Alma e futura carreira solo, membros do Rebanhão como Kandell, Pedro Braconnot e Carlinhos Félix, João Alexandre (na época nos grupos Pescador e MILAD) e vários homenageados, como o jogador Baltazar (que citou essa experiência no livro dos Atletas de Cristo), a atriz e cantora Helena Brandão (que tem por nome artístico Darlene Glória), o piloto Alex Dias Ribeiro, além da própria mãe, Luzia Magalhães. "Jesus Super-Herói" foi um dos primeiros sons cristãos brasileiros voltados pra crianças com uma sonoridade bem modernas, lembrando muito Trem da Alegria e a Turma do Balão Mágico. Os vocais do ainda bem jovem Wagner Carvalho (irmão da Cristiane Carvalho e que futuramente seria baterista na Rebanhão) deram o ar jovial que a música precisava. João Alexandre dividindo vocais em "Casinha" é maravilhoso de se ouvir. "À Amiga RBN" é basicamente uma vinheta da rádio cantada pelo pessoa.

Curiosidade: Bandas e artistas citados na música "Arca": Banda do Exército da Salvação (igreja e instituição filantrópica que atua em vários países), Edson e Tita Lobo (com quem dividiram palco no início dos anos 1980), Sinal Verde (antiga banda do Carlinhos Félix e Lucas Ribeiro), Ozeias de Paula (mais famoso por "Eram 100 Ovelhas"), Maurão dos Bonecos (um mito esquecido pela mídia gospel infelizmente), Grupo Logos (mais fantástica banda cristã nacional), The Imperials (coral e banda de rock cristã americana que chegaram a acompanhar Elvis Presley por anos), Vitorino Silva, Vencedores por Cristo, Danny Berrios (um dos mais famosos cantores latinos cristãos), Jovens da Verdade, Nicolleti (precursor da jovem guarda cristã), Grupo Sonoros (famoso pela versão de "Há um Doce Espírito Aqui"), Grupo Semente (do também saudoso Sérgio Pimenta, famoso pela música "Teus Altares"), Shirley Carvalhaes (rainha da música cristã pentecostal), B.J. Thomas (sim, um mito do rock mundial que também cantou clássicos para Deus), Don Stoll & Asaph Borba, Feliciano Amaral (o precursor dos singles cristãos brasileiros, saudoso conterrâneo), Grupo Actos (que não é o Actos 2 e sim um grupo de MPB cristão que faziam parte a dupla Cintia & Silvia), Edison e Telma Coelho (casal que trouxe letras muito mais poéticas e brasileiras ao nosso cancioneiro cristão), Som Maior (coral e banda de rock formada por integrantes do Coral Jovem de São Paulo e da Banda Êxodus, famosa por versões de "Tu és Fiel", "Galhos Secos", "Deus tem um Plano" e a fantástica "Ele é a Razão"), Comunidade S8 (uma das voltadas pro trabalho com hippies e com muito rock progressivo), Andrae Crouch (saudoso cantor de R&B cristão, que dentre outras nos legou a faixa "My Tribute", aqui regravada em português por dentre outros Luiz de Carvalho, Cristina Mel e Renascer Praise), Denise Cardoso (uma das que começou mais jovens na carreira musical cristã), Os Cantores de Cristo e o Paulo César Graça e Paz.


Semeador (1986)

01 - Semeador
02 - Pastor da Minh'Alma
03 - Viajar (cover dos Vencedores por Cristo)
04 - Disse Jesus
05 - A Flor do Campo
06 - Vinde às Águas
07 - Não Julgueis
08 - Mar de Amor
09 - Paz do Senhor
10 - Seu Melhor Amigo



Primeiro disco cristão lançado pela PolyGram do Brasil, e também o primeiro da banda sem o fundador Janires como cantor e compositor, a banda seguiu com uma formação mais enxuta e a mais estável por anos: Carlinhos Félix como novo líder, nos vocais principais na maioria das músicas, além de tocar guitarra e violão, Paulinho Marotta no baixo e vocal de "Semeador", "Viajar" e "Não Julgueis", Pedro Braconnot nos teclados e sintetizadores, além de pela primeira vez nos vocais principais em "A Flor do Campo" e "Mar de Amor", e o baterista Fernando Augusto "Tutuca" também fazendo voz de apoio. O disco segue uma sonoridade mais pop/rock, power pop e AOR, e trouxe pela primeira vez composições de artistas de fora da banda, como "Viajar" de Sérgio Pimenta (Vencedores por Cristo e Grupo Semente) e "A Paz do Senhor" de Lucas Ribeiro (Sinal Verde, que também ajudou em "Vinde as Águas" de Carlinhos Félix e vez por outra apareceria entre os compositores da banda). A partir desse registro a banda alcançou as rádios AM e FM do Brasil e se tornaram a banda protestante mais famosa do país. Sidney Ferreira (bateria) e Natan Brito (voz de apoio), ambos do Banda & Voz, deram uma ajuda genial nesse disco, o que tornou-se fundamental pra qualidade genial desse belo trabalho. O sucesso do Rebanhão na Polygram levou a também secular gravadora Califórnia (já especialista em lançar artistas cristãos a muitos anos) a investir na banda Sinal de Alerta, que era meio que uma Monkees ante os Beatles na época em que ambas surgiram, mas tal qual os Monkees, a Sinal de Alerta logo teria sua própria identidade, sem ser uma versão clone do Rebanhão.

Curiosidade: Pedro Braconnot acabou ganhando uma premiação curiosa nessa época: a de músico brasileiro mais bonito, vencendo até mesmo galãs já consagrados como Fábio Jr. e Maurício Mattar.


Novo Dia (1988)

01 - Jesus é Amor (Jesus is Love)
02 - Firme os Pés
03 - Você Precisa de Deus
04 - Entre Eu e Você
05 - Contemplar
06 - Novo Dia
07 - Razão
08 - Primeiro Amor
09 - Nada Mais a Temer
10 - N'Ele Você Pode Confiar (Conheci um Grande Amigo)



Muito mais ligado ao pop que o disco anterior, é um verdadeiro clássico do rock cristão nacional, e foi considerado o 30º mais importante disco da música cristã nacional pela Super Gospel. Traz pela primeira (e única) vez na história da banda uma versão de uma canção americana, "Jesus é Amor", que ganhou um lindíssimo videoclipe. A música original é do grupo The Commodores, composta pelo famoso cantor de R&B Lionel Richie.

A liderança de Carlinhos Félix continua notória nesse disco, com a maioria das faixas cantadas por ele, mas Pedro Braconnot começa a despontar com seus vocais nas faixas "Contemplar", "Razão" e "Nada Mais a Temer". Paulinho dessa vez canta somente em "Entre Eu e Você", e assim suas participações em vocais principais passariam a ser bem mais bissextas. A pegada sonora resgata alguns elementos do rock mais tradicional e progressivo, dando uma pegada mais art rock pro disco. Várias canções do disco tornaram-se sucessos impressionantes, sendo vez por outra resgatadas pelo próprio Rebanhão ou pelo Carlinhos Félix em carreira solo, mas as mais notáveis são "Primeiro Amor" e "N'Ele Você Pode Confiar", que viraram parte do cancioneiro de várias igrejas, além de serem regravadas por diversos artistas, como Aline Barros, MILAD (a versão deles de "N'ele Você pode Confiar" saiu com o nome "Conheci um Grande Amigo" e com letra extendida), Damares, Marco Aurélio, Alex Gonzaga, Paulo Cézar Baruk e Soraya Moraes, dentre outros.

Curiosidade: O manto preto segurado por Pedro Braconnot na foto de capa e na de contracapa representa Janires, que morrera naquele mesmo ano de 1988, como uma homenagem ao líder eterno da banda.


Grandes Momentos (1989/1994)

01 - Primeiro Amor
02 - Novo Dia
03 - Nele Você Pode Confiar
04 - Vinde às Águas
05 - Jesus é Amor (Jesus is Love)
06 - Você Precisa de Deus
07 - Semeador
08 - Pastor da Minh'Alma





Parte integrante do projeto "Grandes Momentos" da gravadora Continental/Warner, que diversos artistas cristãos inclusive dariam as caras, como Álvaro Tito, Edison e Telma, Marina de Oliveira, Grupo Logos, Ozeias de Paula, dentre outros; foi originalmente lançado em LP e anos mais tarde em CD. Traz um apanhado de canções dos dois álbuns da Polygram, a fase mais pop/rock da banda. Curiosamente nenhuma faixa com Pedro Braconnot nos vocais principais aparece, e somente "Semeador" com Paulinho nos vocais aparece. Todas outras prevalecem a voz e a liderança de Carlinhos Félix àquela época. Tirando essas questões todas, é uma coletânea fantástica, e foi meu primeiro contato com essa fase da banda.

Curiosidade: A foto de capa, que já havia aparecido na contracapa de "Semeador", mostra Paulinho e Pedro com as camisetas semiabertas, numa alusão à censura sofrida anos antes pelo "peito cabeludo" do líder original da banda, Janires, no disco "Mais Doce que o Mel".


Princípio (1990)

01 - Princípio
02 - Fronteiras
03 - Palácios
04 - Muro de Pedra
05 - Metrô
06 - Grito de Silêncio
07 - Má Sensação
08 - Ele te Ouve
09 - Arsenal
10 - Selo do Perdão


Primeiro CD de música cristã lançado no Brasil (também saiu em LP - possuo essa versão - e em K7 Cromo), e também o disco de estreia da gravadora Gospel Records, foi eleito pelo Super Gospel o décimo maior disco de música cristã brasileira e posteriormente o maior disco cristão da década de 1990. Uma capa absurdamente linda, sem dúvidas a melhor da história da banda na minha opinião. Nesse disco eles seguiram no estilo mais art rock, com o baixo de Paulinho Marotta reinando em várias faixas e variações e fusões de estilo impressionantes. Várias faixas merecem destaque, mas o mais legal é ver uma evolução impressionante nas letras. "Fronteiras",  "Princípio", "Muro de Pedra" e "Arsenal" trazem uma crítica social bem relevante contra a desigualdade social, a destruição da fauna e flora e até uma cutucada na ideologia comunista que estava desabando junto com o muro de pedra de Berlim, ao passo que "Metrô" (e seu sax fantástico - cortesia de Paulinho Trompete, que junto com Zé Carlos, fez os metais desse disco) traz uma imagem do cotidiano de muitos, uma poesia pura. Mas o maior destaque indubitavelmente vai para "Palácios". A letra de Pedro, feita em 1987, demorou anos pra sair, possuíndo uma letra bem crítica e forte, e tornando-se a canção mais regravada da banda, tendo dentre outros que já a executaram Carlinhos Félix, Paulinho Makuko, Promises, Fernanda Brum e Paulo Cezar Baruk. Curiosamente não ganhou videoclipe, diferente das mais diretamente cristãs Ele te Ouve e Selo do Perdão (essa última o videoclipe foi na época da cruzada de Billy Graham pelo Brasil, e foi usada pelo saudoso pastor e evangelista estadunidense). Foi o último disco com Tutuca na bateria infelizmente.


Pé na Estrada (1991)

01 - Pé na Estrada
02 - Ovelha Ferida
03 - Existe um Lugar
04 - Fé
05 - "Salvador"
06 - Tempo pra Tudo
07 - Criação
08 - Pedaço do Céu
09 - Elo Perdido
10 - Nzile Nzulu (O Caminho do Céu)



O reggae da faixa-título de abertura já dá os primeiros passos do que esperar desse disco do Rebanhão: muita fusão sonora. Sexto álbum de estúdio da banda, e curiosamente, diferente do álbum anterior, só lançado em LP e não em CD (até hoje esse, Semeador e Novo Dia são os únicos da discografia que jamais saíram em CD). O progressivo aparece em "Fé" (música anteriormente cedida pelo Pedro Braconnot para o cantor Irakitan, conferir posteriormente num post daqui do blog sobre músicos cristãos de outros ritmos que tocaram rock), "Criação" - e o assovio fantástico e inesquecível, além de mais uma crítica à destruição da natureza - e "Elo Perdido", com uma das letras mais insanas da história. A curta "Salvador" tem elementos de música nordestina, relembrando músicas como Baião e Jesus Meu Refúgio, lembrando muito também artistas como Alceu Valença, Belchior, Geraldo Azevedo, Zé Ramalho e Fagner. "Tempo pra Tudo", com sua pegada funk, ainda tem um rap de sobra que Carlinhos faz no meio da música, e pra terminar uma bateria que é puro samba, cortesia de Serginho Batera. O sax do mestre Zé Canuto em "Pedaço do Céu" é um achado fora de série. A faixa de fechamento do disco, "Nzile Nzulu", é uma versão em homenagem aos irmãos do norte de Angola que falam no dialeto fiote, por isso é cantado nesse idioma pelo cantor Eduardo Mabiala:

Nzile nzulu itunkuendila batata (bamama)(4x)(O caminho do céu por onde iremos, Senhores. (Senhoras))
Eh nzile nzulu! Itunkuendila! (É o caminho do céu, por onde iremos)
Eh itunkuendila batata (Por onde iremos, Senhores)
Jesus Cristo é o caminho e a verdade (4x)
O aleluia Ele é o Salvador
É Jesus Cristo o nosso Senhor.

A capa desse disco é de longe a mais elaborada, com detalhes dos mapas dos estados de Rio de Janeiro e São Paulo (Estados em que a banda foi sediada ao longo dos anos), bem como de outras partes da região Sudeste do Brasil. Infelizmente é o último disco com Carlinhos Félix (que seguiria carreira solo) e Paulinho Marotta (que saiu por problemas de ordem pessoal). Ambos só voltariam quando a banda completou seus 35 anos e voltou a ativa.


Enquanto é Dia (1993)

01 - Me Leva Pra Casa
02 - Como as Ondas do Mar
03 - Enquanto é Dia
04 - Janela do Céu
05 - Comando de Crito
06 - Velho Amigo
07 - Baião 1993
08 - Mistério
09 - Luz de um Campeão



Primeiro disco da banda só com Pedro da formação clássica, ele reformulou toda a banda, adicionando o fantástico guitarrista Pablo Chies, o baixista Rogério Dy Castro e o baterista Wagner Carvalho (que já havia participado quando criança do disco Janires e Amigos). Além desses, teve a participação de diversos artistas, como o irmão de Wagner, Waldenir Carvalho, o saxofonista Zé Canuto, os grupos Ruama e Semeador e o mais importante, Dico Parente, que cantou em algumas faixas, com uma voz forte e aguda, trazendo elementos do hard rock para esse disco (em especial nas faixas "Mistério" e "Luz de um Campeão"), mas também em "Como as Ondas do Mar", trazendo a tona os caminhos que a banda tomaria nos próximos trabalhos. "Baião" ganhou uma nova versão em homenagem ao Janires (com um trecho da versão original como vinheta de abertura). A simplicidade desse último trabalho pela Gospel Records (exceto pela coletânea lançada posteriormente pela gravadora) não impediu que ele recebesse a 98ª posição dos 100 maiores discos de música cristã pelo portal Super Gospel.

A versão em CD vinha com quatro faixas bônus de Pé na Estrada: Pé na Estrada (cantada pelo Paulinho Marotta), Ovelha Ferida, Fé e Elo Perdido. Curiosamente nenhuma cantada pelo Carlinhos Félix. Problemas com o contrato dele na época pela MK Publicitá ou simples falta de espaço mesmo? Talvez nunca saberemos hahahaahah. Curiosamente, embora já tivesse fora da banda a quase dois anos após o lançamento desse disco, Carlinhos lançaria uma versão de "Comando de Cristo" em um de seus trabalhos solo.


Por Cima dos Montes (1996)

01 - Sempre estar contigo
02 - Louvor
03 - Eu Voltarei
04 - Por Cima dos Montes
05 - Noiva
06 - Salmo 147
07 - Crazy for Jesus
08 - Salas de Jantar/Contemplar
09 - Ligado na Videira
10 - Razão (1996)
11 - Flor do Campo



Capa do relançamento de 2002

Mesma formação do álbum anterior, mas a sonoridade nesse aqui ficou bem mais pop e até mais worship. É um disco agradável, um dos últimos discos brasileiros a sair em vinil (pelo menos até o retorno dessa mídia em meados dos 2000) e com uma bela capa. Mas em questão de novidade o disco não traz nada demais. Apesar da divulgação da Continental/Warner, o disco não tinha nada de relevante, e acabou bem apagado em vendas e em lembrança por parte de muitos fãs clássicos da banda. A quantidade enorme de regravações (Razão, Flor do Campo - numa versão mais louvor - e o novo medley Salas de Jantar/Contemplar - a primeira com uma alteração sutil, ao invés de "Mas como já ensinava o velho profeta" diz "mas como já ensinava o velho JANIRES" em mais uma homenagem ao velho líder) também contribuiu pra essa pouca relevância do disco. Mas rendeu bons momentos, como "Por Cima dos Montes", "Crazy for Jesus" (que virou uma frase bastante comum na época e até um logo alternativo da banda - vide abaixo) e "Ligado na Videira". Uma curiosidade é que é o único disco da banda com um só intérprete: Pedro Braconnot.

A versão original de 1996 saiu com um erro na ordem das faixas, situação corrigida com um relançamento em 2002, com nova capa.



O Melhor do Rebanhão (1998)

01 - Existe um Lugar
02 - Palácios
03 - Muro de Pedra
04 - Fronteiras
05 - Pé na Estrada
06 - Metrô
07 - Criação
08 - Nzile Nzulu
09 - Ovelha Ferida
10 - Selo do Perdão
11 - Princípio
12 - Arsenal
13 - Baião
14 - Mistério
15 - Comando de Cristo
16 - Elo Perdido
17 - Fé

Coletânea com algumas das melhores faixas da fase da banda na Gospel Records ("Princípio", "Pé na Estrada" e "Enquanto é Dia"). Curiosamente poucas faixas do último disco, e uma prevalência quase absoluta dos dois primeiros. Eu trocaria fácil Nzilu Nzulu por "Enquanto é Dia". A escolha das faixas foi feita por Paulinho Makuko (Katsbarnea, Renascer Praise), que a época era produtor musical da gravadora, e sinceramente faltou esse bom senso por parte dele, já que a faixa-título do terceiro disco fazia um sucesso impressionante até àquela época (em 1999 ainda tocava direto na rádio Manchete Gospel FM), ao passo que Nzile Nzulu parecia mais um "Obladi Obladá" dos Beatles, apesar da boa intenção, passa longe de ser uma das mais memoráveis canções. "Má Sensação", "Ele te Ouve" e "'Salvador'" também mereciam bem mais que essa aí. Mas ok né, é uma baita compilação, as outras faixas são ótimas seleções e foram meu primeiro grande contato com a clássica banda.

Curiosidade: O nome do Paulinho Marotta aparece creditado errado em "Pé na Estrada", como "Paulo Muratto". Já "Ovelha Ferida" aparece com dois nomes: o correto na contracapa e "Ovelha Perdida" na parte de trás do folheto.



Vamos Viver o Amor (1999)

01 - Vamos Viver o Amor
02 - Josué
03 - Ele é Luz
04 - Meu Maior Desejo
05 - Fronteiras 1999
06 - Por Isso Vem
07 - Mais que Amigo
08 - Nós te Adoramos
09 - Unção
10 - Brasil



A melancólica despedida da banda mais clássica e que ajudou a desenvolver a música cristã contemporânea brasileira e trazer novidades não só musicalmente como liricamente me parece similar ao que ocorreu com outra precussora, essa lá dos EUA: Petra. Nos últimos anos ambas, com formações cada vez mais descaracterizadas e aparentemente em busca de manterem-se dentro das sonoridades da época, em que no caso da banda Petra estava tomada por bandas mais de rock alternativo e pop congregacional e no caso do Rebanhão já enfrentava a concorrência cada vez maior dos grupos worshipes e praises inspirados pelo Hillsong e os primórdios do chamado "louvor jovem", com grupos como Filhos do Homem, Fernandinho, David M. Quilian e outros, acabaram cedendo lentamente às pressões de seus mercados e foram amaciando o som pra algo mais comercial, com letras mais diretas e com pouca poética ou metáforas, pouquíssima crítica, enfim, uma queda considerável de relevância na busca de ser mais um dentro do que todos faziam.

Essa última formação da banda foi toda modificada, a exceção do quase onipresente Pedro Braconnot. Israel Maxmiliano fez as guitarras e cantou em algumas músicas, inclusive na mais relevante do disco, "Mais que Amigo", a única que eu realmente tenho lembranças da época (tocava um bocado nas rádios e eu amava ouvir quando criança essa) e ainda tinha influências de black music, algo novo na banda; e na faixa título, que ganhou até clipe. De resto são louvores bem simples, que poderiam ser tocados facilmente em qualquer louvorzão de igreja, algo bem parecido com o que houve com sua irmã mais nova, a Banda Azul, quando começaram a investir na série "Louvor, Louvores, Louvorzão". A única exceção é "Fronteiras", regravação que ficou bem mais suave que a original de 1990. A relevância desse disco é tão pequena que é difícil ele ser lembrado por fãs ocasionais da banda, que com certeza não lembrarão do canto profético de "Brasil", a faixa final do disco, e a que calou a voz da banda (e de certo modo o movimento gospel morreu com eles) por longos 15 anos...


35 (2017)

OBS: Tracklist do DVD, a diferença pro CD é a não-inclusão de "Primeiro Amor".
01 - Princípio
02 - Arsenal
03 - Muro de Pedra
04 - Pé na Estrada
05 - Fronteiras
06 - Selo do Perdão
07 - Pastor da Minh'Alma
08 - Casinha
09 - Hoje Sou Feliz
10 - Metrô
11 - Comando de Cristo
12 - Velho Amigo
13 - Refúgio
14 - Palácios
15 - Razão
16 - Primeiro Amor
17 - Baião

Por anos a banda ficou separada e não faltaram fãs implorando um retorno. Em 2004 Carlinhos Félix recebeu uma homenagem do Troféu Talento e nessa Pedro Braconnot e Paulinho Marotta foram convidados a participarem. Assim nasceu o desejo do retorno, só consumado em 2014 e aí começaria a luta para gravarem o show de 35 anos, conquistado enfim em 05/11/2016 na ADVEC do Rio de Janeiro e lançado quase um ano depois. Chega a ser emocionante demais ouvir clássicos da banda e ver eles tocando juntos e mostrando que o tempo é incapaz de tirar a relevância de canções das fases diversas que a banda passou, de "Mais Doce que o Mel" até "Enquanto é Dia". O trio principal, junto com o grande guitarrista Pablo Chies Tavares de Souza (melhor músico disparado da fase mais "worship" da banda) e o batera Bruno Martins, fazem releituras fantásticas de suas canções. "Velho Amigo" ganhou um videoclipe de estúdio com uma regravação da música só pra dar o gostinho do que vinha e veio realmente um clássico. Bom demais mesmo. Isso é um revival que agradeço a Deus poder ter vivido pra ouvir e ver.

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Rebanhão participou de algumas coletâneas, logo mais na seção delas será possível avaliar.

Pedro Braconnot produziu diversos discos ao longo dos anos, além de junto a sua esposa Anya ter participado de uma edição da coletânea romântica "Amo Você" da MK Publicitá.

Janires recebeu um disco de Tributo fantástico, que pode ser avaliado logo mais na seção de tributos.



Ver também:

Sinal Verde
Banda Azul
Carlinhos Félix
Lucas Ribeiro

Um comentário:

  1. Excelente matéria, Johnny! Em relação à comparação que você fez do final do Rebanhão e Petra, o único ponto que, para mim, é diferente seria a qualidade dos álbuns de encerramento de carreira: "Jekyll and Hyde" é imensamente superior ao "Vamos Viver o Amor".

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