sábado, 8 de fevereiro de 2020

Steve Taylor (e Chagall Guevara, Perfect Coil...)




Roland Stephen Taylor (09/12/1957, Brawley, California) é um verdadeiro ícone dentro do cristianismo. Cantor, compositor, produtor musical, dono de gravadora (Squint Records), ator, diretor de cinema e muito mais. Sua influência no mundo cristão pode ser visto nele ter por exemplo revelado artistas como Sixpence None the Richer, Chevelle e Burlap to Cashmere, escrito músicas para artistas como o Newsboys, feito filmes como o icônico "A Segunda Chance", dentre outros. Porém ele mesmo agiu bem como cantor, em especial na década de 1980, com um estilo alternativo/new wave/post-punk fantástico, e letras extremamente polêmicas e reflexivas que desafiavam muito a galera cristã. Nos anos 1990 ele liderou o Chagall Guevara (união curiosa de nomes), um grupo para tentar atingir o público mainstream e que não foi muito longe, apesar das boas ideias. No final da década de 2010 ele voltou ao mundo da música com a banda The Perfect Foil.


I Want to Be a Clone! (EP, 1983)

01 - Steeplechase
02 - I Want to Be a Clone
03 - Whatever Happened to Sin?
04 - Written Guarantee
05 - Bad Rap (Who You Tryinʼ To Kid, Kid?)
06 -
Whatcha Gonna Do When Your Numberʼs Up?






Produção fantástica e já começando a polêmica sem dó nem piedade, com letras batendo de frente com o materialismo, a "teologia" da prosperidade, o egoísmo e a "clonagem visual doutrinária" (o famoso "uniforme de crente" que muita igreja ainda se passa pra fazer e obrigar os irmãos a seguirem). Apesar de pequeno, é um disco fortíssimo já de cara, vale muito a ouvida. Musicalmente tem tudo que a new wave poderia oferecer naqueles tempos: músicas com muito teclado, um reggae maroto em Written Guarantee (e o sax de Dave Thrush mandando ver) e um rap maroto em "Bad Rap".

Meltdown (1984)

01 - Meltdown (at Madame Tussard's)
02 - We Don't Need No Colour Code
03 - Am I Sync?
04 - Meat the Press
05 - Over my Dead Body
06 - Sin for a Season
07 -
Guilty by Association08 - Hero
09 - Jeanny
10 - Baby Doe

OBS: Algumas versões posteriores vem com uma leve diferença na tracklist, com a inclusão do EP Meltdown Remixes.

A metralhadora da música cristã está aqui com novos alvos! "We Don't Need no Colour Code" denunciando organizações ditas cristãs dos EUA que praticavam descaradamente preconceito racial, em especial a Universidade Bob Jones (usando influências musicais do precursor do rock Bo Diddley). O trocadilho do título com o maior museu de cera do mundo, o Madame Tussards, nos EUA, com as pessoas que vivem como "manequins ambulantes", e a necessidade de derreter essa cera, essa capa de falsidade que muitas vezes impomos em nós. "Am I Sync?" e seus vocais de Speak & Spell (brinquedo mais famoso no Texas, EUA, onde surgiu, onde ele diz algumas palavras e a criança precisa digitar corretamente) como um trocadilho com pessoas que vivem como se tivessem num videogame; Guilty by Association trazendo a crítica pros tele-evangelistas que faziam fortunas explorando o nome de Cristo (algo que vemos até hoje por aqui, não?); Over my Dead Body é um alerta aos muitos casos de exploração de pessoas e de direitos humanos que ocorrem mundo afora. A mais complicada música nesse meio foi Baby Doe, sobre o tratamento dado a crianças que nasciam com severos problemas de saúde e alguns apregoavam que poderiam até ser evitados não fosse a negligência de muitos médicos (gerou inclusive uma lei para proteger essas crianças nos EUA), mas ao direcionar a sua crítica a advogados que eram comprados e da sociedade negligente, o Steve confessaria mais tarde que ele também tinha sua porção de culpa e que criticar apenas nesse caso específico não levava a nada.

Musicalmente segue os passos do antecessor de perto, sem grandes evoluções, exceto por Am I Sync?, um som altamente criativo e genial, com uma pegada mais eletrônica. De resto, new wave pura e direta ao ponto.


Meltdown Remixes (EP, 1984)
Três versões diferentes da faixa "Meltdown"
(uma extendida remix, uma instrumental e uma editada)


On the Fritz (1985)

01 - This Disco (Used to Be a Cute Cathedral)
02 - On the Fritz
03 - It's a Personal Thing
04 - To Forgive
05 - You've Been Bought
06 - You Don't Owe Me Nothing
07 - I Manipulate
08 - Lifeboat
09 - Drive, He Said
10 - I Just Wanna Know


Como um cara que não parava nunca, Steve seguia com sua "metralhadora" e sua mira bem afiada. "This Disco" falando de igrejas que estavam sendo abandonadas pra virarem danceterias e boates (nessa música indo diretamente pra Episcopal Church of the Holy Communion, que em 1983 tinha sido vendida pra virar a discoteca Limelight). Curiosamente essa é uma das muitas músicas criticadas tolamente pelo site "Dial-the-Truth Ministries", que curiosamente deveria é ver que essa música tá do lado deles, tá do NOSSO LADO! Incrivelmente, esse fenômeno de transformação de igrejas históricas em boates continua ocorrendo até hoje, e cada vez mais cruel essa situação (até nas HQs de Superman uma vez um arco de histórias dele mostrava uma igreja que virara uma boate comandada pela demônia Blaze - tá, é ficção, mas em parte é a realidade também!). "To Forgive" cita um caso bem famoso nos anos 1980, ocorrido em 13 de maio de 1981 na Catedral de São Pedro, no Vaticano, quando o então Papa João Paulo II sofreu um atentado pelas mãos do turco Mehmet Ali Agca. Ao que sabemos, o Papa foi posteriormente à prisão onde Mehmet se encontrava e após uma conversa velada, o perdoou pelo crime (inclusive quando João Paulo II faleceu muitos anos depois, Mehmet chegou a expressar seu pesar, mostrando-se de fato arrependido pelo seu crime horrendo). Musicalmente o disco funde influências da new wave, AOR e até uma pegada meio latina em "You Don't Owe...". I Manupulate contou ainda com uma Linn Drum 9000, uma bateria programada tocada pelo próprio Steve Taylor.

Steve Taylor & Sheila Walsh - Trans-atlantic Remixes (1985)
Single compartilhado entre dois representantes da new wave cristã



Steve Taylor & Some Band - Limelight (ao vivo, 1986)

01 - This Disco (Used to be a Cute Cathedral)
02 - I Want to Be a Clone
03 - You Don't Owe Me Nothing
04 - On the Fritz
05 - We Don't Need No Colour Code
06 - Whatever Happened to Sin?
07 - Meltdown at the Madame Tussards
08 - Not Gonna Fall Away (feat. Sheila Walsh)



Apesar do nome sugerir ter sido gravado no Limelight (o que seria uma ironia irada do universo kkkk), na verdade foi gravado no Greenbelt Festival 1985 na Inglaterra. Não é difícil achar no Youtube o filme dessa apresentação. Uma mostra da genialidade (e piração também kkkk) do Steve. "Some Band" que é curioso ("Alguma Banda"), não faço muita ideia de quem sejam, mas acredito ser a formação que gravou com ele o disco On The Fritz naquele ano. O dueto com Sheila Walsh ficou show.


I Predict 1990 (1987)

01 - I Blew Up the Clinic Real Good
02 - What is the Measure of Your Sucess?
03 - Since I Gave Up Hope I Feel A Lot Better
04 - Babylon
05 - Jim Morrison's Grave
06 - Svengali
07 - Jung and the Restless
08 - Innocence Lost
09 - A Principled Man

10 - Harder to Believe Than Not To


Hora da TRETA! A começar pela capa fantástica, feita pela esposa de Steve (Debi), inspirada em uma pintura modernista francesa, mas que umas "carinhas de anjo" enxergaram ser uma "carta de tarô" e que Steve estaria fazendo uma "saudação satânica", que tinha imagens com mensagens subliminares na capa, blá blá blá só bobagem. Pior que o disco acabou proibido de ser vendido em muitas lojas ditas cristãs nos EUA devido acusações de "grandes pregadores" aí afora. Paciência né. O título do disco também causou essa impressão pra uns babacas, que associaram logo ao tarô e adivinhação (mas na verdade era uma paródia com um programa de um tele-evangelista - vejam só kkkk - chamado Lester Sumrall chamado "I Predict 1986"). Mais uma treta no disco: a música "I Blew Up...", uma crítica a uns grupos "pró-vida anti-aborto" americanos que diziam estar fazendo a vontade de Deus ao EXPLODIR CLÍNICAS DE ABORTO E MATAR MÉDICOS QUE ABORTAVAM CRIANÇAS, acabou por aumentar as críticas ao artista. Você imaginaria hoje em dia um cantor cristão ter de ir de loja em loja explicar o conteúdo do seu disco pra talvez ser vendido lá? Pois bem, Steve fez isso! A parte australiana da turnê do disco foi toda cancelada por conta de toda essa polêmica. Tsc tsc tsc... a ignorância... como diria a Trino "a religião se torna ópio quando nega a informação".

Musicalmente esse é o disco mais eletrônico da carreira do Steve, com uma sonoridade bem marcada por teclados e baterias programadas. Svengali é a que leva isso mais a sério, ainda inserindo elementos de música africana no meio. Em algumas faixas, como o finalzinho de "Jim Morrison..." e a intro de "Harder to Believe..." ele usou uns trechos de peças musicais clássicas (Claude Debussy e Sergei Rachmaninoff respectivamente).

The Lost Demos (1988, não sei a natureza desse lançamento)

01 - I Want to Be a Clone
02 - Written Guarantee
03 - Steeplechase
04 - Hero
05 - Sin for a Season
06 - Bad Rap
07 - Whatcha Gonna Do When Your Numberʼs Up?
08 - Guilt by Association
09 - Bouquet
10 - Whatever Happened to Sin?
11 - Jenny
12 - Lead Me


Demos de músicas usadas em discos do Steve, com duas inéditas até então, Bouquet e Lead Me. Nada muito excepcional aqui, mas um material bom para colecionadores de raridades.


The Best We Could Find (+ 3 That Never Escaped) (coletânea, 1988)
Resumo perfeito da carreira de Steve até então. Conta com as inéditas Bouquet, Under the Blood e Down Under


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Devido às críticas pesadas e oposição ao seu trabalho na cena cristã, Steve, desiludido, montou a banda Chagall Guevara, se lançando na carreira secular, só voltando aos discos cristãos um bocadinho de tempo depois.





Chagall Guevara Demo (demotape, 1989)

01 - Murder in the Big House
02 - Tale O' the Twister
03 - Escher' World


Chagall Guevara foi formada por Taylor, com os guitarras Dave Perkins e Lynn Nichols (o último ex-guitarrista da Phil Keaggy Band), o baterista Mike Mead e o baixista Tim Chandler (Daniel Amos), esse último seria substituído por Rick Cua, que ainda chegou a gravar, mas foi substituído em definitivo por Wade James. O nome é uma referência ao revolucionário Che Guevara e ao pintor Marc Chagall, num trocadilho com "Arte Revolucionária". Apesar de geral da banda ter carreiras cristãs, a banda em si não era um projeto cristão e sim visava atingir o mercado secular mesmo. Essa demo trouxe a gravação "Tale O' the Twister", gravada com Rick Cua ainda, foi parar na trilha sonora do filme comédia "Um Som Diferente" (Pump Up the Volume) de 1990 com Christian Slater e uma trilha sonora insana com as seculares Pixies, Bad Brains, Soundgarden, Sonic Youth e várias outras).




Chagall Guevara (1991)

01 - Murder in the Big House
02 - Escher's World
03 - Play God
04 - Monkey Grinder
05 - Can't You Feel the Chains?
06 - Violent Blue
07 - Love is a Dead Language
08 - Take me Back to the Love Canal
09 - Still Know the Number by Hear
10 - Candy Guru
11 - I Need Somebody
12 - Tale O' the Twister
13 - The Rub of Love
14 - If It All Comes True

Alternative Rock e Post-Punk de primeira qualidade. Letras interessantíssimas. Infelizmente não obteve o sucesso almeijado. Chegaram a emplacar um clipe na MTV Americana pra Violent Blue, mas acabou não passando muito disso. O funk de "Play God" é a melhor coisa desse disco, juntamente com a música falando do trabalho insano do artista holandês M. C. Escher.

Não sendo um grande sucesso, apesar disso conseguiram tocar em alguns eventos (inclusive cristãos, como o Greenbelt de 1991) e na coletânea-tributo Strong Hand of Love (1994) em homenagem ao recém-falecido músico cristão Mark Heard.

Haviam planos de um disco ao vivo, gravado num show, mas nunca rolou, como é possível ver nesse cartaz:



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Squint (1993)

01 - The Lament of Desmond R.G. Underwood-Friederick IV
02 - Bannerman
03 - Smug
04 - Jesus is for Losers
05 - The Finish Line
06 - The Moshing Floor
07 - Easy Listening
08 - Curses
09 - Sock Heaven
10 - Cash Cow (A Rock Opera in Three Small Acts)

Depois de um tempo dedicado ao Chagall Guevara e relativamente distante da cena cristã, Steve Taylor estava de volta, mas sem perder seu velho estilo. AOR, New Wave e rock alternativo (esse último bem mais presente aqui, muito porque os dois anteriores estavam meio "fora de moda" nos anos 1990), e letras bem pensadas, como a fantástica "Jesus is for Losers" e "Sock Heaven" (essa última tornou-se o nome do site responsável por manter a obra do artista). Squint ("estrabismo" em inglês) também se tornaria o nome da gravadora que Steve organizaria nos anos 1990, pouco depois desse disco. Coerente, vale a pena ser ouvido e curtido por todos. Não a toa ainda em seu lançamento o disco chegou a ser o 17º disco mais vendido na Billboard Contemporary Christian Music. Sem dúvidas a mais insana música de Steve é "Cash Cow", um rock opera bem pequeno, mas diferente de tudo que Steve já tinha feito antes.


Lament... (promo, 1993)
Contém alguns materiais curiosos, inclusive comentários sobre as músicas do disco Squint.
(e sim, eu amei a capa do Pernalonga kkkkkkkk)


Now the Truth Can Be Told (1994)
Coletânea com os maiores sucessos de Steve, mais três sucessos da Chagall Guevara
e mais uma canção de natal e duas demos que "eu esqueci de apagar", segundo Steve kkkk

Três VHS foram lançadas pelo artista com alguns clipes, comentários, etc.

Em 1994 foi lançado "I Predict a Clone: A Steve Taylor Tribute", com vários artistas coverizando o genial Steve Taylor. Um dia entrarei em detalhes na seção Tributos.


Liver (1995)

01 - Jim Morrison's Grave
02 - The Lament of...
03 - I Want to Be a Clone
04 - Escher's World
05 - On The Fritz
06 - Bannerman
07 - Hero
08 - Jesus is for Losers
09 - The Finish Line
10 - Violent Blue


Álbum de despedida de Steve por anos a fio. Pra quem duvida da energia de um cantor solo de new wave ao vivo, saca esse disco. A versão de "I Want to Be a Clone" aqui é absurdamente rápida, quase um punk de verdade, bem na linha das canções mais rápidas do Elvis Costello como "Radio Radio". Legal que ele incluiu nesse show músicas como Escher's World e Violent Blue, da sua fase com o Chagall Guevara.

Houve vários shows bootleg, dá pra conhecer alguns no site do Taylor. Alguns Torrents também podem ser baixados lá, não só do Steve, como da Mortal, de sua fase original Mortal Wish e também da Fold Zandura.


Loose Ends (Compilação, nunca oficialmente lançado, 2000)

01 ao 08 - Disco Limelight completo
09 - Nero (1985)
10 - Not Gonna Fall Away (remix) (1985)
11 - Winter Wonderland (1988)
12 - Svengali (remix) (1989)
13 - The Moshing Floor (live) (1994)
14 - Shortstop (2000)
15 - Chagall Guevara - Tale O' The Twister (1990)
16 - Chagall Guevara - Still Know Your Number By Heart (1992)
17 - Chagall Guevara - Treasure of the Broken Land (1994)

Raridades e canções nunca lançadas de Steve, como "Nero" e "Treasure of the Broken Land".

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Steve Taylor & Perfect Foil - Goliath (2014)

01 - Only a Ride
02 - Double Negative
03 - Goliath
04 - Moonshot
05 - Rubberneck
06 - The Sympathy
07 - Standing in Line
08 - In Layers
09 - Happy Go Lazy
10 - A Life Preserved
11 - Comedian




O David Byrne da música cristã está de volta! Depois de anos nos bastidores da música com composições e produções, além de cuidar da carreira de ator e diretor (incluíndo aí o filme "Down Under the Big Top" de 1996 sobre a banda Newsboys), Steve volta e com uma banda! E sim, trazendo um alternative rock com pegadas do post-punk e new wave que o tornaram famoso. O som aqui está muito irado mesmo, clima anos 1980 em plena década de 2010.  A formação da banda mostra o poder de fogo deles, com Peter Furler (Newsboys, Peter Furler Band) na bateria, Jimmy Abegg (Vector, Rich Mullins & A Ragamuffin' Band, Charlie Peacock) na guitarra e John Mark Painter (da dupla-casal Fleming & John) no baixo, além do próprio Steve nos vocais principais e no piano de uma mão só. Ainda conta com participações, como a da Fleming McWilliams (esposa de John Painter) cantando na faixa-título. Difícil não balançar com o som desse disco, um retorno digno.

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Some Other Band? Sim, Steve Taylor & Danielson Foil



Steve Taylor & Danielson Foil - Wow to the Deadness (EP, 2016)

01 - Wow to the Deadness
02 - Wait Up Downstep
03 - The Dust Patrol
04 - Nonchalant
05 - A Muse
06 - Drats



O supergrupo ganhou um novo integrante: Daniel Smith da banda Danielson. Oficialmente é uma contribuição única, mas já gerou até disco ao vivo (!). O som segue o que já vinha sendo feito na versão original do grupo, com letras criativas ao extremo e muito rock alternativo.




Wow to the Liveness (2016)
Disco ao vivo com sucessos do Goliath e do Wow to the Deadness
Gravado ao vivo em Gibbstown, New Jersey







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