sexta-feira, 31 de janeiro de 2020

Rótulos, "clones", imitações e plágios...


Ah, os rótulos! Se há uma coisa ingrata para todo revisionista de música (e acho que na arte em geral) é a necessidade (embora não tão necessária realmente assim) de tachar. De encontrar similitudes entre bandas e artistas, chegando ao extremo em muitos casos de fazer listas do gênero "artista tal é semelhante ou igual a tal". E no mundo cristão é uma parada que me incomoda sobremaneira, essa mania bizarra que alguns têm de querer desesperadamente encontrar uma banda cristã que seja parecida ou idêntica a um grupo não-cristão que ele curte, supostamente com o intuito de "deixar de curtir" (mais uma consequência da hipocrisia do "ouvir música mundana faz mal pra vida espiritual bla bla bla mimimi hurdur texto fora do contexto pretexto pra heresia capítulo 6 versículo 66").

Quando comecei a me especializar no rock cristão, confesso que foi um alento pra mim ver listas como as dos sites Metal for Jesus, Rad Rockers e o saudoso Metal for the King daqui do Brasil mesmo. Foram ótimos guias de comparação de bandas, que de certo modo deu uma ajuda pra identificar um pouco influências musicais de cada uma. Até hoje ainda uso um pouco essas listas, até por uma questão de saudosismo, e porque quer queira quer não são um bom guia - até as usei por um tempo quando era um dos administradores do saudoso fórum CMFreak, quando estávamos tentando fazer uma lista definitiva de bandas cristãs e similares seculares (ou foi no grupo Christian Oldschool do Face? Enfim...). Porém... não te parece algo limitante demais ficar o tempo todo tentando achar a "Dire Straits cristã"? (Aliás, vale a nota, até hoje nunca vi!)

Também nunca vi uma Jethro Tull gospel, uma Genesis cristã, uma Alice in Chains cristã, uma Kiss cristã... então né. Isso significa que a música cristã não é capaz de fazer um som como o dessas bandas? Não exatamente. Apenas Deus dá os dons dele a cada um como Ele quer. Sendo assim, sim, Mark Knopfler, Ian Anderson, Peter Gabriel, Phil Collins, Jerry Cantrell e Gene Simmons, cada um deles têm seus dons musicais por uma dádiva divina (a forma e motivação que usam é problema deles) e não é algo genuinamente adequado para os cristãos insistirem nessa mania de imitar eles ou procurar bandas similares, com medo de se não tiver acabar por continuar a ouvir tais bandas e assim "não vou me converter de verdade" blá blá blá.

Você sabe o quão esse lance de ficar atrás de banda parecida é perniciosa e criadora de rótulos e acusações de "plágio" quando vê o caso do Catedral. É óbvio que a banda se inspirou em, entre outras bandas, no Legião Urbana (e a voz de Kim se assemelhar absurdamente com a do saudoso Renato Russo ajuda nessa conclusão). Mas procurar a banda unicamente por essa particularidade é uma tremenda furada. Aliás foi com pensamentos assim que Ricardo Alexandre, então repórter do finado site Usina do Som em 2001 sabotou deliberadamente (e confessadamente inclusive em seu livro Cheguei Bem a Tempo de Ver o Palco Desabar) uma entrevista com a banda Catedral, no intuito de os rotular de meras cópias do Legião Urbana e também sujar a carreira deles ante o público cristão. Foi também assim que forçaram até o extremo a imagem da banda Yunick como o "Restart gospel" (e em entrevistas a banda jamais endossou esse rótulo, embora obviamente o visual da banda nos primórdios evocasse essa influência da cena happy rock). Até hoje a única banda que conheço que nunca fez questão em negar suas influências claras e até mesmo em se dizer como o "AC/DC cristão" foi a X-Sinner, que dizia isso até no próprio site da banda (e pelo que eu soube por alto, o Rex Scott não curtia nada essa comparação kkkkk). Mas até eles eram bem superiores musicalmente ao AC/DC. Com o passar dos anos e audições passei a repudiar falas como "Barren Cross é o Iron Maiden cristão" ou "Sacred Warrior é o Queensrÿche cristão". E o Bloodgood é o que? Afinal, taí uma banda de metal que nunca vi nenhuma "secular" sequer parecida. O Oficina G3 mudou tanto sua sonoridade ao longo dos anos, seriam o que? O Rebanhão então, quem no secular fazia um som igual ao deles? Vamos descartar talentos assim por não se parecerem com banda nenhuma secular? Ou vamos só continuar procurando a versão cristã do Cradle of Filth?

A verdade é que dá pra entender quando novos convertidos ficam nessa paranoia de procurar uma banda cristã similar ao som da sua banda secular predileta. Mas chega a ser infantil quando um marmanjo velho na fé continua nesse tipo de enumeração por medinho do contato com a "terrível música secular". Enquanto não evoluirmos nesse aspecto, seremos meninos pra sempre, quando já devíamos ser adultos no entendimento e largar as meninices tolas que ainda aprisionam muitos de nós (I Coríntios 13.11).

Soli Deo Glori.

Um comentário:

  1. Você foi até justo com o Catedral
    Catedral é musicalidade, tecnicamente incomparável à tal outra banda
    Kim é um grande cantor com inúmeras vozes e interpretações diferentes
    O repertório também é muito variado
    Longe de ser uma mera cópia
    Aliás, nunca gostei da Lu.
    Lhe entendo sobre o tema
    Mas às vezes é uma questão de comodismo auditivo, sem misticismo

    ResponderExcluir